sexta-feira, 9 de julho de 2021

Linguagem coprofílica, do baixo meretrício dos desejos imediatos e sexuais.

 


 

Vou usar a imagem que já usei antes em alguma das minhas falas.

 

Podemos imaginar uma criança que ainda não está em condições maturacionais para usar a fala.  Desprovida da possibilidade de expressar verbalmente suas necessidades primárias, ela tende naturalmente a se agitar e a murmurar. Assim que crescer mais um pouco, vai apontar o que quer ou se mover em direção ao objeto do seu desejo. É bem possível que facilmente  se irrite quando não entendida em seus propósitos. Ao se irritar poderá chorar, gritar e irá se agitar fisicamente. Até aqui, compreensível e aceitável. A motricidade é comunicação eficiente para o bebê.

 

É esperável que, à medida que se expresse oralmente, fique mais calma. Isso por que se fará entendida reduzindo a angústia interna.

 

Passado algum tempo, a criança já começa a usar os rudimentos da língua familiar. Tanto a língua falada quanto a linguagem corporal. Esta linguagem é apreendida na relação com os adultos referenciais. Então a comunicação oral vai se tornando mais viável. A motricidade corporal como instrumento de comunicação, já não é tão fundamental para se fazer compreender. Entretanto, ainda é possível encontrar inúmeras crianças que gritam e se jogam ao chão. Neste caso, a comunicação já se completou (a criança consegue expressar seu desejo imediato), mas este foi negado pelo adulto. Então, a frustração se estabelece. Como ainda não é totalmente possível a ela controlar seus ímpetos, sua raiva se expressa em gritos e esperneios.

 

A maturação da linguagem ajuda a maturação do autocontrole.

 

À medida que é possível ao infante usar a linguagem oral, aprenderá a expressar a frustração mais pela fala do que por se jogar ao chão. Tenderá a dizer mais o que sente, do que espernear ou agredir quem negue o seu desejo. A criança aprenderá pelas suas experiências que quanto melhor falar e argumentar, maior a possibilidade de sucesso em seus intentos.

 

Perceberá que tanto maior será o sucesso, quanto maior for o seu repertório de palavras.

 

Este repertório proporcionará ao infante construir (bons) argumentos. Entre as palavras obtidas por esforço próprio em leituras de livrinhos infantis, ou oriundas das histórias que ouve dos educadores e dos seus pais, e entre as palavras obtidas pela mera repetição do que ouve nas suas relações pessoais, construirá suas ideias (mais ou menos complexas).

 

A linha temporal é aproximadamente esta: emoções/desejosexcitação/movimentação corporal - palavras (repertório)ideias/representações argumentos (finalmente!)

 

 

 

Com a adolescência aprenderá, após longa caminhada no mundo do uso instrumental da linguagem, a argumentar eficazmente buscando algo além de apenas seus desejos pessoais imediatos. Buscará o sucesso nos seus intentos através do convencimento. Convencimento obtido pela estética da complexidade da sedução pelos argumentos.

 

E se houver falha nesta sequência de aprendizagens?

 

O que acontece quando alguém já saudável, maduro, idoso, não consegue ir além dos seus desejos e não possui repertório de palavras para se exprimir? O que acontece quando esta pessoa não leu livros nem teve experiências que ampliassem sua representação de mundo? O que esperar de uma pessoa que, apesar da idade, não extrapolou seu egocentrismo infantil permanecendo no egoísmo dos próprios desejos, empobrecendo sua capacidade de diálogo?

 

Porra! Enfia no rabo da imprensa! Vai para a puta que pariu! Bosta! Merda! Não fode, porra!* Caguei!

 

Percebe-se que sem bagagem de palavras, sem conhecimento da lingua pátria, sem possibilidade de representar o que vê e percebe sem ser de forma chula, fica o indivíduo preso dentro dos interesses do seu próprio corpo. Só pode usar como expressões do seu desejo corporal  egocentrado, suas experiências sexo-intestinais e nada mais. Está preso! Então, está fadado a usar uma linguagem  coprofílica, do baixo meretrício dos desejos imediatos e sexuais.

 

Este sujeito não adulteceu por ser ainda uma criança mal-educada, ou por alguma patologia que imantou sua psiquê na fase anal. Não sei dizer.

