Sobre
a academia, hoplitas e rapinadores.
Gosto muito da imagem do hoplita[1] grego. Forte e pronto para
a guerra. Envolto em armadura de couro, protegido por armas pesadas. Eram o tanque
de guerra da pré-história das guerras. Temível! Irmanado com seus iguais, se
jogava às mais insanas batalhas. Algo colossal.
Quando saímos das academias, sentimo-nos como os hoplitas.
Armados com princípios éticos potentes e luzidios recém-desenvolvidos para
serem empunhados. Como os guerreiros
gregos, os acadêmicos ao se formarem saem para as grandes batalhas. São
inúmeras. Mas a maioria não são colossais. São escaramuças. São rápidas e
mortais. O ambiente é móvel e mutável. As batalhas hoje tendem a serem ganhas
por ardis e espertezas. Parece não ser
possível a luta leve para guerreiros tão pesados. Blindados. A técnica atual é
a da blitzkrieg! [2]
Fora da academia a moralidade nela desenvolvida, pesa. Princípios
elaborados para blindar o aprendiz, hoje parecem ser pesos mortos. Fora do ambiente
acadêmico, a batalha parece ser para os rápidos. A esperteza se coloca como vencedora das
certezas lineares. Os aprendizes blindados são como vitimas fáceis nas mãos dos
emboscadores. Estes armadilham, argumentam rápido demais. Os hoplitas são
lentos nas suas armaduras. Aguentam os impactos por algum tempo. Mas a
velocidade e as mudanças cada vez mais rápidas não perdoam. Inúmeros guerreiros caem emboscados.
Num primeiro momento, as táticas se sobrepõem à ética. A malícia armadilha quem reflete. O escudo dos princípios da justiça pesa nas
mãos. É mais rápida a flecha treda envenenada por argumentos falaciosos. A
falácia é mais fatal que os silogismos válidos com premissas verdadeiras!
A academia resiste. Quer combatentes éticos, fortes e
coerentes. Prepara os guerreiros para as
grandes lutas. Simula os ambientes possíveis das guerras estrangeiras ao ambiente
escolar. Escudam seus hoplitas. Forjam espadas éticas duras,
inflexíveis. Delimitam horizontes
éticos. As viseiras de couro impedem ao combatente ver opções indignas do bom
combate.
Então o guerreiro sai pronto para o embate. Mas tudo é
muito diferente. Ele tem armas possantes, mas na maioria das vezes o inimigo é
pequeno e rápido. Belisca e não morde.
Envenena mas não dilacera. Então o combatente fica desnorteado. A moralidade parece
pesar demais. Os maliciosos são mais rápidos e não tem nada a perder. Não
precisam de justificativas nem da justiça.
Agem por cobiça e por instintos.
Mas, por que os hoplitas são lembrados e os demais não?
A história rejeita os emboscadores. As medalhas são grandes demais para os peitos
pequenos. O embuste, a fraude, a rapina rápida e a emboscada são inglórios. Os moralmente
pequenos não lutam os grandes confrontos.
As academias produzem grandes guerreiros para espetaculares batalhas.
Não querem menos que isso.
Lembro aos inglórios, rápidos e vorazes, que brigam por
migalhas e despojos: a história é seletiva por querer heróis de espírito. A
história ama os espiritualmente fortes.
Os livros e os louvores pertencem aos hoplitas éticos. Os ventos que ventam para os heroicos são tempestades
para os ratos. Ratos não foram feitos para serem lembrados. Existem apenas para
se multiplicarem e desaparecerem.
Os hoplitas vivem para mudar as sociedades. Existem para
fazerem história, criarem teorias e novos princípios éticos. As almas desses hoplitas
voltam para serem ensinados nas academias. Voltam machucados e heróis. Voltam e
são ensinados aos jovens. Agora, servem para blindar os novos guerreiros. A
história não pode parar. Ela está à espera de novos guerreiros para forjarem
novos tempos.
Reflitam: rapinadores, ratos, vendilhões e guerrilheiros
não sabem nem podem fazer história.
[1]
[1]
Hoplita era o soldado de
infantaria da Grécia clássica. Seus componentes eram cidadãos treinados para
serem soldados. No mundo grego, os Hoplitas eram a melhor infantaria. Dominaram
os combates por séculos.
[2]
O
Blitzkrieg (guerra-relâmpago): Tática militar alemã que consistia
em atacar rapidamente, sem chances de revide. Tinha como tática: a surpresa, a
velocidade e a força.
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