A confiança tem a ver com a estabilidade. O sujeito na
sua história pessoal, sempre agiu da mesma forma. Presumivelmente, amanhã e
depois agirá da mesma maneira. A
história da pessoa ou de uma instituição, conferem razoabilidade. Por
consequência, propiciam a esperança de que as mudanças (se houver) serão
ponderadas, processuais e previsíveis.
As autoridades públicas, notadamente as do judiciário, devem ser assim:
previsíveis em suas condutas. Mais do que a mulher de Cezar, devem ser e
aparentar ser. Duas faces da mesma moeda: ser e aparentar ser. A confiança vem
com a experiência. O tempo faz com que eu confie. É um namoro, uma amizade
delicada. Não basta apenas obter a confiança, mas mantê-la. Um deslize, uma
mentira, uma oscilação e pronto, a confiança se fragiliza. Minha mãe dizia (e
diz): é como um prato, quando quebra, mesmo colado, fica a rachadura.
A credibilidade me lembra ter crédito: ter disponível
para meu uso um valor maior do que eu de fato possuo. A pessoa agiu sempre de
tal forma, que acumulou confiança. Pode até gastar um tanto a mais, pois tem
crédito moral, tem bastante ainda em depósito. Então, quando alguém diz algo
depreciativo em relação a quem tem credibilidade, o ouvinte logo diz: “Não acredito. O fulano nunca foi assim.
Mesmo que haja fortes indícios, não creio!” A pessoa que tem credibilidade,
tem sempre o benefício da dúvida a seu favor. In dubio pro credibilidade!
Os dois parágrafos anteriores justificam a união ética
entre confiança e credibilidade. Em
ambos os casos, a história no tempo da pessoa ou da instituição, induzem às
demais pessoas a esperarem uma conduta mais ou menos linear: quem foi “do bem” até hoje, é esperável que
amanhã também o seja. Mesmo que as verdades fáticas oscilem, mesmo que as
ciências descubram a cada momento coisas novas desmentindo verdades; a crença
pessoal na importância da conduta ética dá certa previsibilidade às ações
futuras.
Por consequência, o descompromisso com a reflexão ética,
resulta num comportamento errante. Agir de forma egoísta, de acordo com a
conveniência do momento, não cria uma história pessoal confiável. Da mesma forma,
a instituição pública que age de acordo com os ventos da política eventual não
enseja confiança. Nada nos faz mais moralmente
previsíveis do que o repensar contínuo sobre a ética. Aristóteles, de um lado afirmava, que o bom
hábito nos faria propensos a sermos bons. Por outro lado, Kant nos alertava que
o que importa é agir de forma que nosso agir possa ser um agir universalizável.
O que os dois filósofos tinham em comum? A preocupação
constante com a reflexão sobre o certo e o errado. E fico feliz em saber que a
história nos conta que ambos, sempre e sempre, foram virtuosos e previsíveis em
seu desejo de serem corretos.
Credibilidade e confiança: irmãos. Penso que apesar da
realidade demonstrar fartamente que nos equivocamos amiúde, só seremos dignos
da credibilidade e da confiança quando buscarmos ter certeza que procuramos
fazer o correto. E não uma vez ou duas. Mas, como disse antes, que a história
da nossa vida ou das instituições públicas seja a vontade de fazer o correto...
mesmo que não saibamos exatamente o que seja.
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