quarta-feira, 31 de maio de 2017

A virtú e a fortuna na política brasileira.


         Prof. Amilcar Bernardi
         Obs.: Escrito no início de 2017.
    
      É muito comum governos que estão fragilizados economicamente e/ou politicamente, aventurarem-se em guerras com outras nações para unificarem seu povo em outro foco. A história é farta destes exemplos. Essa união tenderia a favorecer estes governos, uma espécie de “pausa” na reflexão econômica e política quando fracassadas. Uma pausa motivada pela exacerbação de um nacionalismo mítico. Geralmente não dá certo.
    
      Unir o povo em sentido contrário aos problemas nacionais, portanto, é uma prática antiga e também atual. Maquiavel alertava que o povo pode ser conduzido, mas por pessoas especiais, os príncipes de virtú.  Virtú é a capacidade que o condutor do Estado teria em controlar os acontecimentos através de estratégias. Entretanto, a história é imprevisível e a fortuna comanda metade da nossa vida. Entendamos aqui fortuna não como dinheiro, claro; mas como sorte, boa ou má sorte. Portanto, quem se lança no mar da política pode até contar com muitos conhecimentos e tecnologias, mas com certeza, não poderá controlar a vontade do mar.
    
      O PT nestes anos de governo não conseguiu unir as esquerdas, nem dentro da sua própria sigla. Não teve a virtú necessária. A oposição cresceu e aventurou-se a disputar o poder. Aproveitou o cenário econômico desfavorável, a mídia tendenciosa e emplacou o impeachment. Mas, a fortuna é o lado da história que não é controlável. Temer uniu as esquerdas melhor do que o PT sonhou fazer. Efeito colateral que ele (Temer e aliados) não previu. Não teve sabedoria para tal.
    
      Não foi preciso criar uma guerra externa nem nenhum factoide maluco para unir as pessoas numa luta. A direita fez isso. Maquiavel já afirmava: “Mas a ambição do homem é tão grande que, para satisfazer uma vontade presente, não pensa no mal que daí a algum tempo pode resultar dela. ”
    
      O mal da ambição do PSDB, PMDB e associados é a união das esquerdas. Resta saber se a maré que está a favor delas manter-se-á por muito tempo. Terão as esquerdas virtú? Ou fracassarão?
    
      Que soprem os ventos nestes mares tumultuados da política brasileira!



sexta-feira, 14 de abril de 2017

Antígona de Sófocles

Considerações possíveis sobre a obra Antígona, de Sófocles
Prof. Amilcar Bernardi

A questão que se apresenta nesta obra é a verdade da lei, da norma. Essa questão sempre foi constante na história do homem. Homem como sujeito que vive em sociedade. O problema de ser um entre muitos é uma crise constante e complexa. Como não podia deixar de ser, a tragédia grega aqui comentada, traz essa questão de forma absoluta e irredutível: se a personagem Antígona está correta, Creonte não estará e vice-versa. Personagens antípodas. Portanto, sem meio termo; irreconciliáveis.


Antígona defende a cultura do seu tempo e do seu povo. Representa a cultura mais antiga e arraigada: a existência de uma verdade que está acima dos homens, intocáveis por estes. São válidas somente estas normas, baseadas nos princípios metafísicos. Elas são coerentes com a existência das divindades, de um plano divino. Antígona é filha do seu tempo e coerente com ele. Defende a tradição ainda viva.  Ela, por consequência, não está em condições de sequer avaliar a possibilidade de aceitar as reflexões do Creonte. Estas reflexões são humanas demais, colidem com os desígnios dos deuses e fazem a personagem sofrer ao manter insepulto seu irmão.

Antígona ao defender seus argumentos, faz eco à crença popular. Povo que já murmura contra seu rei. Isso demonstra que, para eles, a argumentação legítima é a dela; desconfiam que ilegítimo é Creonte. Antígona os ouve e os entende. Seu rei, não. Creonte se fragiliza ao ignorar a desconfiança popular em relação a sua legitimidade. De fato, o trono é de direito dele. Mas o tirano, em suas deliberações monocráticas, não se baseava na ordem do cosmos – divino -, nem nas crenças do seu povo. 

O rei sabendo disso, tenta silenciar Antígona para manter sua legitimidade. Sepultada viva num antro rochoso, essa brutalidade evidencia aos cidadãos a desconfiança em seu rei.  Creonte é avisado que o futuro traz maus presságios. Todos sabem, mas o rei ignora: um homem não é superior à ordem que tudo rege. A ordem é superior ao indivíduo, à pessoa humana.

O tirano quer prevalecer ao destino. Mas é ilegítimo por querer que sua vontade, que seu arbítrio seja soberano.  Ele custa a perceber que nada pode contra o divino, contra o destino.  É tarde demais quando a lucidez o faz perceber que a ordem vai se restabelecer através das mortes de seus entes queridos. É o preço que vai pagar. O preço é a morte trágica de seus afetos e a vontade de suicídio que fere sua alma. Suicídio que é negado e ele sofre todas as dores que o destino a ele prescreveu.  A ordem volta, o tirano morre em vida, uma espécie de rei zumbi.

A idade média insistiu em manter esse dilema: ordem divina X ordem dos homens. Tentou manter a ordem de Deus acima da ordem dos reis.  Por isso pagou o preço de milhares de mortes em guerras “santas” para manter esse dogma.  A modernidade, por sua vez, colocou a razão no lugar de Deus. Hoje o consumo como dogma metafísico, assume as rédeas dos governos capitalistas. Também o preço é alto: guerras e catástrofes climáticas provocadas pelo homem.
Creonte e Antígona não morreram. Estão entre nós numa luta eterna e sempre atual.


quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Resenha: A arte de amar Erich Fromm



