quinta-feira, 8 de novembro de 2018

O silêncio pitagórico











Há muito ruído em volta de nós. Imagens, cores, sons e tecnologias brilhantes. Tudo grita a nossa volta. O silêncio é uma exceção num tempo de informações que ululam o tempo inteiro.



Se nossa vida fosse um aquário, a água seria as expressões todas!



Dentro de nós também não há silêncio. Nossos pensamentos têm asas e voam o tempo inteiro. Nem sempre coincidem no mesmo espaço nosso corpo e nossos pensamentos. Ficar atento por vários minutos é muito complicado. Nossa mente fala o tempo todo, quer sempre mais.



A velocidade é mais empolgante que o tempo da leitura e da compreensão. O tempo de vociferar é mais rápido que o tempo do ouvir. Vociferar parece ser mais eficiente que ouvir. Dizer o que pensamos parece ser mais transformador do que ouvir. Ler títulos, pequenos rótulos e slogans parece ser muito mais esclarecedor que ler os textos longos, densos, chatos. Usei a palavra “parece” intencionalmente.  Como diz o ditado popular: nem tudo que parecer ser, é de fato.



Lotados de preconceitos, de paradigmas corriqueiros e de ruídos informacionais de todos os tipos, opinamos o tempo inteiro. Opinamos tanto que passamos a ser ruído também. Impedimos outras pessoas de curtirem o silêncio. Temos dentro de nós barulhos e nos tornamos barulho para os outros. Há, inclusive, certo orgulho quando dizemos: falo o que quero, quando eu quero. Quem não gostar que não ouça! Pois e´, mas quando falamos o tempo todo, sempre atingimos pessoas: como todas fugirão de nós?



Quando uso o verbo falar, quero trazer a ideia de expressão. Pode ser a voz, a cor, a música, a expressão facial e corporal.



Imaginemos o cidadão X. Ele é da classe média e é medianamente informado. O sr. X lê todos os títulos dos jornais impressos. Ama o twitter. Ouve os jornais das tvs comerciais. Locupleta-se com as mensagens que recebe no whatssap e no messenger. Lê todas elas o tempo todo.  Seus amigos são similares. Nos finais de semana se encontram e dizem as mesmas coisas, os mesmos bordões. Falam o tempo todo. Ninguém ouve bem, todos se expressam muito.  O cidadão X comanda esses encontros e não tem amigos discordantes. Ele adora aqueles ruídos que lhes é tão familiar. Não há espaço para o silêncio interno, muito menos o externo.



Creio que o Sr. X representa a grande maioria de nós.



Lembrei nesse instante de uma das primeiras lições que os discípulos de Pitágoras aprendiam: o silêncio. Por algum tempo diariamente o discípulo deveria aquietar-se e apenas ouvir o mestre. Não podia questionar. Talvez, sendo um discípulo antigo, pudesse questionar o mestre nestes momentos de silêncio. Mas era exceção à regra. Sendo este filósofo e matemático uma figura famosa por sua inteligência, não posso crer que o silêncio imposto significasse a aceitação passiva dos seus ensinamentos. Entendo que Pitágoras percebia que saber ouvir em silêncio interno facilita a aprendizagem. Ruídos atrapalham. Permitem que algo se perca do ensinamento precioso.



Hoje não temos momentos de silêncio interno.  Estamos locupletados de verdades falantes dentro de nós. Os espaços para aprender é cada vez menor.  Zygmund Bauman fala de um tempo líquido. Eu creio no tempo dos barulhos. Todos se expressam. Poucos se entendem. Mas quem se importa? A pessoa mediana acredita que seu direito de se expressar é em muito superior a obrigação de entender!



Concordo com Pitágoras. Precisamos de um tempo para ficar em silêncio e apenas ouvir. Ouvir e aprender. Após aprender, então expressar o que pensamos. Isso com o cuidado de nos expressarmos para quem fique quieto o tempo suficiente para nos entender.  Caso contrário, não vale a pena.



Espero que tenham lido esse texto silenciosamente.

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