Tenho o hábito de refletir antes sobre o
conceito da palavra chave que vou usar nos artigos. Neste caso, a palavra referência
é fanático. O que vem a ser isso? Refere-se a pessoa que se (auto)julga
inspirado por algo/alguém superior a todos os demais. Para ser fanatismo, esta
crença tem que ser extrema. Não pode ser branda ou razoável. O fanático
demonstra excessivo/extremo apreço e entusiasmo por um líder. E se acha especial por (julgar) ser escolhido
por ele. A partir daí, creio ser possível identificar o fanático por suas ações
externas a si mesmo, ou seja, suas atitudes.
Por ser uma criatura extremada, fica fácil observar no mundo dos fatos o
seu fanatismo.
Tenho certeza que posso encontrar estas criaturas em situações
irracionais, geralmente em grupos, irmanados por slogans desprovidos de
realidade e cheio de conceitos feitos antes (preconceitos). Conceitos já
fabricados pelo líder, pela seita, pela ideologia, por um mito. Nestes grupos, cada indivíduo é absorvido
pelo outro. De forma que sozinhos são fracos, hilários até, mas em grupo são
tenebrosos. Cada indivíduo é risível
sozinho, mas temível em bandos, em hordas.
Estes indivíduos só encontram sentido em suas vidas quando sustentados
pelo fanatismo.
Exemplar
é o caso da menina de dez anos estuprada pelo tio de trinta e três anos. Abuso
que teve início aos seis anos de idade da criança. O natural das massas seria
odiar o agressor e proteger consternadamente a vítima. Agora apresento o
exemplo do fanatismo.
Um grupo
religioso agride a vítima criança e esquece o agressor adulto. Chamam a vítima
de assassina, pois terá que fazer o aborto legal. Esta palavra - aborto! - desencadeou
a fúria fanática. Quase que diziam: “matemos a mãe/menina para salvar a vida do
feto. Matar para preservar a vida.”. Ou
ainda: “se morrer a mãe/menina na gestação, aceitamos. Se salvá-la retirando o
embrião, que ela viva amaldiçoada.” Certamente estes fanáticos acreditam que o
Deus perfeitamente bondoso assim quer.
Todo o fanático acredita falar em nome de alguém: até de Deus!
Estes anencéfalos adultos não veem contradição no que dizem, no que
fazem e nas ideias que expõem. Não
possuem mais opinião própria, só a coletiva. São bonecos de ventríloquo do
líder sendo aplaudidos apenas por seus iguais. Sob o ponto de vista das
ciências da mente, talvez sejam neuróticos.
Eles têm perturbações do psiquismo que provocam desordens no
comportamento. Não são doentes do corpo, padecem na alma. Tem consciência do que fazem, mas se auto
justificam em grupo. Um olha para outro e diz: “O mal que estas fazendo é um
bem no contexto de um valor maior”. Por
isso, não podem mais viver fora do grupo. São sofredores que provocam a dor
alheia na tentativa de mitigar as suas. Cedem a comportamentos rituais e
complexos para se afastarem da reflexão sobre seus próprios atos. Se religiosos,
oram. Se fanáticos políticos, repetem refrões ideológicos.
Nem
as redes sociais, tão cheias de pontos de vista diferentes, podem salvá-los.
Estas criaturas tem suas próprias comunidades para se protegerem do que é
diferente deles mesmos. Blindam-se contra a diversidade.
O
fanatismo revela dificuldade de viver em sociedade. Se acham vítimas (heróis ou
heroínas) ou se acham superiores. Como
não são razoáveis, se autoconvencem destas verdades. Creio que sabem que mentem para si mesmos,
então investem em rituais coletivos para esquecerem, para perderem a
consciência do mal que produzem. Por
isso, evitam qualquer dúvida. Caso tenham alguma, o líder responderá. Então,
por que pensar se são pensados por alguém? Por que pensar por si mesmos se são
apenas porta-vozes de um líder??
Estes fanáticos são neuróticos que optaram por viver suas neuroses em
conjunto. Sofrem, mas encontram justificativas coletivas para seu sofrer.
Sofrem na terra, mas ganharão os céus. Sofrem agora, mas no futuro a política
trará um país melhor, um céu na terra. Contam para si mesmos: somos os escolhidos.
Gritam slogans para não ouvirem os gritos de dor de quem fazem sofrer.
Não
são só os extremistas religiosos que se “neurotizam”. Os seguidores da política
extremista também. São fanáticos os que pregam a morte, a dor, a tortura, a
ampliação das prisões e a produção de cloroquina. Nem sempre este tipo
neurótico é o outro (o “não-eu”). Se tu concordaste com o sofrimento da
menina/mãe de dez anos, com certeza precisas de um tratamento psicológico (ou
psiquiátrico).