Nascido em 1900, em Frankfurt, Alemanha, Erich Fromm estudou psicologia e sociologia. Doutorou-se em Filosofia em Munique e recebeu sólida formação psicanalítica no Instituto Psicanalítico de Berlim. A partir de 1933, ano da ascensão de Hitler ao poder, passa a
exercer o cargo de professor nos EUA, em Chicago, e, posteriormente, a exercer a clínica em Nova York. Foi professor em várias universidades, inclusive no México. E seus livros passaram a se ater em questões humanistas que atraíram a atenção de profissionais de vários campos, como Sociologia, Filosofia e Teologia. De certa forma, muitas de suas ideias foram contemporâneas de várias abordagens humanistas.
Na sua obra A arte de amar, salienta um equívoco importante: uma prova de amor seria não amar a mais ninguém. Esse sentimento é uma atividade da alma; caso ame alguém, amo a todos, amo tudo. “Amo em ti a todos, através de ti amo o mundo, amo-me a mim mesmo em ti”.
O amor erótico é o anseio pela fusão, pela união com outra pessoa. Aqui aparece a exclusividade e não universalidade. Acrescenta que é, provavelmente, a forma mais enganosa de amar. Isso porque confundimos com cair enamorado, algo súbito e avassalador.  Mas esse avassalamento tem tempo curto de vida. A familiaridade com a pessoa faz surgir um sentimento que diz: nada mais há para conhecer na pessoa. Mas se nos déssemos tempo para realmente nos aprofundar na intimidade da pessoa, descobriríamos a impossibilidade de conhece-la totalmente em suas profundezas.  Sem conhece-la totalmente, a cada dia o milagre se renovaria: a pessoa eleita teria sempre coisas novas, maravilhas novas a serem descobertas. O desafio do conhecimento dela seria eterno. De outra forma, a pessoa seria explorada à exaustão. Exaurida perderia o brilho e valor. Tornar-se íntimo não é somente atingido pelo sexo, ou pela fala diária sobre “o que temos em comum”; nem mostrarmos nossas frustrações e magoas sendo sinceros ao máximo. Nem a complexa desinibição com relação ao companheiro (a) é intimidade. Esse tipo de proximidade torna-se rotineira e morre.
O amor erótico contrasta com o amor fraternal e o amor materno. O amor erótico consiste na união com uma só pessoa, diferente dos demais amores, que não estão restritos a uma única pessoa. O amor pode inspirar desejo sexual, mas mistura-se a ternura, essa ternura é produto do amor fraterno que está em nós. Fromm diz isso por que uma das características do amor erótico é a exclusividade, a exclusão do resto da humanidade. Mas o casal que ama é também humanidade, então há um sentimento de separação entre o casal, e entre o casal e o resto das pessoas. Para corrigir essa distorção, a pessoa que ama, ama na outra toda a humanidade, tudo que vive.  Entregamo-nos profundamente a uma única pessoa, mas não nos fechamos ao amor fraterno que vive em nós. 
O problema na reflexão de Fromm é que se amamos fraternamente, e em essência somos todos iguais, somos todos um. Não fará diferença quem amemos.  Ele resolve dizendo que amar é um ato de vontade, de decisão a quem vou entregar-me. Existe um aspecto racional por trás da indissolubilidade do matrimônio (em suas diversas formas). Amar alguém não é só sentimento, mas decisão, um julgamento, uma promessa. Isso seria a morte do amor e a vitória da racionalidade fria? Não, pois como Fromm diz, amamos a humanidade fraternalmente, escolhemos uma pessoa porque apesar de sermos um, somos pessoas diferentes, irrepetíveis. Essa especificidade nos faz sermos escolhidos.
Para Erich Fromm o amor consiste na compreensão de que ele não é uma situação acidental em que nele se “tropeça”. Na verdade, é algo que, na qualidade de arte, exige conhecimento e esforço.
Quanto ao amor próprio Fromm, traz importantes informações. Alegar que amar a si é inversamente proporcional a amar o próximo, não é bem verdade. Amar o próximo é louvável. Eu e o outro somos humanos; então amar outra pessoa é amar a mim mesmo! Por outro lado, amar a mim mesmo me torna apto a amar o outro. É impossível, segundo Fromm, amar só o outro. Quem não ama a si também, não pode amar ninguém.
A pessoa egoísta só se interessa por si mesma, não sente prazer em compartilhar, só quer tomar do outro.  O mundo é visto como algo a ser dominado e dele subtraído tudo.  O egoísta não pode ver senão a si mesmo, julga tudo por si mesmo. É, portanto, incapaz de amar.  Importante: para Fromm a pessoa egoísta não ama demais a si mesma, ao contrário ama de menos: odeia-se. Furta da vida o que por si mesmo não consegue atingir. Quer encobrir o fracasso em cuidar de si mesma.
Fromm diz que o amor é uma atitude, uma orientação de caráter.  Não há, a priori, um objeto de amor, mas uma visão amorosa com relação ao mundo. Pois se amo uma única pessoa, excluo o resto da humanidade. Aqui meu afeto torna-se simbiótico ou um egoísmo ampliado.
A sociedade capitalista se funda na ideia de um mercado o mais livre possível.  O mercado é regulado pela utilidade das coisas. Nele tudo é transformado em artigo de compra e venda, desde as coisas mortas até a energia e capacidade de trabalho. Fromm afirma: “O capital comanda o trabalho; as coisas acumuladas, que são mortas, têm valor superior ao trabalho, às forças humanas, àquilo que é vivo”. Ele alerta que o capitalismo tem necessidade de pessoas que cooperem sem atrito. É importante que consumam muito e de forma padronizada. No capitalismo o homem experimenta suas forças de vida como um investimento que deve produzir o máximo de lucro possível. Estamos tão alienados que mesmo buscando nos aproximarmos dos outros, não conseguimos superar a separação.  Então a civilização moderna/capitalista nos oferece soluções de curto prazo, fáceis e instantâneas: o trabalho rotinizado e burocratizado, a diversão acrítica e o consumo compulsivo patrocinado pela mega indústria da diversão. Mas isso não diminui a separação entre as pessoas!  E como fica o amor nesse ambiente?  Estamos impossibilitados de amar: “Autômatos não podem amar; podem trocar seus fardos de personalidade e esperar um bom negócio”.  O casamento passa a ser uma equipe de dois destinada a auferir lucros. Um ajuda o outro a ter sucesso no mundo capitalista.  “Forma-se uma aliança de dois contra o mundo, e esse egoísmo a dois é enganosamente tomado por amor e intimidade”.

O amor é uma arte. E só aprendemos uma arte praticando-a: não há uma receita. A experiência de amar é pessoal e intransferível. E para dominar uma arte é necessário disciplina e concentração. Concentração é algo muito difícil de conseguir em nossa cultura. Somos multifuncionais, multiuso, fazemos tudo ao mesmo tempo. O tempo tem pressa. Somos incapazes de ficarmos sós, em companhia de nós mesmos.  “Sentar-se quieto, sem falar, fumar, ler, beber, é impossível para a maioria das pessoas, precisam fazer alguma coisa com a boca ou as mãos”. Temos que aprender a ficarmos sós conosco mesmos, pois é essa capacidade uma das condições da capacidade de amar. Aprender a concentrar-se exige do aprendiz que evite a conversação trivial.  Falar das coisas de maneira abstraída não é concentrar-se, falar de lugares comuns, falar do que o coração não sente não é ficar atento.  Deve-se inclusive evitar as más companhias. “Por más companhias não me refiro apenas a pessoas que sejam viciadas e destruidoras; deve-se evitar a companhia destas por que sua órbita é venenosa e deprimente. Falo também da companhia dos zumbis, da gente que tem a alma morta, embora seu corpo esteja vivo; daqueles cujos pensamentos e conversas são triviais; que tagarelam em vez de falar e que emitem opiniões estereotipadas em vez de pensar”.
Outro fator é a falta de paciência. Queremos andar rápidos, mas a rapidez é má professora de uma arte.  “O homem moderno pensa que perde alguma coisa – o tempo – quando não faz as coisas rapidamente; todavia, ele não sabe o que fazer com o temo que ganha – a não ser matá-lo”. Aristóteles dizia que obtemos as virtudes através do hábito. Semelhantemente Fromm diz que se alguém quer tornar-se um mestre em alguma arte, devote a vida inteira a ela.  “Com relação à arte de amar, isto significa que quem aspire a tornar-se mestre nessa arte deve começar por praticar a disciplina, a concentração e a paciência, em todas as fases de sua vida”.
Mas, afinal, qual é a principal condição para eu realizar minha capacidade de amar? A superação do narcisismo. Para o narcisista só é real o que existe dentro de si mesmo. O que é exterior só visto sob o ponto de vista do útil e do perigoso. A pessoa insana toma como verdadeiro só aquilo que vai na sua cabeça, como num sonho eterno.  Todos nós somos meio insanos, somos atingidos por uma visão narcísica do mundo.  Nas palavras de Fromm: “A faculdade de pensar objetivamente é a razão; a atitude emocional por trás da razão é da humildade. Ser objetivo, usar a razão, só é possível quando se consegue uma atitude de humildade, quando se emerge dos sonhos de onisciência e onipotência que se tem quando criança”. Por isso o amor requer uma certa renúncia ao narcisismo, requer o desenvolvimento da humildade, da objetividade da razão. Humildade e objetividade são inseparáveis.  Preciso ver a pessoa que vou amar como ela realmente é, renunciar a quadro que pinto dela com as cores do meu desejo. A pessoa pode fazer parte do meu projeto pessoal, mas não é o meu projeto pessoal.
Não podemos deixar de salientar que Fromm diz: a fé em si mesmo é condição fundamental para o amor. Essa ”fé” é racional, uma convicção fundamentada na minha própria experiência ou sentimento. É a certeza e a firmeza que nossas convicções possuem, isso de forma argumentada, defensável e objetiva. Ter fé em mim abre espaço em meu psiquismo para ter fé no outro, para dota-lo da capacidade de eu amá-lo. “Ter fé requer coragem, a capacidade de correr um risco, a disposição de aceitar mesmo a dor e a decepção”. Quem tiver pouca fé em si, ou pouca fé no noutro, não pode amar em plenitude.


