sexta-feira, 25 de junho de 2021

Eu quero crer na humanidade. Mas não está fácil.

 

 

 

 

Desde sempre eu ouvi que o bem sempre vence o mal. Com certeza, muito cedo percebi que esta afirmação era mais a expressão de uma esperança que uma realidade. Na pré-adolescência me contaram que o mérito é uma lei universal, e que só os melhores vencem: só os “piores” perdem, por justa consequência. Não demorou muito para eu perceber que essa “verdade” era uma falácia mal-intencionada.  

 

Já adolescente, quase adulto, informaram-me que as pessoas de sucesso amavam somente os trabalhos com maiores salários. Já os fracaçados, o contrário. Quando decidi entrar para o curso de Filosofia, ouvi rumores de familiares que eu havia fracaçado em todas as outras áreas de estudo. Ora, filosofar é fazer nada por quase nada de salário! – murmuraram. Também descobri que isso é uma mentira.

 

Mas, confesso, a ilusão que mais perdurou em mim é que a justiça, a lei, mesmo errando em detalhes, é SEMPRE pensada para todos.  Acreditei que as injustiças pequenas não invalidavam a grandiosidade de cada ato justo deliberado pelos juízes. Até ontem acreditei que a História é mais justa que os juízes, pois ensina e demonstra com fatos os erros das pessoas. Por isso o Nazismo, o Fascismo e os crimes contra a humanidade são severamente apontados como nódoas inesquecíveis. Aí, para minha descrença, vem os NEGACIONISTAS!

 

Atordoado, hoje vejo até a ciência empírica ser desacreditada por tantos!

 

Desde ontem, chocado, já não tenho certeza se a Justiça é justa, e se a História é capaz de apontar as atrocidades que a humanidade realiza de tempos em tempos.

 

QUINHENTAS E TANTAS MIL MORTES depois, uma pessoa (uma pessoa! Um humano!) foi capaz de retirar a máscara que protegia uma criança da infecção mortal. A INOCENTE criaturinha foi filmada durante tal VIOLÊNCIA. Os pais relincharam alegrias, as pessoas aplaudiram e a lei, a Justiça, a História, ainda está calada. Da Constituição Federal ao Estatuto da Criança e do adolescente, do pretenso amor maternal ao tão ANUNCIADO desejo de exaltar a fé cristã: tudo foi inútil e a criança foi exposta.

 

Não só a criança foi exposta. Também foi a hipocrisia. Desnudou-se o desprezo pela lei.  Iluminou-se o anticristianismo de vários cristãos. A humanidade foi libertada de todos os mitos que a enaltecem.

 

A verdade: inúmeros de nós não somos racionais nem amorosos.

 

Este evento me fez descrer no poder pedagógico da História.  Já tivemos o holocausto e os campos de concentração. Já tivemos Hitler! Já tivemos Mussoline! Já tivemos guerras insufladas por potências para ganhar dinheiro!  O que aprendemos? Quase nada.

 

Parece-me ser mais evidente e fácil acreditar no mal que no bem.

 

Ao alienígena desavisado que viesse visitar a terra eu perguntaria: Você já encontrou uma espécie que, na frente de todos e de seus pais, expõe seu filho inocente a uma doença fatal tão dolorosa quanto a COVID? Talvez ele respondesse: Sim, mas já exterminamos todas elas.

 

Fica aqui a reflexão. Ainda podemos acreditar no bem? Se a resposta for sim, não podemos esquecer esta cena: a criança exposta; a DESUMANIDADE também exposta. Que ela fique registrada nos livros de História. Que seja mostrada nas salas de aula como o exemplo do que não deve ser.

 

Eu quero crer na humanidade. Mas não está fácil.

 

 

domingo, 20 de junho de 2021

19J – O que vi e o que não vi.

 

 

 



Em um vídeo anterior (ou artigo, não lembro) eu fiz uma distinção entre opinião de boa-fé e os desvarios. Quanto a opinião de boa-fé defendi que ela está próxima dos fatos, mas ainda não foi ratificada pela ciência. Contrario sensu, os desvarios (ou as opiniões de má-fé)  seriam as falas daqueles que opinam sem se importarem com a realidade objetiva. No extremo, podem até mentir.  

 

Hoje vou escrever minha opinião de boa-fé, ou seja, vou opinar rente aos fatos.

 

O que não vi nas manifestações do dia dezenove de junho? Violência. Nem dos manifestantes, nem das polícias. Não ouvi palavras de ordem contra as instituições. Muito menos discursos em desfavor da Democracia.  Não percebi discriminações em relação as diversas etnias, religiões e sexualidades. Não vi mamadeiras de piroca nem vi apelos a compras de armas.

 

Não vi isto ou aquilo: vi isso + aquilo convivendo harmoniosamente.

 

É claro que eu não estava (fisicamente) em todas as manifestações. Elas ocorreram em todo o Brasil e fora dele também. Mas, as mídias estavam em todos os lugares (e eu espiritualmente junto!). Elas foram meus olhos e ouvidos.

 

O que eu vi nas manifestações de 19 de junho? Vi muitas cores e gente cantando. Vi gente usando máscaras. Ouvi carros de som pedindo o afastamento entre as pessoas  e o uso de álcool nas mãos. Percebi muita organização e a alegria contrastando com a tristeza. De um lado a alegria de sair às ruas por um motivo nobre (a Democracia e a valorização da vida), e de outro, a tristeza de quinhentos mil mortos.  Observei gente jovem e não tão jovem. Ví mais pessoas comuns , músicos e artistas discursando que políticos!

 

Creio que todos que estão lendo este artigo acompanharam estas mesmas coisas.

 

As evidências falam por si. Não desfilou o ódio, nem a homofobia. Não compareceram os apelos contra a Democracia, nem os apelos a favor da liberação do uso de armas. Não estavam lá os terraplanistas, nem compareceram os anticientistas. Não desfilaram as motos caras. Mas vi em São Paulo (se não me falha a memória) ciclistas. Uma cicliciata!

 

Não vi cartazes pedindo o fechamento das instituições. Não vi cartazes dizendo minha bandeira nunca será vermelha. Não vi o Luciano Hang, o ex-juiz Moro, nem Olavo de Carvalho.   Vi gente comum como eu. Vi cartazes exigindo vacinas, auxilio emergial, educação e empregos.

 

Ah! Vi bandeiras vermelhas, muitas bandeiras vermelhas. Mas estavam lá também a bandeira do Brasil e a linda banderia com o arco-íres muito colorido. O que mais havia era bandeiras. Bandeiras de todas as cores. Afinal, ninguém é dono de cor alguma! A cor é do povo.  As cores são do povo como o céu é do arco-iris! (Parafraseando o Poetra Castro Alves que escreveu: A praça é do povo como o céu é do condor).

 

As cores são do povo? Serei eu um comunista?

 

Os povos indígenas, os Quilombolas, os sem-terra, os sem-teto, os sem-vacina, os sem-o-que-comer, os sem-trabalho também estavam lá.

 

De tudo que eu vi e de tudo que eu não vi concluo: não há como confundir quem se manifesta pela civilização e pela socialização de tudo que a sociedade tem de bom, com àqueles que se manifestam pelo ódio, pelas armas, pela segregação e pelo fascismo.

 

Quem ainda não sabe que tipo de manifestação apoia, é por que já decidiu por uma delas e tem vergonha de dizer.

 

Esta é a minha opinião de boa-fé.