sábado, 2 de janeiro de 2021

Comunidade de aprendizagem dialógica, tamojunto!!!!

 

Todos os espaços onde as pessoas se encontram, são espaços públicos de fala. Talvez ensaios para futuros diálogos.

 

Falar é menos que dialogar. Dialogar é menos que experimentar a dialogicidade. É fato, todos falam. É fato, só alguns dialogam. É fato, raros experimentam espaços dialógicos. Fica a dica.

 

Como utopia proponho espaços dialógicos (dialógico, lembrando o Professor Paulo Freire).

 

Nesse Brasil cheio de ódio e desentendimentos sequer dialogamos. É preciso evoluirmos para uma cooperativa de aprendizagem (aprendizagem no sentido mais amplo possível).

 

Somos todos opressores! Pronto, falei.

 

De alguma forma oprimimos alguém em algum lugar. Afinal, fomos criados, socializados assim. Há opressores culposos (inconscientes) e há opressores dolosos (cientes do que fazem). 

 

Já dizia Paulo Freire que há a possibilidade de dentro do oprimido existir um opressor. Eu, por minha vez, afirmo que tendemos a ser, todos, opressores.  Alguns na área econômica e política, outros nos relacionamentos abusivos. Outros ainda que se acham certos – sempre! Sem esquecer os que possuem uma fé tão inabalável que desdenham dos que têm fé diferente. A lista é longa.

 

E eu não me excluo do fato de ser um opressor. Não oprimir é uma luta diária numa sociedade opressora.

 

Proponho a cura pela fala, pelo diálogo dialógico. E tal só é possível quando nos compreendermos viventes numa cooperativa de aprendizagem. Aprendemos a ser gente. Aprendemos a falar, depois a dialogar e, no passo seguinte, poderemos aprender a postura dialógica. Isso só é possível num contexto de cooperativa de aprendentes.

 

Defino cooperativa como o lugar (ou lugares) onde os envolvidos são associados que cooperam entre si. Todos participam como podem e fazem o máximo para poder cooperar mais. A recompensa pelos esforços cooperativos é a participação igualitária nas vantagens que vão sendo construídas.  

 

Nesta cooperativa de aprender a ser gente entre gentes, todos trabalham e são cogestores deste espaço de aprendizagem cidadã. Esta cooperativa é um encontro em que se busca o conhecimento. É onde se realiza a relação entre sujeitos cognoscentes. O objeto cognoscível é o mundo (Novamente ouço Paulo Freire de fundo).

 

O benefício de aprender a ser gente, neste contexto, é mútuo. Não há desejo de lucro. Ninguém saberá ser gente mais que o outro. Mesmo que as contribuições pessoais sejam diferentes, a distribuição de saberes é igualitária. Ninguém pode aprender a ser mais gente que o outro.

 

Esta cooperativa só é possível pelo diálogo respeitoso entre os membros.  Cada membro se denuncia como gente e anuncia que o outro também é. Só gentes se respeitam.

 

As pessoas são diferentes. Mas as diferenças não podem ser confundidas com disparidade, desigualdade. Todos são absolutamente iguais no direito ao diálogo e a existência ativa no ambiente dialógico. Só aprendemos a ser gente cooperativa num ambiente livre para a fala e livre para a audição.

 

A vida histórica de cada um fala através dos seus discursos. Então, cuidado com a crítica! O falante terá sua vida criticada! Sua vida! Não é pouco. Portanto, o ambiente cooperativo será um contexto onde os dialogantes serão moderadores dos excessos e das faltas. A comunidade cooperativa vai delimitar de forma autoimposta a comunicação. Isto para que ela não seja violenta (ao estilo da comunicação não violenta do Marshall Rosenberg).

 

É fato, só é livre quem é livre para aceitar limites.

 

A cooperativa aprendente de ser gente entre gentes, ao limitar pretende incentivar a expressão em ambiente seguro. Afinal, todos são poderosos. A gestão destes poderes cabe a cooperativa discutir. Aqui poderíamos apresentar o conceito de política como gestão de poderes.

 

Há que se fazer política!

 

A utopia que proponho: um Brasil crescentemente dando acesso igualitário a uma fala rica, crítica, dialógica e com vocabulário crescente em qualidade.

 

Vocabulário e interpretação de mundo: ensinar o povo a saber falar o que quer falar exige esforço público-estatal. Não é ensinar o conteúdo do querer, mas qualificar a forma. É preciso apreender habilidades e competências para a expressão não violenta e cooperativa do que se quer comunicar. Quanto ao conteúdo, as comunidades de dialogantes já têm.

 

É preciso cuidar nossa formação. Fomos formados num contexto competitivo, de lucro, de vencer. Fomos ensinados a sermos empreendedores, a trabalhar em proveito próprio, a ver o outro como um possível consumidor do meu produto.

 

Às vezes eu sou o produto que o outro deve comprar. Outras vezes, o outro é o produto que eu devo adquirir.

 

Pois é, na nossa cooperativa de aprendizagem dialógica, é preciso lutar contra a fala estratégica. Este tipo de fala é aquela que diz algo para seduzir, para obter algum tipo de lucro ou vantagem.

 

Proponho a criação cada vez maior de espaços cooperativos e dialógicos. Das escolas às igrejas. Das praças aos partidos políticos. Dos sindicatos ao chão de fábrica. Dos teclados às mídias.

 

Tem um neologismo que gosto muito. Vou usá-lo para terminar este artigo:

 

Comunidade de aprendizagem dialógica, tamojunto!!!!

 

 

 

 

 

 

 

 

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