Em resumo: o homem moderno transformou-se em artigo, em coisa; experimenta sua energia vital como um investimento com que pode alcançar o mais alto lucro, considerando sua situação no mercado de personalidades. Alienou-se de si, dos semelhantes e da natureza. Seu objeto principal é a troca proveitosa de suas capacidades, conhecimentos e de si mesmo, de seu “fardo de personalidade” com outros que querem igualmente uma troca justa e proveitosa. A vida não tem meta, exceto de movimentar-se, nem princípio a não ser a de boa troca, nem satisfação que não seja a de consumir. (Revista pensamento biocêntrico. Página 36. http://www.pensamentobiocentrico.com.br/content/edicoes/14full.pdf)


terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Desobediência civil

Prof. Amilcar Bernardi

Art. 1º - Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.


Nos países democráticos a liberdade é um dos valores de maior importância. O
Estado está a serviço dos interesses do povo e não ao contrário. Portanto, se o Estado exorbita, e na medida em que exorbita, há quem defenda que os cidadãos podem tomar para si o direito de obedecer/desobedecer ao arbítrio estatal.
É um momento de empoderamento popular. A liberdade passa a ser exercida acima do poder de coação das autoridades. O Estado fica impedido de obrigar o cumprimento da sua ordem. O indivíduo poderá desobedecer a ordem exorbitante. Não é possível exigir do cidadão aquilo que extrapola o contrato social.  
O ser humano nasceu livre, depois criou o Estado. Essa liberdade pode ser retomada quando os direitos e garantias constitucionais são aviltados. Afinal, o Estado está limitado por sua constituição. As pessoas só aceitam a redução da sua liberdade natural, nos limites constitucionais. Nem um milímetro a mais. As pessoas não deram um “cheque em branco”. O contrato social firmado está claro nas regras das Constituições. O cidadão obedece porque acredita nas leis e fará todo o possível para continuar nelas acreditando. Inclusive, aceita como justa a coerção sobre aqueles que, conscientes do contrato social, o descumprem injustificadamente. Inclua-se nessa afirmativa as próprias autoridades.


Desobediência civil:  Resistência pacífica ao poder constituído.  Forma de oposição política que se manifesta no descumprimento das normas legais e no não-atendimento às ordens da autoridade.
Dicionário Jurídico. Ivan Horcaio. 2008



O que justifica a fé na lei é a sua racionalidade. Todos sabem que pior seria se elas não existissem, ou que fosse permitida exceções arbitrárias às suas determinações. Não pode haver cobranças excessivas ou liberalidades injustificadas, irracionais. Se a jurisdição se baseia no povo que a garante ao mesmo tempo que a sofre, cabe também a ele a desobediência em casos excepcionais.
Na Constituição de 1988, a subordinação das autoridades ao povo é clara no seu artigo primeiro e em seu parágrafo único, onde é consagrada a mera representatividade dos comandantes do país. Mas, essa mesma constituição, não deixa claro os instrumentos legais determinantes para a intervenção popular no legislativo ou no executivo. Não há, no Brasil, amparo evidente à desobediência civil. Ou seja, não está regulamentado o direito da não ação do cidadão, o direito de não obedecer ao que é exorbitante, ao que é injusto.
Quem seria o titular do direito à desobediência? O cidadão com suas prerrogativas e obrigações, consciente das normas que desobedece e das suas  consequências. A pessoa desobediente não quer algo somente para si, mas quer com sua omissão consciente e cidadã, mostrar a injustiça da lei, a sua inconformidade cívica em relação ao exorbitamento do Estado. Por isso, o indisciplinado quer o novo, a mudança, e não entende como normal sua indisciplina. Quer-se mais resistir ao injusto do que negar a importância da disciplina frente à lei.
Pode-se dizer que o insurgente momentâneo defende a Constituição, pois crê defende-la de um mau uso dela pelas autoridades. Na voz de Henry Thoreau convém lembrar: “ O governo, no melhor dos casos, nada mais é do que um artifício conveniente, e todo o governo algum dia acaba por ser inconveniente. ” Thoreau, um dos principais pensadores da desobediência civil, não considerava o desobediente alguém contra o governo. O indisciplinado se contrapunha ao ato injusto e, ao não o aceitar, contribuía para um governo melhor.
Quem defende a Desobediência, entende que um governo melhor não vem necessariamente da maioria, afinal, quantidade não é sempre sinônimo de qualidade. Há a possibilidade de, ao atender o cidadão desobediente, o Estado seja mais justo do que ao tender a maioria. Para o desobediente civil, o questionamento pacífico e constante, a crítica persistente, mesmo que inoportuna ao olhar do dirigente, é a garantia da qualidade das ações governamentais.



segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Jurisdição, Estado e Direito.

Prof. Amilcar Bernardi

Fácil imaginar a seguinte situação: náufragos que se salvaram numa ilha remota. Sabedores que, por alguma fatalidade, nunca seriam resgatados; organizam-se, dividem tarefas e estabelecem um regramento mínimo para que pudessem conviver com alguma tranquilidade. Mas a tranquilidade é algo por demais frágil entre criaturas racionais e egocêntricas. Logo alguém por ser indolente, induz outro a trabalhar mais que ele. Já outro acumula o que não poderia ser acumulado. Outra ainda, afirma seu direito natural de nada fazer ou fazer o que quiser.

Como resolver os impasses? Quem resolveria? Para alguns a autocomposição foi suficiente, mas para os mais emocionalmente duros, não foi possível.  A discussão dos náufragos sobre o que é justo, cede à questão da eficácia da norma estabelecida. Daqui para diante é fácil imaginar que estas pessoas perdidas criam um terceiro. Este terá como função aplicar e fazer cumprir tais normas. De maneira livre, os ilhados criam algo que os limita: o Estado. Ele resolverá os conflitos de forma obrigatória. Os comportamentos sociais serão agora avaliados, tutelados e regrados de forma coercitiva. Os particulares cedem ao coletivo. Surge então o que chamamos de jurisdição. Somente após a criação deste terceiro em relação a sociedade, é que podemos falar em jurisdição. É o Estado que arbitra os conflitos tendendo a pôr fim às disputas; mesmo que pelo uso da força legal.

