quarta-feira, 11 de janeiro de 2017
quarta-feira, 4 de janeiro de 2017
Resenha: A arte de amar Erich Fromm
Nascido em 1900, em Frankfurt, Alemanha, Erich Fromm estudou
psicologia e sociologia. Doutorou-se em Filosofia em Munique e recebeu sólida
formação psicanalítica no Instituto Psicanalítico de Berlim. A partir de 1933,
ano da ascensão de Hitler ao poder, passa a
exercer o cargo de professor nos
EUA, em Chicago, e, posteriormente, a exercer a clínica em Nova York. Foi
professor em várias universidades, inclusive no México. E seus livros passaram
a se ater em questões humanistas que atraíram a atenção de profissionais de
vários campos, como Sociologia, Filosofia e Teologia. De certa forma, muitas de
suas ideias foram contemporâneas de várias abordagens humanistas.
Na sua obra A arte de amar, salienta um equívoco importante: uma prova
de amor seria não amar a mais ninguém. Esse sentimento é uma atividade da alma;
caso ame alguém, amo a todos, amo tudo. “Amo em ti a todos, através de ti amo o
mundo, amo-me a mim mesmo em ti”.
O amor erótico é o anseio pela fusão, pela união com outra pessoa.
Aqui aparece a exclusividade e não universalidade. Acrescenta que é,
provavelmente, a forma mais enganosa de amar. Isso porque confundimos com cair enamorado, algo súbito e
avassalador. Mas esse avassalamento tem
tempo curto de vida. A familiaridade com a pessoa faz surgir um sentimento que
diz: nada mais há para conhecer na pessoa. Mas se nos déssemos tempo para
realmente nos aprofundar na intimidade da pessoa, descobriríamos a
impossibilidade de conhece-la totalmente em suas profundezas. Sem conhece-la totalmente, a cada dia o
milagre se renovaria: a pessoa eleita teria sempre coisas novas, maravilhas
novas a serem descobertas. O desafio do conhecimento dela seria eterno. De
outra forma, a pessoa seria explorada à exaustão. Exaurida perderia o brilho e
valor. Tornar-se íntimo não é somente atingido pelo sexo, ou pela fala diária
sobre “o que temos em comum”; nem mostrarmos nossas frustrações e magoas sendo
sinceros ao máximo. Nem a complexa desinibição com relação ao companheiro (a) é
intimidade. Esse tipo de proximidade torna-se rotineira e morre.
O amor erótico contrasta com o amor fraternal e o amor materno. O amor
erótico consiste na união com uma só pessoa, diferente dos demais amores, que
não estão restritos a uma única pessoa. O amor pode inspirar desejo sexual, mas
mistura-se a ternura, essa ternura é produto do amor fraterno que está em nós.
Fromm diz isso por que uma das características do amor erótico é a
exclusividade, a exclusão do resto da humanidade. Mas o casal que ama é também
humanidade, então há um sentimento de separação entre o casal, e entre o casal
e o resto das pessoas. Para corrigir essa distorção, a pessoa que ama, ama na
outra toda a humanidade, tudo que vive.
Entregamo-nos profundamente a uma única pessoa, mas não nos fechamos ao
amor fraterno que vive em nós.
O problema na reflexão de Fromm é que se amamos fraternamente, e em
essência somos todos iguais, somos todos um. Não fará diferença quem
amemos. Ele resolve dizendo que amar é
um ato de vontade, de decisão a quem vou entregar-me. Existe um aspecto
racional por trás da indissolubilidade do matrimônio (em suas diversas formas).
Amar alguém não é só sentimento, mas decisão, um julgamento, uma promessa. Isso
seria a morte do amor e a vitória da racionalidade fria? Não, pois como Fromm
diz, amamos a humanidade fraternalmente, escolhemos uma pessoa porque apesar de
sermos um, somos pessoas diferentes, irrepetíveis. Essa especificidade nos faz
sermos escolhidos.
