Para começar
apresento a mão invisível do mercado, de Adam Smith (1723 – 1790). Esta mão
invisível seria, na ausência da regulação estatal, uma lei: a lei da oferta e
da procura. Esta regularia as relações comerciais. Acima das pessoas, disse
este economista, está a oferta (que baixa os preços) e a procura (que aumenta
os preços ao provocar a escassez dos produtos desejados). Na ausência das
regras ditadas pelos governos, a lei “natural” das relações de comércio
regulariam friamente os homens e as mulheres em seu consumo de produtos. Assim
como a matemática, apesar das paixões humanas, a mão invisível tudo regula.
E já que
falamos em matemática, podemos dizer que esta ciência quer sistematizar as
quantidades, as medidas e prever suas variações. Baseada em que? No raciocínio
lógico que estabelece padrões previsíveis. Esta ciência é humana, criada sob
medida pela humanidade. Entretanto, apesar de viver parasitando as mentes das
pessoas delas prescinde. Ora, o cálculo é exato apesar dos humanos (que erram
muito). Ou seja, dois mais dois são
quatro, mesmo que todos desejem ardentemente que seja cinco. Apesar dos
hospedeiros humanos, o parasita matemática zomba deles e age como se tivesse
vida autônoma. Que ilusão ilógica dos números. Sem pessoas, sem matemática!
De maneira
similar, Adam Smith ao trazer à luz das ciências econômicas a sua mão
invisível, criou mais um parasita. Ou seja, assim como a matemática, apesar
desta mão ser sustentada por humanos e viver deles, é autônoma e rege seus
hospedeiros. Eis dois parasitas esnobes: a matemática e a mão invisível do
mercado. Cospem no prato em que comem. O dia em que a humanidade desaparecer,
estes parasitas morrem também. Afinal, ambos são criados sob medida pelos e
para os humanos.
Matemáticos e economistas são cientistas
que criam parasitas. Desculpem a franqueza.
A prova disto é
o funcionário de uma empresa fornecedora de produtos para um supermercado, que
morreu em serviço, e foi diligentemente ocultado por guarda-sóis. Ocultou-se a
miséria humana para que a matemática das vendas e a mão invisível do mercado
continuassem operando. Afinal, humanos atrapalham a coerência e a lógica da
matemática e da economia.
Não creio,
sendo sincero novamente, que os funcionários e a direção do supermercado tenham
de má-fé ocultado o falecido. A culpa é da matemática e mais ainda da mão
invisível. Ambos os parasitas infiltrados nos cérebros humanos manipularam as
consciências, e fizeram com que procedessem desta forma. Afinal, era a conduta
mais lógica. Por que parar as vendas só por que uma pessoa que morreu? Esta não
consumiria mais, seria um zero na economia. Mas, as demais pessoas continuariam
a consumir. E consumir, sabe-se, é um direito inalienável. Facilitar o consumo
sempre é o mais lógico.
Pelo hábito e
pela lógica do mercado, é possível entender o procedimento tão inumano. Ora,
como já disse, a matemática e a mão invisível não são humanas. São produtos da
humanidade, mas não sofrem das incoerências ilógicas das pessoas. Estes parasitas das mentes são alucinantes.
Produzem ilusões estranhas. As pessoas calculam tudo menos os efeitos da
banalização de suas próprias vidas. Hoje foi o funcionário escondido para não atrapalhar
o comércio. Amanhã será eu ou você.
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