Evidentemente que o Estado moderno não é um ente que age por arbítrio próprio, sem limites e sem racionalidade. O direito, as normas e consensos, enfim, as leis surgem, fundamentam e legitimam o Estado e seus juízes. É ele (com seus três poderes – hodiernamente) quem diz o direito e o faz cumprir.  Agora pode-se dizer que há justiça, no sentido de que justo são as ações estatais - limitantes das liberdades civis - que seguem princípios e ritos. São os processos legais estritamente vinculados às leis.

O Estado-juiz quer a harmonia social entendida como a existência mínima de conflitos entre particulares. Para isso é preciso que seja legítimo e que seja imparcial. Assim ele será, enquanto manter-se nos trilhos do direito consolidado nas constituições. Imparcial e equânime; estes são os princípios que devem rege-lo. Ficará inerte até ser provocado: os juízes agem quando houver interessados que os provoquem. Não haverá Estado de exceção em tempos de paz. Sempre respeitará os direitos e garantias constitucionais. Somente assim os conflitos serão dirimidos pela ordem jurídica constitucional. 

Só há Estado porque há conflito. Só há normas e o Direito porque há conflito. Da mesma forma, o conceito de jurisdição surge da mesma necessidade de evitar os conflitos intersubjetivos. E só uma instituição pode impor a paz social: o Estado-juiz.

domingo, 22 de maio de 2016

Elementos conceituais de liberdade



A liberdade



Em um primeiro momento parece que temos a certeza da ausência da  liberdade. Pensamos a liberdade não porque a sentimos, mas porque temos falta dela. Sempre foi assim. Ela parece ser uma utopia, algo como um horizonte que nos faz viajar para o futuro. Mesmo que não conheçamos a verdade da liberdade, ela é a esperança que nos faz lutar por um amanhã melhor (e já que estamos falando em liberdade, cada um é livre para definir o que é um amanhã melhor).
Para Jean-Paul Sartre, a liberdade é o próprio fundamento do ser do homem. Ela está na raiz de seu comportamento, porque sempre temos que escolher. Nesse sentido o homem é essencialmente livre, não pode abdicar da liberdade. Para Sartre, o homem está condenado a ser livre. Segundo esse autor, somos totalmente livres.  Isso porque não posso escolher mais ou menos entre duas ou mais coisas.  Mas não escolhemos livremente sem consultarmos nosso contexto de vida. Primeiro aceito quem sou e após livremente escolho fazer o que quiser de mim. É uma liberdade vivida: sujeita-se às condições do nosso dia a dia.  A possibilidade de liberdade é construída a cada momento: na aceitação das determinações das quais não se pode fugir e na luta contra as determinações que podem ser superadas.

Sozinho é possível ser livre. Em sociedade também é?

Numa ilha é fácil. Quero ver numa metrópole. Sem ninguém por perto faço o que quero. Mas quando estou com outras pessoas, estou limitado no meu agir.  Segundo Aristóteles o homem é um animal social. Com isso podemos deduzir que sozinhos nem homens seríamos! Portanto, a questão da liberdade solitária é impossível. Forçosamente para sermos gente temos que compartilhar a vida, os espaços, os sonhos, as alegrias....  Sem pessoas sou escravizado pela solidão.
Portanto, é na prática que se constrói a liberdade, a partir dos desafios que os problemas do nosso existir apresentam. Sermos livres significa termos imaginação criadora e a capacidade de invenção. Para conviver é preciso criar a liberdade possível. A liberdade é transformadora das relações entre pessoas e entre pessoas e a natureza. Nada está pronto.

Se abandonarmos a ideia de liberdade, teremos de abandonar a ética, a moral, o direito, a cultura e tudo o mais que deriva de atitudes humanas propriamente ditas; a ética e o direito seriam imediatamente abolidos, e ninguém poderia ser culpado por suas ações.
Texto de Ricardo Timm de Souza. Revista Mundo Jovem. junho 2004. Edição número 347


Liberdade ética

                    Podemos falar em liberdade no sentido ético, quando nos referimos ao sujeito moral consciente, capaz de decidir com autonomia a respeito de como deve se conduzir em relação a si mesmo e aos outros. Kant dizia que a liberdade consiste na obediência às leis que o próprio sujeito moral se impõe.
Ser autônomo é uma situação de muita exigência, é um desafio que muitas pessoas não conseguem suportar. Os riscos de enganos, a intranquilidade, a angústia da decisão e a responsabilidade que o ato livre acarreta, fazem com que a liberdade seja considerada um pesado encargo. Por isso há tantos que a ela renunciam, para se acomodarem na segurança das verdades dadas.
Abandonar-se aos desejos parece ser uma coisa bem fácil. Entretanto, seria algo terrível. Para sermos instintuais teríamos que nos despir de toda a moral, de toda nossa vivência social. Não valoraríamos mais nada além da satisfação dos nossos ímpetos impensados. Dá para imaginar como seria impossível viver num mundo assim. Podemos então perceber que valorizar alguns comportamentos e limitar outros é uma tarefa difícil, humana e dolorosa. Não podemos ser totalmente livres... seríamos escravos dos nossos desejos. Mal negócio, não? Que a ética seja bem-vinda!

Instinto é uma energia da mente que expressa as necessidades do corpo e de tudo que valoriza a vida corporal. São eles que nos fazem reagir e agir quando levamos um susto, por exemplo. Claro que no nosso dia a dia não é bem assim. Posso lá no fundo de mim estar com muita vontade de fazer algo, mas minha formação cultural e moral vão filtrar se vou ou não realizar o que quero e se for possível realizar, como vou fazê-lo.



Livre Arbítrio - Santo Agostinho


Adaptado do site http://www.significados.com.br/livre-arbitrio/ Acesso em 08/03/2014)


Muitas vezes a expressão livre arbítrio, tem o mesmo significado que a expressão liberdade. No entanto, Santo Agostinho diferenciou claramente esses dois conceitos. O livre arbítrio é a possibilidade de escolher entre o bem e o mal; enquanto que a liberdade é o bom uso do livre arbítrio. Isso significa que nem sempre o homem é livre quando põe em uso o livre arbítrio, depende sempre de como usa essa característica. Assim, o livre arbítrio está mais relacionado com a escolha que a pessoa faz. O livre arbítrio é uma faculdade. 

