Freud
nos falava de um inconsciente. Esse
espaço mental reprimido está em nós e nos dá as referências para as nossas
ações. Ao mesmo tempo em que guarda nossas memórias (mesmo as que não nos
lembramos), a todo o momento nos dá insights (capacidade de compreender os
próprios motivos).
A
todo o momento o inconsciente, mesmo sem ser consultado, nos dá caminhos sequer
solicitados. Faz-nos interpretar o mundo antes de lê-lo. O inconsciente é uma
energia vital que flui através de nossas escolhas e, por consequência, pelas
nossas ações. Faz-nos compreender sem necessidade de ser compreendido por nós.
Há quem ache isso uma crendice, quase uma religião: a fé no inconsciente seria superior à necessidade de compreendê-lo. Toda a crítica é bem vinda. Traz à luz da consciência o que pensamos.
Quando falo em inconsciente, associo à vontade de poder de Nietzsche. O inconsciente do Freud é uma vontade de prazer; um prazer amoral.
Quando falo em inconsciente, associo à vontade de poder de Nietzsche. O inconsciente do Freud é uma vontade de prazer; um prazer amoral.
As
pessoas que defendem o fascismo, a tortura e a morte de gente, não estão
refletindo criticamente sobre sua simpatia ao horror. Creio que estão entregues
a motivações interiores não identificáveis e injustificáveis de forma
consciente. A aceitação do poderoso discurso de ódio reflete a incapacidade de
fazer uma autorreflexão. São dominados
pela pulsão de morte (pulsão de agressão ou de destruição quando se
exterioriza). Esse apreço pelo ódio vem de um espaço mental de difícil acesso à
consciência.
Conscientemente
(e publicamente mais ainda!) é muito difícil aceitar o apreço pelo ódio. Se as
conversas amistosas entre amigos que pensam diferente tendem a expor esse tema
(o apreço ao ódio), é desencadeado sentimentos inconscientes e pouco racionais.
A discussão ofensiva e acalorada que surge, protege a consciência de explicar para
si mesma e para os outros a sua simpatia pelo ódio.
Similar
ao que ocorreria no consultório psicanalítico. Quanto mais o terapeuta chegasse
próximo ao entendimento compartilhado do profundo apreço pela dor e pelo ódio, os
mecanismos de defesa do “paciente” explodiriam.
O mecanismo de defesa dos que defendem o ódio, se manifesta pelo discurso de
mais ódio. Para não entender o que sentem, passariam a odiar o interlocutor.
Transferência pura, ancestral.
Quando
estamos em terapia psicanalítica, o diálogo com o terapeuta alivia as resistências
e os sintomas. Vai até o ponto da superação dos traumas e a extinção total dos
sintomas. A talking cure é bem isso, a cura pela fala, pela expressão e pela
audição da fala do outro. A fala cura por que ressignifica o que expomos, o que
vem do inconsciente. A fala é terapêutica quando
a fala quer “ouvir”. O ouvir é terapêutico quando o ouvir quer “falar”. O diálogo é isso. O contrário do
diálogo é a resistência à mudança, à ressignificação. Isso explica por que os
seguidores do ódio, não conseguem/não podem dialogar. Isso por que se dialogarem,
vão ter que explicar. Explicar faz sofrer. Explicar é assumir o apreço ao ódio.
E mais difícil ainda: transformar esse apreço. Mas o seguidor do ódio não pode transformar
nada, só pode impor. Se houver trocas, haverá a possibilidade de cura. E isso o
seguidor não pode suportar. Então seus mecanismos inconscientes de defesa
impedem a fala.
Portanto, este sujeito adoentado, pode apenas
odiar. Está limitado a urrar verdades tão alto que não possa mais ouvir os
outros.
Entretanto,
podemos apostar que estes indivíduos, expostos a ambientes amorosos e
democráticos, poderão aprender a dialogar. Sentindo-se seguros, poderão começar
a cura pela fala. Mas, expostos a ambientes antidemocráticos e violentos, vão
piorar pela ausência da fala terapêutica.
Concluo
dizendo que votemos em quem propaga o bem, o diálogo e a democracia. Isso só
traz saúde mental e física. Apostar na solidariedade e no amor ao próximo só
traz... solidariedade e amor. É tão bom que fará o bem inclusive aos odientos.
O bom voto só traz o bem. Simples assim. Complexo assim.
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