 

Fato é que não há mais o que fazer. A mutilação intelectual e os limites que se apresentam nas falas deste sujeito, impedem este indivíduo de exercer cargos de relevância. Notadamente aqueles que precisam exatamente do que falta a este indivíduo: maturidade, inteligência, elegância, argúcia e linguagem altamente elaborada.

 

Resumindo: F@deu!

 

 

*Palavrões do presidente em:  https://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2021-01-27/muitos-palavroes-relembre-6-vezes-que-bolsonaro-soltou-o-verbo-em-declaracoes.html

 

 

sexta-feira, 25 de junho de 2021

Eu quero crer na humanidade. Mas não está fácil.

 

 

 

 

Desde sempre eu ouvi que o bem sempre vence o mal. Com certeza, muito cedo percebi que esta afirmação era mais a expressão de uma esperança que uma realidade. Na pré-adolescência me contaram que o mérito é uma lei universal, e que só os melhores vencem: só os “piores” perdem, por justa consequência. Não demorou muito para eu perceber que essa “verdade” era uma falácia mal-intencionada.  

 

Já adolescente, quase adulto, informaram-me que as pessoas de sucesso amavam somente os trabalhos com maiores salários. Já os fracaçados, o contrário. Quando decidi entrar para o curso de Filosofia, ouvi rumores de familiares que eu havia fracaçado em todas as outras áreas de estudo. Ora, filosofar é fazer nada por quase nada de salário! – murmuraram. Também descobri que isso é uma mentira.

 

Mas, confesso, a ilusão que mais perdurou em mim é que a justiça, a lei, mesmo errando em detalhes, é SEMPRE pensada para todos.  Acreditei que as injustiças pequenas não invalidavam a grandiosidade de cada ato justo deliberado pelos juízes. Até ontem acreditei que a História é mais justa que os juízes, pois ensina e demonstra com fatos os erros das pessoas. Por isso o Nazismo, o Fascismo e os crimes contra a humanidade são severamente apontados como nódoas inesquecíveis. Aí, para minha descrença, vem os NEGACIONISTAS!

 

Atordoado, hoje vejo até a ciência empírica ser desacreditada por tantos!

 

Desde ontem, chocado, já não tenho certeza se a Justiça é justa, e se a História é capaz de apontar as atrocidades que a humanidade realiza de tempos em tempos.

 

QUINHENTAS E TANTAS MIL MORTES depois, uma pessoa (uma pessoa! Um humano!) foi capaz de retirar a máscara que protegia uma criança da infecção mortal. A INOCENTE criaturinha foi filmada durante tal VIOLÊNCIA. Os pais relincharam alegrias, as pessoas aplaudiram e a lei, a Justiça, a História, ainda está calada. Da Constituição Federal ao Estatuto da Criança e do adolescente, do pretenso amor maternal ao tão ANUNCIADO desejo de exaltar a fé cristã: tudo foi inútil e a criança foi exposta.

 

Não só a criança foi exposta. Também foi a hipocrisia. Desnudou-se o desprezo pela lei.  Iluminou-se o anticristianismo de vários cristãos. A humanidade foi libertada de todos os mitos que a enaltecem.

 

A verdade: inúmeros de nós não somos racionais nem amorosos.

 

Este evento me fez descrer no poder pedagógico da História.  Já tivemos o holocausto e os campos de concentração. Já tivemos Hitler! Já tivemos Mussoline! Já tivemos guerras insufladas por potências para ganhar dinheiro!  O que aprendemos? Quase nada.

 

Parece-me ser mais evidente e fácil acreditar no mal que no bem.

 

Ao alienígena desavisado que viesse visitar a terra eu perguntaria: Você já encontrou uma espécie que, na frente de todos e de seus pais, expõe seu filho inocente a uma doença fatal tão dolorosa quanto a COVID? Talvez ele respondesse: Sim, mas já exterminamos todas elas.

 

Fica aqui a reflexão. Ainda podemos acreditar no bem? Se a resposta for sim, não podemos esquecer esta cena: a criança exposta; a DESUMANIDADE também exposta. Que ela fique registrada nos livros de História. Que seja mostrada nas salas de aula como o exemplo do que não deve ser.

 

Eu quero crer na humanidade. Mas não está fácil.

 

 

Quêm lê muito não faz nada. Verdade?