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

RESENHA DO JOHN A. HOBSON - Imperialismo

Prof. Amilcar Bernardi



O Imperialismo é a política de expansão e domínio territorial, cultural e, principalmente econômico de um país sobre outro. Notadamente ocorreu no final da época da revolução industrial. Evidentemente que havia enormes interesses dos capitalistas, mas travestiu-se esses interesses de uma missão evangelizadora sobre os povos não cristãos (povos indígenas e áfrica). Os Europeus entendiam-se como possuidores de uma cultura superior e detentores da religião.
Na segunda metade do século XIX, países europeus como a Inglaterra, França, Alemanha, Bélgica e Itália, eram considerados grandes potências industriais. Na América, eram os Estados Unidos quem apresentavam um grande desenvolvimento no campo industrial. Todos estes países exerceram atitudes imperialistas, pois estavam interessados em formar grandes impérios econômicos, levando suas áreas de influência para outros continentes. 
O que acontecia é que os povos mais fortes em tecnologia, capital e armas apoderavam-se de vastos territórios. As colônias rendiam muito, pois compravam os produtos da metrópole (produtos industriais) e sustentavam a Europa com as matérias primas que os capitalistas europeus precisavam.
No final do século XIX e começo do século XX, a economia mundial viveu grandes mudanças. A tecnologia da Segunda Revolução Industrial (motores a gasolina e a diesel e eletricidade) aumentou ainda mais a produção, o que gerou uma grande necessidade de mercado consumidor para esses produtos. Os monopólios cresceram tanto que precisavam absorver os países dominados em busca da mão-de-obra barata e abundante e mercados consumidores. A maior parte dos capitalistas e da população dos países imperialistas acreditavam que suas ações eram justas e até benéficas à humanidade em nome da ideologia do progresso.
John Hobson foi um dos economistas que teorizou sobre o imperialismo.  Ele entendia que houve uma distribuição desproporcional da riqueza. Os capitalistas acumulavam muito e as classes mais pobres consumiam pouco.  Esse acúmulo de capital acabava sendo absorvido pela poupança. As elites para ampliar o consumo de seus produtos e para poderem consumir outros produtos, provocaram as ações imperialistas.

Para Hobson os interesses econômicos instigam os governos a praticarem o imperialismo no intuito de explorar economicamente outros povos. A ordem é drenar as riquezas dos outros países. Como já foi dito, havia outros interesses, não necessariamente econômicos, como os religiosos e os ímpetos militares.  Sob o ponto de vista moral, os governos não podiam assumir sua lógica notadamente capitalista. Então justificavam-se dizendo que suas intervenções internacionais desejavam a elevação moral dos povos mais atrasados. Segundo Hobson, o imperialismo não é algo cego, irracional. É, certamente, um planejamento das classes dominantes. Se há irracionalismo, ele é praticado pelas classes subalternas submissas às intenções das classes que efetivamente comandam.  Essas castas de privilegiados acumulam tanto capital que seu país de origem não é suficiente para aplicar seus recursos tanto em produção quanto consumo de bens luxuosos. Isso, como em um círculo vicioso, estimula a procura por novos mercados externos. O comando desse processo estava nas mãos dos grandes bancos e financeiras. Elas decidiam o futuro do planeta econômico. E deu tão certo que os responsáveis por essas instituições ficaram tão ricos que por mais que gastassem ficavam cada vez mais ricos. Investiam então na poupança e no crescimento do capital. Não havia espaço no seu país para investimento na produção. O consumo de tudo que fosse produzido era impossível. Tinham que produzir para o mundo.

(John Atkinson Hobson (Derby, 6 de julho de 1858 - 1 de abril de 1940) foi um economista inglês, crítico do Imperialismo. É um dos principais representantes do reformismo burguês. Deixou uma obra de mais de 30 volumes, dos quais os mais importantes são, A Evolução do Capitalismo Moderno, e o Imperialismo. Embora seja habitualmente considerado um marxista fabiano, Hobson sofreu influência de diversas correntes de pensamento, de Marx a Sombart e Veblen. Seu caráter profundamente herético fez com que sua obra, por sua vez, influenciasse autores tão pouco semelhantes como Lênin e Keynes.  Wikipédia, enciclopédia livre)

Quanto vale o que queremos trocar?

Prof. Amilcar Bernardi

Na origem do comércio (trocas de mercadorias) um problema era seguidamente
discutido. Quanto vale o que queremos trocar? Essa Questão era (e ainda é) de suma relevância numa sociedade capitalista onde tudo vale algo, ou seja, onde uma mercadoria será trocada por outra.
Historicamente foi feita uma distinção entre valor de uso e valor de troca. Percebeu-se que alguns produtos satisfaziam as necessidades da pessoa pelas características físicas do objeto produzido. Satisfaziam no sentido de poderem ser usadas para algo que era importante para quem precisava do produto.  O que é produzido, segundo este ponto de vista, orienta-se pelo interesse das pessoas.  Esse produto é pensado, então, pelo seu valor de uso.  Com o desenvolvimento do comércio é fácil imaginar que tal pensamento não era suficiente para satisfazer as necessidades conceituais do comércio crescente.  Para que o excedente de produção fosse crescente era necessário que o produto fosse trocado não por outro de acordo com a necessidade, mas que um bem pudesse ser trocado por outros bens ou por dinheiro seguindo não mais os ditames do uso imediato.  Evoluiu o pensamento ao conceituar outro tipo de valor, o valor de troca. Este era não mais determinado pela satisfação das necessidades da pessoa, mas sim pela possibilidade de trocar algo por moeda e esta por outros produtos. Os produtos eram então adquiridos por desejo apenas ou ainda pela necessidade.
O valor de troca segue a fórmula: produto - moeda -  produto (num infinito ir e vir). A produção distancia-se do consumo imediato sendo mediada pelo mercado. Essas trocas impessoais passam a medirem-se pela lei da oferta e da procura. 

Características do capitalismo


Prof. Amilcar Bernardi

O capitalismo possui algumas características que o diferenciam dos demais sistemas econômicos.
 Uma das características refere-se a produção de mercadorias. Aqui podemos ressaltar que os produtores não têm interesse imediato no valor de uso do que foi produzido, mas sim, em seu valor de troca.  Dizemos “valor de troca” por que o dinheiro arrecadado com a venda de um produto é desejável porque pode ser trocado por outros. No capitalismo, portanto, produzimos não porque precisamos diretamente do que foi produzido, mas produzimos em vista de outros produtos que desejamos. Dessa forma, até o trabalho humano torna-se mercadoria; tudo se volta para a produção não como um fim em si mesmo, mas para trocas. Inclusive, na sociedade capitalista, somos obrigados a travar relações com pessoas que não conhecemos, para que possamos vender nossa mercadoria-trabalho ou para fazermos trocas impessoais.
Ora, para que vendamos nosso trabalho, é preciso que os meios de produção não sejam nossos; e que quem os possua compre nossa capacidade de trabalho. Sem a propriedade privada dos meios de produção não pode haver essa relação. O capitalismo, portanto, precisa que alguns poucos tenham a propriedade dos meios, e outros tantos tenham apenas a capacidade de trabalho. Todos não podem usufruir igualmente da propriedade. A partir daí, os proprietários não mais precisavam ater-se diretamente à produção. Era suficiente gerenciar o que lhe pertencia. Esse gerenciamento fez com que o excedente produzido fosse apropriado pelo capitalista de forma crescente. Os trabalhadores não tinham controle algum sobre o produto do seu trabalho nem sobre os meios de produção.
Outro elemento importante nos primórdios do capitalismo, era a ideia de que o trabalho comprado do trabalhador valha a pena, ou seja, aquilo que o trabalho produz gere excedente ao capitalista. O salário do trabalhador não pode consumir o valor do que ele produz. Então, para que houvesse excedente, as pessoas viviam com salários que as deixavam na pobreza extrema. No capitalismo sempre houve o fenômeno do desemprego e da pobreza. Para evitar ambos, o trabalhador aumentava sua jornada de trabalho na tentativa de receber um pouco mais. A pessoa perdia autonomia, não mais era dona de si mesma. Não podia escolher hora de trabalho, salários ou o ritmo da produção.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Livro: A arte de amar Erich Fromm