Para Erich Fromm o amor consiste na compreensão de que ele não é uma
situação acidental em que nele se “tropeça”. Na verdade, é algo que, na
qualidade de arte, exige conhecimento e esforço.
Quanto ao amor próprio Fromm, traz importantes informações. Alegar que
amar a si é inversamente proporcional a amar o próximo, não é bem verdade. Amar
o próximo é louvável. Eu e o outro somos humanos; então amar outra pessoa é
amar a mim mesmo! Por outro lado, amar a mim mesmo me torna apto a amar o
outro. É impossível, segundo Fromm, amar só o outro. Quem não ama a si também,
não pode amar ninguém.
A pessoa egoísta só se interessa por si mesma, não sente prazer em
compartilhar, só quer tomar do outro. O
mundo é visto como algo a ser dominado e dele subtraído tudo. O egoísta não pode ver senão a si mesmo,
julga tudo por si mesmo. É, portanto, incapaz de amar. Importante: para Fromm a pessoa egoísta não
ama demais a si mesma, ao contrário ama de menos: odeia-se. Furta da vida o que
por si mesmo não consegue atingir. Quer encobrir o fracasso em cuidar de si
mesma.
Fromm diz que o amor é uma atitude, uma orientação de caráter. Não há, a priori, um objeto de amor, mas uma
visão amorosa com relação ao mundo. Pois se amo uma única pessoa, excluo o
resto da humanidade. Aqui meu afeto torna-se simbiótico ou um egoísmo ampliado.
A sociedade capitalista se funda na ideia de um mercado o mais livre
possível. O mercado é regulado pela
utilidade das coisas. Nele tudo é transformado em artigo de compra e venda,
desde as coisas mortas até a energia e capacidade de trabalho. Fromm afirma: “O capital comanda o trabalho; as coisas
acumuladas, que são mortas, têm valor superior ao trabalho, às forças humanas,
àquilo que é vivo”. Ele alerta que o capitalismo tem necessidade de pessoas
que cooperem sem atrito. É importante que consumam muito e de forma
padronizada. No capitalismo o homem experimenta suas forças de vida como um
investimento que deve produzir o máximo de lucro possível. Estamos tão
alienados que mesmo buscando nos aproximarmos dos outros, não conseguimos
superar a separação. Então a civilização
moderna/capitalista nos oferece soluções de curto prazo, fáceis e instantâneas:
o trabalho rotinizado e burocratizado, a diversão acrítica e o consumo
compulsivo patrocinado pela mega indústria da diversão. Mas isso não diminui a
separação entre as pessoas! E como fica
o amor nesse ambiente? Estamos
impossibilitados de amar: “Autômatos não
podem amar; podem trocar seus fardos de personalidade e esperar um bom
negócio”. O casamento passa a ser
uma equipe de dois destinada a auferir lucros. Um ajuda o outro a ter sucesso
no mundo capitalista. “Forma-se uma aliança de dois contra o
mundo, e esse egoísmo a dois é enganosamente tomado por amor e intimidade”.
O amor é uma arte. E só aprendemos uma arte praticando-a: não há uma
receita. A experiência de amar é pessoal e intransferível. E para dominar uma
arte é necessário disciplina e concentração. Concentração é algo muito difícil
de conseguir em nossa cultura. Somos multifuncionais, multiuso, fazemos tudo ao
mesmo tempo. O tempo tem pressa. Somos incapazes de ficarmos sós, em companhia
de nós mesmos. “Sentar-se quieto, sem falar, fumar, ler,
beber, é impossível para a maioria das pessoas, precisam fazer alguma coisa com
a boca ou as mãos”. Temos que aprender a ficarmos sós conosco mesmos, pois
é essa capacidade uma das condições da capacidade de amar. Aprender a
concentrar-se exige do aprendiz que evite a conversação trivial. Falar das coisas de maneira abstraída não é
concentrar-se, falar de lugares comuns, falar do que o coração não sente não é
ficar atento. Deve-se inclusive evitar
as más companhias. “Por más companhias
não me refiro apenas a pessoas que sejam viciadas e destruidoras; deve-se
evitar a companhia destas por que sua órbita é venenosa e deprimente. Falo
também da companhia dos zumbis, da gente que tem a alma morta, embora seu corpo
esteja vivo; daqueles cujos pensamentos e conversas são triviais; que tagarelam
em vez de falar e que emitem opiniões estereotipadas em vez de pensar”.
