A
liberdade
Em um primeiro momento
parece que temos a certeza da ausência da liberdade. Pensamos a liberdade não
porque a sentimos, mas porque temos falta dela. Sempre foi assim. Ela parece
ser uma utopia, algo como um horizonte que nos faz viajar para o futuro. Mesmo
que não conheçamos a verdade da liberdade, ela é a esperança que nos faz lutar
por um amanhã melhor (e já que estamos falando em liberdade, cada um é livre
para definir o que é um amanhã melhor).
Para Jean-Paul Sartre, a
liberdade é o próprio fundamento do ser do homem. Ela está na raiz de seu
comportamento, porque sempre temos que escolher. Nesse sentido o homem é
essencialmente livre, não pode abdicar da liberdade. Para Sartre, o homem está
condenado a ser livre. Segundo esse autor, somos totalmente livres. Isso porque não posso escolher mais ou menos
entre duas ou mais coisas. Mas
não escolhemos livremente sem consultarmos nosso contexto de vida. Primeiro
aceito quem sou e após livremente escolho fazer o que quiser de mim. É uma liberdade vivida: sujeita-se às condições do
nosso dia a dia. A possibilidade de
liberdade é construída a cada momento: na aceitação das determinações das quais
não se pode fugir e na luta contra as determinações que podem ser superadas.
Sozinho
é possível ser livre. Em sociedade também é?
Numa ilha é fácil. Quero
ver numa metrópole. Sem ninguém por perto faço o que quero. Mas quando estou
com outras pessoas, estou limitado no meu agir.
Segundo Aristóteles o homem é um animal social. Com isso podemos deduzir
que sozinhos nem homens seríamos! Portanto, a questão da liberdade solitária é
impossível. Forçosamente para sermos gente temos que compartilhar a vida, os
espaços, os sonhos, as alegrias.... Sem
pessoas sou escravizado pela solidão.
Portanto, é na prática
que se constrói a liberdade, a partir dos desafios que os problemas do nosso
existir apresentam. Sermos livres significa termos imaginação criadora e a
capacidade de invenção. Para conviver é preciso criar a liberdade possível. A
liberdade é transformadora das relações entre pessoas e entre pessoas e a
natureza. Nada está pronto.
Se
abandonarmos a ideia de liberdade, teremos de abandonar a ética, a moral, o
direito, a cultura e tudo o mais que deriva de atitudes humanas propriamente
ditas; a ética e o direito seriam imediatamente abolidos, e ninguém poderia
ser culpado por suas ações.
Texto
de Ricardo Timm de Souza. Revista Mundo Jovem. junho 2004. Edição número 347
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Liberdade
ética
Podemos falar em liberdade no sentido
ético, quando nos referimos ao sujeito moral consciente, capaz de decidir com
autonomia a respeito de como deve se conduzir em relação a si mesmo e aos
outros. Kant dizia que a liberdade consiste na obediência às leis que o próprio
sujeito moral se impõe.
Ser autônomo é uma
situação de muita exigência, é um desafio que muitas pessoas não conseguem
suportar. Os riscos de enganos, a intranquilidade, a angústia da decisão e a
responsabilidade que o ato livre acarreta, fazem com que a liberdade seja
considerada um pesado encargo. Por isso há tantos que a ela renunciam, para se
acomodarem na segurança das verdades dadas.
Abandonar-se aos desejos
parece ser uma coisa bem fácil. Entretanto, seria algo terrível. Para sermos
instintuais teríamos que nos despir de toda a moral, de toda nossa vivência
social. Não valoraríamos mais nada além da satisfação dos nossos ímpetos
impensados. Dá para imaginar como seria impossível viver num mundo assim.
Podemos então perceber que valorizar alguns comportamentos e limitar outros é uma
tarefa difícil, humana e dolorosa. Não podemos ser totalmente livres...
seríamos escravos dos nossos desejos. Mal negócio, não? Que a ética seja
bem-vinda!
Instinto é uma energia
da mente que expressa as necessidades do corpo e de tudo que valoriza a vida
corporal. São eles que nos fazem reagir e agir quando levamos um susto, por
exemplo. Claro que no nosso dia a dia não é bem assim. Posso lá no fundo de
mim estar com muita vontade de fazer algo, mas minha formação cultural e
moral vão filtrar se vou ou não realizar o que quero e se for possível
realizar, como vou fazê-lo.
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Livre
Arbítrio - Santo Agostinho
Muitas vezes a expressão
livre arbítrio, tem o mesmo significado que a expressão liberdade. No entanto,
Santo Agostinho diferenciou claramente esses dois conceitos. O livre arbítrio é
a possibilidade de escolher entre o bem e o mal; enquanto que a liberdade é o
bom uso do livre arbítrio. Isso significa que nem sempre o homem é livre quando
põe em uso o livre arbítrio, depende sempre de como usa essa característica.
Assim, o livre arbítrio está mais relacionado com a escolha que a pessoa faz. O
livre arbítrio é uma faculdade.
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