 Prof. Amilcar Bernardi



Nascido em 1900, em Frankfurt, Alemanha, Erich Fromm estudou psicologia e sociologia. Doutorou-se em Filosofia em Munique e recebeu sólida formação psicanalítica no Instituto Psicanalítico de Berlim. A partir de 1933, ano da ascensão de Hitler ao poder, passa a exercer o cargo de professor nos EUA, em Chicago, e, posteriormente, a exercer a clínica em Nova York. Foi professor em várias universidades, inclusive no México. E seus livros passaram a se ater em questões humanistas que atraíram a atenção de profissionais de vários campos, como Sociologia, Filosofia e Teologia. De certa forma, muitas de suas ideias foram contemporâneas de várias abordagens humanistas.
Na sua obra A arte de amar, salienta um equívoco importante: uma prova de amor seria não amar a mais ninguém. Esse sentimento é uma atividade da alma; caso ame alguém, amo a todos, amo tudo. “Amo em ti a todos, através de ti amo o mundo, amo-me a mim mesmo em ti”.
O amor erótico é o anseio pela fusão, pela união com outra pessoa. Aqui aparece a exclusividade e não universalidade. Acrescenta que é, provavelmente, a forma mais enganosa de amar. Isso porque confundimos com cair enamorado, algo súbito e avassalador.  Mas esse avassalamento tem tempo curto de vida. A familiaridade com a pessoa faz surgir um sentimento que diz: nada mais há para conhecer na pessoa. Mas se nos déssemos tempo para realmente nos aprofundar na intimidade da pessoa, descobriríamos a impossibilidade de conhece-la totalmente em suas profundezas.  Sem conhece-la totalmente, a cada dia o milagre se renovaria: a pessoa eleita teria sempre coisas novas, maravilhas novas a serem descobertas. O desafio do conhecimento dela seria eterno. De outra forma, a pessoa seria explorada à exaustão. Exaurida perderia o brilho e valor. Tornar-se íntimo não é somente atingido pelo sexo, ou pela fala diária sobre “o que temos em comum”; nem mostrarmos nossas frustrações e magoas sendo sinceros ao máximo. Nem a complexa desinibição com relação ao companheiro (a) é intimidade. Esse tipo de proximidade torna-se rotineira e morre.
O amor erótico contrasta com o amor fraternal e o amor materno. O amor erótico consiste na união com uma só pessoa, diferente dos demais amores, que não estão restritos a uma única pessoa. O amor pode inspirar desejo sexual, mas mistura-se a ternura, essa ternura é produto do amor fraterno que está em nós. Fromm diz isso por que uma das características do amor erótico é a exclusividade, a exclusão do resto da humanidade. Mas o casal que ama é também humanidade, então há um sentimento de separação entre o casal, e entre o casal e o resto das pessoas. Para corrigir essa distorção, a pessoa que ama, ama na outra toda a humanidade, tudo que vive.  Entregamo-nos profundamente a uma única pessoa, mas não nos fechamos ao amor fraterno que vive em nós. 
O problema na reflexão de Fromm é que se amamos fraternamente, e em essência somos todos iguais, somos todos um. Não fará diferença quem amemos.  Ele resolve dizendo que amar é um ato de vontade, de decisão a quem vou entregar-me. Existe um aspecto racional por trás da indissolubilidade do matrimônio (em suas diversas formas). Amar alguém não é só sentimento, mas decisão, um julgamento, uma promessa. Isso seria a morte do amor e a vitória da racionalidade fria? Não, pois como Fromm diz, amamos a humanidade fraternalmente, escolhemos uma pessoa porque apesar de sermos um, somos pessoas diferentes, irrepetíveis. Essa especificidade nos faz sermos escolhidos.
Para Erich Fromm o amor consiste na compreensão de que ele não é uma situação acidental em que nele se “tropeça”. Na verdade, é algo que, na qualidade de arte, exige conhecimento e esforço.
Quanto ao amor próprio Fromm, traz importantes informações. Alegar que amar a si é inversamente proporcional a amar o próximo, não é bem verdade. Amar o próximo é louvável. Eu e o outro somos humanos; então amar outra pessoa é amar a mim mesmo! Por outro lado, amar a mim mesmo me torna apto a amar o outro. É impossível, segundo Fromm, amar só o outro. Quem não ama a si também, não pode amar ninguém.
A pessoa egoísta só se interessa por si mesma, não sente prazer em compartilhar, só quer tomar do outro.  O mundo é visto como algo a ser dominado e dele subtraído tudo.  O egoísta não pode ver senão a si mesmo, julga tudo por si mesmo. É, portanto, incapaz de amar.  Importante: para Fromm a pessoa egoísta não ama demais a si mesma, ao contrário ama de menos: odeia-se. Furta da vida o que por si mesmo não consegue atingir. Quer encobrir o fracasso em cuidar de si mesma.
Fromm diz que o amor é uma atitude, uma orientação de caráter.  Não há, a priori, um objeto de amor, mas uma visão amorosa com relação ao mundo. Pois se amo uma única pessoa, excluo o resto da humanidade. Aqui meu afeto torna-se simbiótico ou um egoísmo ampliado.
A sociedade capitalista se funda na ideia de um mercado o mais livre possível.  O mercado é regulado pela utilidade das coisas. Nele tudo é transformado em artigo de compra e venda, desde as coisas mortas até a energia e capacidade de trabalho. Fromm afirma: “O capital comanda o trabalho; as coisas acumuladas, que são mortas, têm valor superior ao trabalho, às forças humanas, àquilo que é vivo”. Ele alerta que o capitalismo tem necessidade de pessoas que cooperem sem atrito. É importante que consumam muito e de forma padronizada. No capitalismo o homem experimenta suas forças de vida como um investimento que deve produzir o máximo de lucro possível. Estamos tão alienados que mesmo buscando nos aproximarmos dos outros, não conseguimos superar a separação.  Então a civilização moderna/capitalista nos oferece soluções de curto prazo, fáceis e instantâneas: o trabalho rotinizado e burocratizado, a diversão acrítica e o consumo compulsivo patrocinado pela mega indústria da diversão. Mas isso não diminui a separação entre as pessoas!  E como fica o amor nesse ambiente?  Estamos impossibilitados de amar: “Autômatos não podem amar; podem trocar seus fardos de personalidade e esperar um bom negócio”.  O casamento passa a ser uma equipe de dois destinada a auferir lucros. Um ajuda o outro a ter sucesso no mundo capitalista.  “Forma-se uma aliança de dois contra o mundo, e esse egoísmo a dois é enganosamente tomado por amor e intimidade”.