Outro fator é a falta de paciência. Queremos andar rápidos, mas a
rapidez é má professora de uma arte. “O homem moderno pensa que perde alguma coisa
– o tempo – quando não faz as coisas rapidamente; todavia, ele não sabe o que
fazer com o temo que ganha – a não ser matá-lo”. Aristóteles dizia que obtemos
as virtudes através do hábito. Semelhantemente Fromm diz que se alguém quer
tornar-se um mestre em alguma arte, devote a vida inteira a ela.
“Com relação à arte de amar, isto significa que quem aspire a tornar-se
mestre nessa arte deve começar por praticar a disciplina, a concentração e a
paciência, em todas as fases de sua vida”.
Mas, afinal, qual é a principal condição para eu realizar minha
capacidade de amar? A superação do narcisismo. Para o narcisista só é real o
que existe dentro de si mesmo. O que é exterior só visto sob o ponto de vista
do útil e do perigoso. A pessoa insana toma como verdadeiro só aquilo que vai
na sua cabeça, como num sonho eterno.
Todos nós somos meio insanos, somos atingidos por uma visão narcísica do
mundo. Nas palavras de Fromm: “A faculdade de pensar objetivamente é a
razão; a atitude emocional por trás da razão é da humildade. Ser objetivo, usar
a razão, só é possível quando se consegue uma atitude de humildade, quando se
emerge dos sonhos de onisciência e onipotência que se tem quando criança”.
Por isso o amor requer uma certa renúncia ao narcisismo, requer o
desenvolvimento da humildade, da objetividade da razão. Humildade e
objetividade são inseparáveis. Preciso
ver a pessoa que vou amar como ela realmente é, renunciar a quadro que pinto
dela com as cores do meu desejo. A pessoa pode fazer parte do meu projeto
pessoal, mas não é o meu projeto pessoal.
Não podemos deixar de salientar que Fromm diz: a fé em si mesmo é
condição fundamental para o amor. Essa ”fé” é racional, uma convicção
fundamentada na minha própria experiência ou sentimento. É a certeza e a
firmeza que nossas convicções possuem, isso de forma argumentada, defensável e
objetiva. Ter fé em mim abre espaço em meu psiquismo para ter fé no outro, para
dota-lo da capacidade de eu amá-lo. “Ter
fé requer coragem, a capacidade de correr um risco, a disposição de aceitar
mesmo a dor e a decepção”. Quem tiver pouca fé em si, ou pouca fé no
noutro, não pode amar em plenitude.
Em resumo: o homem
moderno transformou-se em artigo, em coisa; experimenta sua energia vital
como um investimento com que pode alcançar o mais alto lucro, considerando
sua situação no mercado de personalidades. Alienou-se de si, dos semelhantes
e da natureza. Seu objeto principal é a troca proveitosa de suas capacidades,
conhecimentos e de si mesmo, de seu “fardo de personalidade” com outros que
querem igualmente uma troca justa e proveitosa. A vida não tem meta, exceto
de movimentar-se, nem princípio a não ser a de boa troca, nem satisfação que
não seja a de consumir. (Revista pensamento biocêntrico. Página 36.
http://www.pensamentobiocentrico.com.br/content/edicoes/14full.pdf)
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terça-feira, 13 de dezembro de 2016
Desobediência civil
Prof. Amilcar
Bernardi
Art. 1º - Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o
exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta
Constituição.
Nos
países democráticos a liberdade é um dos valores de maior importância. O
Estado está a serviço dos interesses do povo e não ao contrário. Portanto, se o Estado exorbita, e na medida em que exorbita, há quem defenda que os cidadãos podem tomar para si o direito de obedecer/desobedecer ao arbítrio estatal.
