quinta-feira, 25 de outubro de 2018

O ódio na política? Freud explica




Freud nos falava de um inconsciente.  Esse espaço mental reprimido está em nós e nos dá as referências para as nossas ações. Ao mesmo tempo em que guarda nossas memórias (mesmo as que não nos lembramos), a todo o momento nos dá insights (capacidade de compreender os próprios motivos).



A todo o momento o inconsciente, mesmo sem ser consultado, nos dá caminhos sequer solicitados. Faz-nos interpretar o mundo antes de lê-lo. O inconsciente é uma energia vital que flui através de nossas escolhas e, por consequência, pelas nossas ações. Faz-nos compreender sem necessidade de ser compreendido por nós. Há quem ache isso uma crendice, quase uma religião: a fé no inconsciente seria superior à necessidade de compreendê-lo. Toda a crítica é bem vinda. Traz à luz da consciência o que pensamos.


Quando falo em inconsciente, associo à vontade de poder de Nietzsche.  O inconsciente do Freud é uma vontade de prazer; um prazer amoral.



As pessoas que defendem o fascismo, a tortura e a morte de gente, não estão refletindo criticamente sobre sua simpatia ao horror. Creio que estão entregues a motivações interiores não identificáveis e injustificáveis de forma consciente. A aceitação do poderoso discurso de ódio reflete a incapacidade de fazer uma autorreflexão.  São dominados pela pulsão de morte (pulsão de agressão ou de destruição quando se exterioriza). Esse apreço pelo ódio vem de um espaço mental de difícil acesso à consciência. 





Conscientemente (e publicamente mais ainda!) é muito difícil aceitar o apreço pelo ódio. Se as conversas amistosas entre amigos que pensam diferente tendem a expor esse tema (o apreço ao ódio), é desencadeado sentimentos inconscientes e pouco racionais. A discussão ofensiva e acalorada que surge, protege a consciência de explicar para si mesma e para os outros a sua simpatia pelo ódio.





Similar ao que ocorreria no consultório psicanalítico. Quanto mais o terapeuta chegasse próximo ao entendimento compartilhado do profundo apreço pela dor e pelo ódio, os mecanismos de defesa do “paciente” explodiriam. O mecanismo de defesa dos que defendem o ódio, se manifesta pelo discurso de mais ódio. Para não entender o que sentem, passariam a odiar o interlocutor. Transferência pura, ancestral.



Quando estamos em terapia psicanalítica, o diálogo com o terapeuta alivia as resistências e os sintomas. Vai até o ponto da superação dos traumas e a extinção total dos sintomas. A talking cure é bem isso, a cura pela fala, pela expressão e pela audição da fala do outro. A fala cura por que ressignifica o que expomos, o que vem do inconsciente. A fala é terapêutica quando a fala quer “ouvir”. O ouvir é terapêutico quando o ouvir quer “falar”. O diálogo é isso. O contrário do diálogo é a resistência à mudança, à ressignificação. Isso explica por que os seguidores do ódio, não conseguem/não podem dialogar. Isso por que se dialogarem, vão ter que explicar. Explicar faz sofrer. Explicar é assumir o apreço ao ódio. E mais difícil ainda: transformar esse apreço. Mas o seguidor do ódio não pode transformar nada, só pode impor. Se houver trocas, haverá a possibilidade de cura. E isso o seguidor não pode suportar. Então seus mecanismos inconscientes de defesa impedem a fala.



 Portanto, este sujeito adoentado, pode apenas odiar. Está limitado a urrar verdades tão alto que não possa mais ouvir os outros.





Entretanto, podemos apostar que estes indivíduos, expostos a ambientes amorosos e democráticos, poderão aprender a dialogar. Sentindo-se seguros, poderão começar a cura pela fala. Mas, expostos a ambientes antidemocráticos e violentos, vão piorar pela ausência da fala terapêutica.



Concluo dizendo que votemos em quem propaga o bem, o diálogo e a democracia. Isso só traz saúde mental e física. Apostar na solidariedade e no amor ao próximo só traz... solidariedade e amor. É tão bom que fará o bem inclusive aos odientos. O bom voto só traz o bem. Simples assim. Complexo assim.

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