quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Das pedras, paralelepípedos e ruas informacionais



Quando penso no mundo da informação hoje, imagino vários caminhos sobre pedras/paralelepípedos. Cada pedra é uma informação. No conjunto fazem uma rua de piso irregular. Cada pedra não se encaixa perfeitamente na outra. Individualmente são aleatórias, jogadas no chão. Só podem ser consideradas rua no seu contexto. Assim são as informações jogadas por onde intelectualmente andamos. Tropeçamos nelas se não estamos atentos. A caminhada de quem (re)pensa os caminhos da informação não são fáceis. Pior é para os caminhantes que não se preocupam com a qualidade do seu andar. Nas ruas das informações, andam aos tropeções!

Décadas atrás as informações de qualidade vinham principalmente em livros. Os livros têm o cuidado de contextualizar o leitor. Nele há uma introdução e notas explicativas.  Muito comum os livros terem outra pessoa que faz a sua apresentação.  Sem falar na pequena biografia do autor. Há inúmeras notas de rodapé! Essas obras querem se explicar. Não querem ser apenas pedras aleatórias nos caminhos dos leitores. Pretendem explicar onde se encaixam. Ao caminheiro das informações, fica mais fácil o caminhar.

As informações (os dados) no século vinte e um abundam. Menos em livros que se (auto)contextualizam. Estão jogadas pelas ruas da vida. São pedras desalinhadas, descontextualizadas. São dados soltos. Dessa forma, o caminheiro desavisado vai escolhendo-os de qualquer jeito. Ao recolher os dados jogados, tem o alforje pesado.  O peso é tanto, que a pessoa se sente completa. Pensa já ter dados suficientes. Entretanto, não se encaixam. Cada um deles tem sentido próprio, mas junto aos demais não fazem sentido. Contradizem-se.  Mas o caminheiro não pode perceber, pois não percebe o contexto. Não avalia o caminho. Apenas junta as pedras (dados informacionais) como lembranças por onde andou.

Muitos caminheiros andam em grupos pelas ruas informacionais. Juntam dados atraídos pela mesma simpatia pelos formatos das pedras. Colecionam entre si, trocam os dados coletados como quem troca figurinhas.  Não pensam em contextos, mas em preferências. Nos caminhos da informação, estão mal orientados. Colhem seus paralelepípedos informativos ao sabor das opiniões, das mídias, das vontades, dos ventos.

A internet tem de tudo. Pedras de todos os tamanhos, formas e cores. Basta ir ali e pegar quantas quiser. Não há critérios no mundo virtual. Mas são tantos dados que quase impossibilitam a escolha. Os desavisados apenas colhem o mais que puderem: armazenam em seus alforjes mentais. Ufa! Quanto peso. Lá vai o caminheiro com suas pedras desconexas, sem sentido. Acham que quantidade é qualidade.

A internet não é como são os livros. Não há introdução nem contextos. As informações desconectadas estão nela jogadas. São como cascalhos por onde andamos.

As pessoas estão cheias de dados desconexos. Cada informação é uma unidade. Cada pedregulho está pronto para ser jogado na cara de quem discorda.  Atiram com força os dados coletados desconexamente, para ferir. Sem contexto, os dados não servem para trocar ideias.  São úteis para ferir de morte o oponente. Os descontextualizados trocam pedradas como faziam os nossos ancestrais pré-históricos.

Não há trocas de sentidos. Há pedradas. Isso explica muito por que as pessoas não mudam de ideias. Elas se jogam ideias como quem dá um tiro.

É preciso hoje muito mais estudo da história que ontem. Hoje, Filosofia e sociologia são essenciais. A área das humanas tem que brilhar. São estas ciências que trazem o contexto para que as pedras façam sentido e se tornem pavimento bom para ruas tranquilas, fáceis de caminhar. Assim poderemos caminhar com segurança nos caminhos das informações. Estudar para compreender. Estudar não é coletar pedras para joga-las em alguém.  Não é preciso um alforje tão grande assim. Pedras pesam muito. Contextos são leves.

Exegese. Hermenêutica. Contexto. Sentidos. Isso a internet não dá. A internet é exposição de dados. O trabalho de fazer sentido é da pessoa. Coletar é fácil. Qualquer chip faz.

Livros. Depois os dados. Livros. Depois a internet. Livros. Depois o debate. Livros. Depois mais livros. Enfim, menos pedradas. Mais contextos.



Um comentário:

“Vontade de mat@r alguém todo mundo já teve”

          Ao ouvir esta afirmação malévola, quase gritei:  Eu nunca quis matar ninguém! Ao ouvir esta infâmia, esta ofensa à humanidade do...