Estado está a serviço dos interesses do povo e não ao contrário. Portanto, se o Estado exorbita, e na medida em que exorbita, há quem defenda que os cidadãos podem tomar para si o direito de obedecer/desobedecer ao arbítrio estatal.
É
um momento de empoderamento popular. A liberdade passa a ser exercida acima do
poder de coação das autoridades. O Estado fica impedido de obrigar o
cumprimento da sua ordem. O indivíduo poderá desobedecer a ordem exorbitante.
Não é possível exigir do cidadão aquilo que extrapola o contrato social.
O
ser humano nasceu livre, depois criou o Estado. Essa liberdade pode ser
retomada quando os direitos e garantias constitucionais são aviltados. Afinal,
o Estado está limitado por sua constituição. As pessoas só aceitam a redução da
sua liberdade natural, nos limites constitucionais. Nem um milímetro a mais. As
pessoas não deram um “cheque em branco”. O contrato social firmado está claro
nas regras das Constituições. O cidadão obedece porque acredita nas leis e fará
todo o possível para continuar nelas acreditando. Inclusive, aceita como justa
a coerção sobre aqueles que, conscientes do contrato social, o descumprem
injustificadamente. Inclua-se nessa afirmativa as próprias autoridades.
Desobediência
civil: Resistência pacífica ao poder
constituído. Forma de oposição
política que se manifesta no descumprimento das normas legais e no não-atendimento
às ordens da autoridade.
Dicionário
Jurídico. Ivan Horcaio. 2008
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O que justifica a
fé na lei é a sua racionalidade. Todos sabem que pior seria se elas não
existissem, ou que fosse permitida exceções arbitrárias às suas determinações.
Não pode haver cobranças excessivas ou liberalidades injustificadas,
irracionais. Se a jurisdição se baseia no povo que a garante ao mesmo tempo que
a sofre, cabe também a ele a desobediência em casos excepcionais.
Na Constituição de
1988, a subordinação das autoridades ao povo é clara no seu artigo primeiro e em
seu parágrafo único, onde é consagrada a mera representatividade dos comandantes do país. Mas, essa mesma
constituição, não deixa claro os instrumentos legais determinantes para a
intervenção popular no legislativo ou no executivo. Não há, no Brasil, amparo
evidente à desobediência civil. Ou seja, não está regulamentado o direito da
não ação do cidadão, o direito de não obedecer ao que é exorbitante, ao que é
injusto.
Quem seria o
titular do direito à desobediência? O cidadão com suas prerrogativas e obrigações,
consciente das normas que desobedece e das suas consequências. A pessoa desobediente não quer
algo somente para si, mas quer com sua omissão consciente e cidadã, mostrar
a injustiça da lei, a sua inconformidade cívica em relação ao exorbitamento do
Estado. Por isso, o indisciplinado quer o novo, a mudança, e não entende como
normal sua indisciplina. Quer-se mais resistir ao injusto do que negar a importância
da disciplina frente à lei.
Pode-se dizer que
o insurgente momentâneo defende a Constituição, pois crê defende-la de um mau
uso dela pelas autoridades. Na voz de Henry Thoreau convém lembrar: “ O
governo, no melhor dos casos, nada mais é do que um artifício conveniente, e
todo o governo algum dia acaba por ser inconveniente. ” Thoreau, um dos
principais pensadores da desobediência civil, não considerava o desobediente
alguém contra o governo. O indisciplinado se contrapunha ao ato injusto e, ao
não o aceitar, contribuía para um governo melhor.
Quem defende a
Desobediência, entende que um governo melhor não vem necessariamente da
maioria, afinal, quantidade não é sempre sinônimo de qualidade. Há a
possibilidade de, ao atender o cidadão desobediente, o Estado seja mais justo do
que ao tender a maioria. Para o desobediente civil, o questionamento pacífico e
constante, a crítica persistente, mesmo que inoportuna ao olhar do dirigente, é
a garantia da qualidade das ações governamentais.
quinta-feira, 1 de dezembro de 2016
segunda-feira, 5 de setembro de 2016
Jurisdição, Estado e Direito.
