Há muito
ruído em volta de nós. Imagens, cores, sons e tecnologias brilhantes. Tudo
grita a nossa volta. O silêncio é uma exceção num tempo de informações que
ululam o tempo inteiro.
Se nossa vida
fosse um aquário, a água seria as expressões todas!
Dentro de nós
também não há silêncio. Nossos pensamentos têm asas e voam o tempo inteiro. Nem
sempre coincidem no mesmo espaço nosso corpo e nossos pensamentos. Ficar atento
por vários minutos é muito complicado. Nossa mente fala o tempo todo, quer
sempre mais.
A velocidade
é mais empolgante que o tempo da leitura e da compreensão. O tempo de vociferar
é mais rápido que o tempo do ouvir. Vociferar parece ser mais eficiente que ouvir.
Dizer o que pensamos parece ser mais transformador do que ouvir. Ler títulos,
pequenos rótulos e slogans parece ser muito mais esclarecedor que ler os textos
longos, densos, chatos. Usei a palavra “parece” intencionalmente. Como diz o ditado popular: nem tudo que parecer ser, é de fato.
Lotados de
preconceitos, de paradigmas corriqueiros e de ruídos informacionais de todos os
tipos, opinamos o tempo inteiro. Opinamos tanto que passamos a ser ruído
também. Impedimos outras pessoas de curtirem o silêncio. Temos dentro de nós
barulhos e nos tornamos barulho para os outros. Há, inclusive, certo orgulho
quando dizemos: falo o que quero, quando
eu quero. Quem não gostar que não ouça! Pois e´, mas quando falamos o tempo
todo, sempre atingimos pessoas: como todas fugirão de nós?
Quando uso o
verbo falar, quero trazer a ideia de expressão. Pode ser a voz, a cor, a
música, a expressão facial e corporal.
Imaginemos o
cidadão X. Ele é da classe média e é medianamente informado. O sr. X lê todos
os títulos dos jornais impressos. Ama o twitter. Ouve os jornais das tvs
comerciais. Locupleta-se com as mensagens que recebe no whatssap e no messenger.
Lê todas elas o tempo todo. Seus amigos
são similares. Nos finais de semana se encontram e dizem as mesmas coisas, os
mesmos bordões. Falam o tempo todo. Ninguém ouve bem, todos se expressam muito.
O cidadão X comanda esses encontros e
não tem amigos discordantes. Ele adora aqueles ruídos que lhes é tão familiar.
Não há espaço para o silêncio interno, muito menos o externo.
Creio que o
Sr. X representa a grande maioria de nós.
Lembrei nesse
instante de uma das primeiras lições que os discípulos de Pitágoras aprendiam:
o silêncio. Por algum tempo diariamente o discípulo deveria aquietar-se e
apenas ouvir o mestre. Não podia questionar. Talvez, sendo um discípulo antigo,
pudesse questionar o mestre nestes momentos de silêncio. Mas era exceção à
regra. Sendo este filósofo e matemático uma figura famosa por sua inteligência,
não posso crer que o silêncio imposto significasse a aceitação passiva dos seus
ensinamentos. Entendo que Pitágoras percebia que saber ouvir em silêncio
interno facilita a aprendizagem. Ruídos atrapalham. Permitem que algo se perca
do ensinamento precioso.
Hoje não
temos momentos de silêncio interno.
Estamos locupletados de verdades falantes dentro de nós. Os espaços para
aprender é cada vez menor. Zygmund Bauman
fala de um tempo líquido. Eu creio no tempo dos barulhos. Todos se expressam.
Poucos se entendem. Mas quem se importa? A pessoa mediana acredita que seu direito
de se expressar é em muito superior a obrigação de entender!
Concordo com
Pitágoras. Precisamos de um tempo para ficar em silêncio e apenas ouvir. Ouvir
e aprender. Após aprender, então expressar o que pensamos. Isso com o cuidado
de nos expressarmos para quem fique quieto o tempo suficiente para nos
entender. Caso contrário, não vale a
pena.
Espero que
tenham lido esse texto silenciosamente.
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