As mídias são fundamentais desin/informando a população para que esta
possa posicionar-se. A des/informação e democracia fazem uma parceria
indissolúvel na gestão democrática dos países. Garantem a liberdade de expressão
e de opinião. No formato tradicional, geralmente, antes das eleições, os povos
são espectadores, uma espécie de Big Brothers das políticas nacionais. Porém,
com o advento da cibertecnologia informativa, as coisas mudam de aspecto.
Agora, interligados on line, todos tendem a se comunicar com todos o tempo
todo. Todos são textos e contextos ao mesmo tempo. Podemos dizer até que
recebemos informações já as emitindo: emitimos recebendo, recebemos emitindo!
Eu estava lendo Pierre Levy (A inteligência Coletiva) quando essas
reflexões vieram a minha mente. Segundo ele a democracia poderá ser eletrônica.
O que traz inúmeras implicações. Não precisaria haver representatividade formal/física
dos eleitores (os parlamentos por exemplo). A agilidade e a presença ubíqua das
pessoas no ciberespaço, faz com que elas possam cobrar eficácia e ações rápidas
dos entes políticos. Então a representatividade formal off line não conseguiria atender
à essas aspirações on line. Levy sugere o que ele chama de ágora virtual. Através
do acesso universal às novas tecnologias de comunicação e informação, em
especial a Internet, os cidadãos plugados discutiriam em tempo real as questões
da polis. Sem intermediários, os indivíduos se posicionariam e seriam posicionados
pelos outros cibernautas. O acúmulo de informações/decisões tomadas, este
acervo virtual (nas nuvens) criado/utilizado por todos, faria parte do que Levy
chama de Inteligência Coletiva. A conexão cada vez mais densa entre os
indivíduos criaria a inteligência coletiva irmanada à uma democracia
eletrônica. Observem que não quero explicar o pensamento do autor, mas dar
vazão a minha imaginação.
Pincei nessa leitura de Levy elementos que achei interessantes. Gostei
da ideia da participação de todos (pelo menos de todos os plugados) e da participação
política direta (sem representação) na ágora virtual. As pessoas ligadas e
discutindo produziriam boas e significativas mudanças nas sociedades. Lembrei
então do meu amigo Rousseau. Ele também entendia que a vontade do povo não pode
ser representada. Criticou a democracia quantitativa, uma espécie de contadora
de votos. Propôs a vontade geral.
Rousseau entendia que a vontade individual do homem é egoísta. Porém, ao
eliminar todos os interesses conflitantes entre os homens, restaria um
interesse comum, que ele denomina vontade geral. Essa vontade
tende sempre para aquilo que é bom à coletividade. A vontade geral são todos os
interesses, que simultaneamente, são úteis para todos os homens. Não pode ser
confundida com a “vontade de todos”, que seria a somatória de todos os
interesses particulares, egoístas e conflitantes dos homens.
Minha intenção com este escrito é trazer a questão: a vontade geral
(Rousseau) e a ágora virtual (Levy) são compatíveis e produzem sinergia?
Entendo que sim. A percepção atual que
temos das vantagens da eterna e sempre criativa discussão on line no espaço virtual heraclítico, é o elemento que faltava ao
analógico Rousseau. A tecnologia está nos dando a chance de criarmos um novo
jeito de lidar com a política no mundo. Não dá para sabermos (provavelmente
nunca saibamos) onde este caminho nos levará. Mas, o melhor mesmo, é saber que
ainda há caminhos possíveis. Infinitos caminhos (mesmo que tecnológicos) que crescentemente
garantam a crescente qualificação da liberdade e da responsabilidade das nossas
escolhas políticas.
Gostei do artigo. Um assunto bem cibernético, e atual. Acho também que estamos fazendo uma nova democracia a favor da coletividade. Espero que essa nova ferramenta, venha mudar os rumos da política para algo mais nobre, elevado. Cada qual se esforçando mais em acertar do que errar, amadurecendo para uma participação responsável.
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