Prof. Amilcar Bernardi
Fácil imaginar a seguinte situação: náufragos que se
salvaram numa ilha remota. Sabedores que, por alguma fatalidade, nunca seriam
resgatados; organizam-se, dividem tarefas e estabelecem um regramento mínimo
para que pudessem conviver com alguma tranquilidade. Mas a tranquilidade é algo
por demais frágil entre criaturas racionais e egocêntricas. Logo alguém por ser
indolente, induz outro a trabalhar mais que ele. Já outro acumula o que não
poderia ser acumulado. Outra ainda, afirma seu direito natural de nada fazer ou
fazer o que quiser.
Como resolver os impasses? Quem resolveria? Para alguns a
autocomposição foi suficiente, mas para os mais emocionalmente duros, não foi
possível. A discussão dos náufragos
sobre o que é justo, cede à questão da eficácia da norma estabelecida. Daqui
para diante é fácil imaginar que estas pessoas perdidas criam um terceiro. Este
terá como função aplicar e fazer cumprir tais normas. De maneira livre, os
ilhados criam algo que os limita: o Estado. Ele resolverá os conflitos de forma
obrigatória. Os comportamentos sociais serão agora avaliados, tutelados e
regrados de forma coercitiva. Os particulares cedem ao coletivo. Surge então o
que chamamos de jurisdição. Somente após a criação deste terceiro em relação a
sociedade, é que podemos falar em jurisdição. É o Estado que arbitra os
conflitos tendendo a pôr fim às disputas; mesmo que pelo uso da força legal.
Evidentemente que o Estado moderno não é um ente que age por
arbítrio próprio, sem limites e sem racionalidade. O direito, as normas e
consensos, enfim, as leis surgem, fundamentam e legitimam o Estado e seus
juízes. É ele (com seus três poderes – hodiernamente) quem diz o direito e o
faz cumprir. Agora pode-se dizer que há
justiça, no sentido de que justo são as ações estatais - limitantes das
liberdades civis - que seguem princípios e ritos. São os processos legais
estritamente vinculados às leis.
O Estado-juiz quer a harmonia social entendida como a
existência mínima de conflitos entre particulares. Para isso é preciso que seja
legítimo e que seja imparcial. Assim ele será, enquanto manter-se nos trilhos
do direito consolidado nas constituições. Imparcial e equânime; estes são os
princípios que devem rege-lo. Ficará inerte até ser provocado: os juízes agem
quando houver interessados que os provoquem. Não haverá Estado de exceção em
tempos de paz. Sempre respeitará os direitos e garantias constitucionais.
Somente assim os conflitos serão dirimidos pela ordem jurídica constitucional.
Só há Estado porque há conflito. Só há normas e o Direito
porque há conflito. Da mesma forma, o conceito de jurisdição surge da mesma
necessidade de evitar os conflitos intersubjetivos. E só uma instituição pode
impor a paz social: o Estado-juiz.
domingo, 22 de maio de 2016
Elementos conceituais de liberdade
A
liberdade
Em um primeiro momento
parece que temos a certeza da ausência da liberdade. Pensamos a liberdade não
porque a sentimos, mas porque temos falta dela. Sempre foi assim. Ela parece
ser uma utopia, algo como um horizonte que nos faz viajar para o futuro. Mesmo
que não conheçamos a verdade da liberdade, ela é a esperança que nos faz lutar
por um amanhã melhor (e já que estamos falando em liberdade, cada um é livre
para definir o que é um amanhã melhor).