O amor é uma arte. E só aprendemos uma arte praticando-a: não há uma receita. A experiência de amar é pessoal e intransferível. E para dominar uma arte é necessário disciplina e concentração. Concentração é algo muito difícil de conseguir em nossa cultura. Somos multifuncionais, multiuso, fazemos tudo ao mesmo tempo. O tempo tem pressa. Somos incapazes de ficarmos sós, em companhia de nós mesmos.  “Sentar-se quieto, sem falar, fumar, ler, beber, é impossível para a maioria das pessoas, precisam fazer alguma coisa com a boca ou as mãos”. Temos que aprender a ficarmos sós conosco mesmos, pois é essa capacidade uma das condições da capacidade de amar. Aprender a concentrar-se exige do aprendiz que evite a conversação trivial.  Falar das coisas de maneira abstraída não é concentrar-se, falar de lugares comuns, falar do que o coração não sente não é ficar atento.  Deve-se inclusive evitar as más companhias. “Por más companhias não me refiro apenas a pessoas que sejam viciadas e destruidoras; deve-se evitar a companhia destas por que sua órbita é venenosa e deprimente. Falo também da companhia dos zumbis, da gente que tem a alma morta, embora seu corpo esteja vivo; daqueles cujos pensamentos e conversas são triviais; que tagarelam em vez de falar e que emitem opiniões estereotipadas em vez de pensar”.
Outro fator é a falta de paciência. Queremos andar rápidos, mas a rapidez é má professora de uma arte.  “O homem moderno pensa que perde alguma coisa – o tempo – quando não faz as coisas rapidamente; todavia, ele não sabe o que fazer com o temo que ganha – a não ser matá-lo”. Aristóteles dizia que obtemos as virtudes através do hábito. Semelhantemente Fromm diz que se alguém quer tornar-se um mestre em alguma arte, devote a vida inteira a ela.  “Com relação à arte de amar, isto significa que quem aspire a tornar-se mestre nessa arte deve começar por praticar a disciplina, a concentração e a paciência, em todas as fases de sua vida”.
Mas, afinal, qual é a principal condição para eu realizar minha capacidade de amar? A superação do narcisismo. Para o narcisista só é real o que existe dentro de si mesmo. O que é exterior só visto sob o ponto de vista do útil e do perigoso. A pessoa insana toma como verdadeiro só aquilo que vai na sua cabeça, como num sonho eterno.  Todos nós somos meio insanos, somos atingidos por uma visão narcísica do mundo.  Nas palavras de Fromm: “A faculdade de pensar objetivamente é a razão; a atitude emocional por trás da razão é da humildade. Ser objetivo, usar a razão, só é possível quando se consegue uma atitude de humildade, quando se emerge dos sonhos de onisciência e onipotência que se tem quando criança”. Por isso o amor requer uma certa renúncia ao narcisismo, requer o desenvolvimento da humildade, da objetividade da razão. Humildade e objetividade são inseparáveis.  Preciso ver a pessoa que vou amar como ela realmente é, renunciar a quadro que pinto dela com as cores do meu desejo. A pessoa pode fazer parte do meu projeto pessoal, mas não é o meu projeto pessoal.
Não podemos deixar de salientar que Fromm diz: a fé em si mesmo é condição fundamental para o amor. Essa ”fé” é racional, uma convicção fundamentada na minha própria experiência ou sentimento. É a certeza e a firmeza que nossas convicções possuem, isso de forma argumentada, defensável e objetiva. Ter fé em mim abre espaço em meu psiquismo para ter fé no outro, para dota-lo da capacidade de eu amá-lo. “Ter fé requer coragem, a capacidade de correr um risco, a disposição de aceitar mesmo a dor e a decepção”. Quem tiver pouca fé em si, ou pouca fé no noutro, não pode amar em plenitude.


Em resumo: o homem moderno transformou-se em artigo, em coisa; experimenta sua energia vital como um investimento com que pode alcançar o mais alto lucro, considerando sua situação no mercado de personalidades. Alienou-se de si, dos semelhantes e da natureza. Seu objeto principal é a troca proveitosa de suas capacidades, conhecimentos e de si mesmo, de seu “fardo de personalidade” com outros que querem igualmente uma troca justa e proveitosa. A vida não tem meta, exceto de movimentar-se, nem princípio a não ser a de boa troca, nem satisfação que não seja a de consumir. (Revista pensamento biocêntrico. Página 36. http://www.pensamentobiocentrico.com.br/content/edicoes/14full.pdf)


domingo, 20 de setembro de 2015

DESAFIO NO BRONX; uma perspectiva maquiaveliana.

Prof. Amilcar Bernardi

Maquiavel propõe questões que tratam sobre como conquistar Estados e como conserva-
los. Sabia ele que a estratégia política trabalha com a fortuna fazendo com que os mais determinados e habilidosos controlasse a história. A iniciativa política deve ajustar-se às circunstâncias. O necessário é manter-se à frente dos acontecimentos, procurando imprimir-lhes rumo e alternativas mais propícias ao príncipe.
Para ele o povo é uma matéria que aguarda sua forma e a engenharia da ordem parte da análise da situação social, não resultando do arbítrio do fundador de Estados, mas de sua capacidade de captar, num momento de gênio, aquela forma desejável e de sua disposição para impô-la sem qualquer vacilação. Em suma, bom príncipe é aquele que tem a capacidade de perceber o jogo de forças que caracteriza a política para agir com energia a fim de conquistar e manter o poder. Sua reflexão é realista.
Maquiavel sabia que a política não pode ser algo ideal, mas algo que seja realizável entre homens comuns. O que é deve orientar o político bem mais do que deveria ser.
O filme DESAFIO NO BRONX pode ser lido sob a perspectiva maquiaveliana. O que vimos na tela foi um jogo forças. Alguns queriam dominar, outros apenas sobreviver, ainda outros precisavam manter o poder já estabelecido. Eram aparentemente interesses diferentes. Aparentemente porque era o mesmo: o domínio. Evidentemente que, sendo o mesmo interesse, eram irreconciliáveis.
Como qualquer Estado moderno (discutido por Maquiavel) as fronteiras entre bairros eram fixas. Cada bairro tinha seu comando, seus asseclas, amigos e inimigos; inclusive normas internas bem estabelecidas. Por exemplo: bairro de branco não tem negros e vice-versa. A vigilância é forte porque as pessoas acreditam naqueles valores. Tais valores são encarnados pelos comandantes dos bairros.  Para manter o status quo os “cidadãos” de cada bairro defendem seus espaços arriscando-se na medida do possível, não mais que isso. Quando a polícia, mais forte que cada comunidade isoladamente, aparece, há uma espécie de cessar fogo para que as forças se mantenham ativas para outros embates.
O bairro dos brancos, mais evidenciado, tem seu chefe. Mais velho e mais astuto. Leitor de Maquiavel entende os princípios do escritor italiano.  Para manter seu domínio, na maioria das vezes tenta ser amado. Quando não consegue usa da violência na medida certa. Não extrapola. Chama atenção na medida do medo que quer produzir. Está sendo fiel ao princípio do Príncipe quando diz que os homens têm menos escrúpulo de ofender o que se faz amar do que se faz temer.
O chefe sabe que não pode confiar em ninguém, sabe que seu bairro é feito de homens, e homens são ingratos e simuladores. Então também usa de artifícios e artimanhas para controlar as pessoas sob seu domínio.
O menino, filho do motorista do ônibus, admira tal figura esperta. Quer ser seguidor. Não aponta o responsável pelo assassinato que vira. O comandante sente-se em dívida com seu comandado. Estende sua proteção em troca de fidelidade.  O pacto é feito. Tal contrato é tão forte que tudo que o pai faz para afastar o filho de tal influência é inútil. O poder que o jovem passa a ter o corrompe fazendo dele dependente de seu protetor. E é assim que deve ser: a figura de protetor mantém as pessoas dependentes e esperançosas de poder partilhar um pouco do poder.
A dependência, a troca de favores entre quem comanda e quem é comandado é tão forte que quando o chefe morre, o poder é transferido para outra pessoa do mesmo estilo. O medo da violência da mudança deixa tudo como está. Não só o poder foi tomado quanto foi mantido. O jogo criado naquele bairro teve força suficiente para sobreviver ao seu criador.

