quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Pou! Pou! Argumentei primeiro! Já morreu! - Sobre quem é agressivo nas redes.

 



 

Vem a minha mente aqueles filmes já manjados onde o policial do bem chuta a porta e dá tiro para todos os lados. Tipo sessão da tarde na TV.  Nem olha. Sabe que todos são inimigos e são abatidos. O policial, geralmente retratado como integrante de algum grupo especial, é altamente letal. É tão bom no que faz que todos morrem menos ele, é claro. Então o bem vence o mal.

 

Ressalto aqui a falsa desnecessidade da especial atenção do atirador. 

 

No imaginário do belicoso personagem para cada tiro um bandido cai. Ele tem certeza absoluta disso.

 

Quando publico meus artigos nas redes, a sensação é similar. Sempre, mas sempre mesmo alguém vai opinar sem ler. O sujeito chuta a porta e entra! Como o policial heroico do primeiro parágrafo. 

 

No caso real não é um policial, mas um opinador aloprado. Ele chega e pou, pou, pou! Atira seus pequenos argumentos contra o artigo sem sequer ter lido. Uma certeza assustadora.

 

Caso eu tente argumentar... pou! Outro tiro. Se eu perguntar se leu: pou, pou! Mais dois tiros.

 

Veja que o atirador já não pode mais parar. Colocou-se em perigo e vai atirar e matar tudo que se mover. Não há como ele voltar atrás. Agora que o sujeito começou, quer ser herói. Vai atirar qualquer argumento seu para qualquer lugar. E caso não acerte nada, ele avança com suas granadas explosivas. Quais são? As ofensas à pessoa, não mais discussão da ideia.

 

O que mais impressiona é que tudo isso ocorre no tempo exíguo dos dedos teclantes. O sujeito que nem leu, sequer se permite entender os contra-argumentos. Dos tiros às explosões de granadas, já acreditou matar tudo que se mexeu. Se fosse no velho oeste americano, eu diria que o opinador (que não lê) quer sempre dar o primeiro tiro. Vencer na velocidade, na violência e na malandragem.

 

Não quer aprender. Quer matar. Quer destruir o autor do artigo. Assustador.

 

O atirador na grande maioria das vezes não vê a si mesmo refletido na tela do seu computador. Talvez por que não leia sequer o que escreve.

 

Não ver a si mesmo pela leitura do que escreve. Não ver o outro pelo artigo que ele escreveu. Essa é a questão tão óbvia!  Como pode um atirador tão corajoso e agressivo atirar sem ver a si mesmo nem ver os alvos?

 

A superficialidade e a velocidade. A vaidade, a irreflexão e a prepotência.

 

Parecido com o sujeito que ouviu falar uma vez sobre o tema natação. Nunca nadou, mas ouviu falar. Então vê o oceano e se joga nas ondas. Dá braçadas poderosas, violentas. Murros nas águas. Mas a água, indiferente o afoga sem piedade. 

 

Os espaços virtuais são oceanos onde todos se acham nadadores.

 

Eu sou cauteloso. Avalio antes e sempre.

 

Eu tenho o meu tempo. Aprendi primeiro a ler na Educação Infantil. Depois avancei um tanto mais no Ensino Médio lendo coisas mais densas. Também escrevendo de forma mais complexa.

 

Nunca desconfiei da verdade luminar que meus professores me apresentaram: “Leia Amilcar. Leia sempre. Depois, escreva. Escreva sempre.

 

Continuo cauteloso. Não saio atirando. Nem saio explodindo pessoas que argumentam. Tudo bem, sou lento. Não consigo atirar primeiro. Eu escuto. Eu leio. Eu reflito. Eu me preparo. Só então avanço um tanto.

 

Continuo seguindo as sábias lições dos meus professores: Leia Amilcar. Leia sempre. Depois, escreva. Escreva sempre.

 


 

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Quêm lê muito não faz nada. Verdade?