O interessante é que houve pouca violência. Este era usado como último instrumento para manutenção do sistema montado. O jovem aprendiz de gangster era frequentemente advertido para agir com astúcia. A astúcia valia mais que a força. Sequer a polícia conseguiu prender alguém dos poderosos e descumpridores da lei.  A astúcia venceu sempre. Ninguém queria o mal de ninguém. Queriam apenas a manutenção dos privilégios. Não sentiam culpa em suas almas. Eram políticos que sabiam o que queriam.

sábado, 12 de setembro de 2015

Jogos de linguagem em Wittgenstein


Jogos de linguagem em Wittgenstein[1]


Neste estudo falaremos apenas da segunda fase de Wittgenstein, pois entendemos como mais relevante para o ensino médio as questões apresentadas nas investigações filosóficas.  Nesta fase passou a afirmar que é impossível uma redução legítima entre um conceito lógico (da linguagem) e um conceito empírico (realidade). Em outras palavras, a linguagem não é a captura conceitual da realidade, isto é, não é a reprodução do objeto, mas sim uma atividade, um jogo. E os jogos de linguagem adquirem seu significado no uso social, nos diferentes modos de ser e de viver no qual a linguagem está inserida. Estes jogos, portanto, são produzidos socialmente e não individualmente. “A linguagem é como uma caixa de ferramentas”.  Ela não é falsa ou verdadeira, mas se sabemos ou não a usar.  A tarefa da filosofia é usar adequadamente a linguagem, sabendo dos seus limites e calando-se diante do que não pode ser falado.
Na a obra Investigações Filosóficas o filósofo fala em semelhanças entre jogos de linguagem. Esse pensar dá mais vitalidade a linguagem, pois exercitamos tais jogos na vida cotidiana adaptados a cada circunstância: trabalho, lazer, disputas filosóficas e etc. O que há em cada situação é apenas uma “semelhança” de família. Assim pensando Wittgenstein, nas investigações, conclui que o sentido da palavra é o seu uso e o papel da filosofia é esclarecer o uso de cada uma das palavras em cada jogo de linguagem. 
A linguagem para este filósofo é baseada no habitual, no cotidiano.    Wittgenstein diz que há várias maneiras de representar os fatos, existem muitas linguagens semelhantes a jogos governados por regras próprias, inerentes a um dado contexto, cada jogo. Pertence a uma certa forma de vida onde tira seu sentido. Esse sentido se dá no uso que se faz da linguagem. Uso contido no cotidiano, nos modos comuns de falar ou nas linguagens específicas de artesãos e dos técnicos, e que não necessita de esclarecimentos. O fim de um determinado jogo é definido pela forma de vida em que se insere esse jogo. O proferimento humano é responsável por um padrão de correção. Tal padrão é um artefato humano. Isso não quer dizer que um indivíduo pode decidir por si mesmo o que é certo e o que é errado na arte da comunicação. Estamos vinculados à concepção que fazemos de nós mesmos como seres que observam um mundo independente e nele agem.  Se nos opomos a verdades que nos parecem necessárias, tal se dá apenas porque fomos nós que criamos as regras que as fazem ser assim; e   também podemos abrir mão daquilo que criamos.
Fica mais evidente a existência de jogos quando ensinamos uma criança. Dizemos, “Isto é um giz”.  Ela entende. Mas de repente ela nos pergunta, “O que é isto? Como mostrar a palavra isto? Patenteia-se que o significado de isto ou ali se aprende no seu uso mesmo e não tanto no aprender do uso. As palavras só se tornam claras no seu uso comum num determinado jogo de linguagem. A palavra explica-se no contexto em que for usada. Representar uma linguagem significa representar-se uma forma de vida. Essa referência à vida nos faz lembrar movimento, associações e variações. Assim é nossa linguagem.
As palavras explicitam-se quando nos inteiramos do jogo em que elas fazem parte. A frase do chefe ao funcionário: “Tu podes fazer isso para mim? ” Para o funcionário significará, apesar de ser uma pergunta, uma ordem na práxis da linguagem do escritório. Mas esse mesmo funcionário, ouvindo a mesma frase, mas proferida por um amigo, a entenderá de forma diferente. Uma expressão dita a um estranho, por exemplo, “Ë legal! ”, será ambígua. Poderá significar um fato juridicamente válido ou uma gíria com sentido bem diverso. Para reduzir a ambiguidade, torna-se necessário que convivam algum tempo no mesmo jogo.
Fica então evidente, que simplesmente denominar não faz uma linguagem. Quando apontamos à uma criança muito nova uma mulher e dizemos ”mãe”, a criança entenderá imediatamente que todos têm mãe? Que nem todas as moças são mães?  Que a mesma mulher que é mãe, também é tia, irmã, esposa, empregada? E quando ouvir a expressão “mãe pátria? ” Entenderá ela que a palavra mãe ocupa vários “lugares” nos vários jogos de linguagem?
A linguagem funciona em seu uso. Não nos cabe indagar sobre os significados das palavras, mas sobre suas funções práticas. Essas funções se exercem na vida. Isoladas de todos os contextos, a expressão não deve ser transformada em objeto de ponderações profundas sobre sua essência. Devemos considerar toas as espécies de contexto em que ela pode aparecer, só assim a elucidaremos.
Segundo o autor a linguagem engendra, ela mesma, suas superstições. A filosofia tem como tarefa esclarecer e neutralizar os efeitos enfeitiçadores da linguagem. O problema encontra-se no ímpeto em perguntar sobre a essência da linguagem. Devemos voltar nossa atenção a estudos sobre o funcionamento da linguagem.  Os usos múltiplos e variados, constituem múltiplas linguagens. Ela é um conjunto de jogos. Esses jogos são como ferramentas usadas para esclarecer o que queremos expressar. 





[1] Bibliografia:
Abbagnano, Nicola. A sabedoria da filosofia, Rio de Janeiro, Vozes, 1989.
Cotrim, Gilberto. Fundamentos da Filosofia. 15a edição. São Paulo. Editora Saraiva. 2000.
Doria, Francisco Antônio. Marcus vida e obra, Rio de Janeiro, José Álvaro editor, 1969.
Stegmüler, Wolfgang. A filosofia contemporânea, 6a edição, São Paulo, USP, 1977.
Wittgenstein, Ludwig. Investigações Filosóficas, 3a edição. São Paulo. Abril Cultural, 1984.

Pauta dos costumes. Vamos falar sobre ela?