Para Jean-Paul Sartre, a
liberdade é o próprio fundamento do ser do homem. Ela está na raiz de seu
comportamento, porque sempre temos que escolher. Nesse sentido o homem é
essencialmente livre, não pode abdicar da liberdade. Para Sartre, o homem está
condenado a ser livre. Segundo esse autor, somos totalmente livres. Isso porque não posso escolher mais ou menos
entre duas ou mais coisas. Mas
não escolhemos livremente sem consultarmos nosso contexto de vida. Primeiro
aceito quem sou e após livremente escolho fazer o que quiser de mim. É uma liberdade vivida: sujeita-se às condições do
nosso dia a dia. A possibilidade de
liberdade é construída a cada momento: na aceitação das determinações das quais
não se pode fugir e na luta contra as determinações que podem ser superadas.
Sozinho
é possível ser livre. Em sociedade também é?
Numa ilha é fácil. Quero
ver numa metrópole. Sem ninguém por perto faço o que quero. Mas quando estou
com outras pessoas, estou limitado no meu agir.
Segundo Aristóteles o homem é um animal social. Com isso podemos deduzir
que sozinhos nem homens seríamos! Portanto, a questão da liberdade solitária é
impossível. Forçosamente para sermos gente temos que compartilhar a vida, os
espaços, os sonhos, as alegrias.... Sem
pessoas sou escravizado pela solidão.
Portanto, é na prática
que se constrói a liberdade, a partir dos desafios que os problemas do nosso
existir apresentam. Sermos livres significa termos imaginação criadora e a
capacidade de invenção. Para conviver é preciso criar a liberdade possível. A
liberdade é transformadora das relações entre pessoas e entre pessoas e a
natureza. Nada está pronto.
Se
abandonarmos a ideia de liberdade, teremos de abandonar a ética, a moral, o
direito, a cultura e tudo o mais que deriva de atitudes humanas propriamente
ditas; a ética e o direito seriam imediatamente abolidos, e ninguém poderia
ser culpado por suas ações.
Texto
de Ricardo Timm de Souza. Revista Mundo Jovem. junho 2004. Edição número 347
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Liberdade
ética
Podemos falar em liberdade no sentido
ético, quando nos referimos ao sujeito moral consciente, capaz de decidir com
autonomia a respeito de como deve se conduzir em relação a si mesmo e aos
outros. Kant dizia que a liberdade consiste na obediência às leis que o próprio
sujeito moral se impõe.
Ser autônomo é uma
situação de muita exigência, é um desafio que muitas pessoas não conseguem
suportar. Os riscos de enganos, a intranquilidade, a angústia da decisão e a
responsabilidade que o ato livre acarreta, fazem com que a liberdade seja
considerada um pesado encargo. Por isso há tantos que a ela renunciam, para se
acomodarem na segurança das verdades dadas.
Abandonar-se aos desejos
parece ser uma coisa bem fácil. Entretanto, seria algo terrível. Para sermos
instintuais teríamos que nos despir de toda a moral, de toda nossa vivência
social. Não valoraríamos mais nada além da satisfação dos nossos ímpetos
impensados. Dá para imaginar como seria impossível viver num mundo assim.
Podemos então perceber que valorizar alguns comportamentos e limitar outros é uma
tarefa difícil, humana e dolorosa. Não podemos ser totalmente livres...
seríamos escravos dos nossos desejos. Mal negócio, não? Que a ética seja
bem-vinda!
Instinto é uma energia
da mente que expressa as necessidades do corpo e de tudo que valoriza a vida
corporal. São eles que nos fazem reagir e agir quando levamos um susto, por
exemplo. Claro que no nosso dia a dia não é bem assim. Posso lá no fundo de
mim estar com muita vontade de fazer algo, mas minha formação cultural e
moral vão filtrar se vou ou não realizar o que quero e se for possível
realizar, como vou fazê-lo.
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Livre
Arbítrio - Santo Agostinho
Muitas vezes a expressão
livre arbítrio, tem o mesmo significado que a expressão liberdade. No entanto,
Santo Agostinho diferenciou claramente esses dois conceitos. O livre arbítrio é
a possibilidade de escolher entre o bem e o mal; enquanto que a liberdade é o
bom uso do livre arbítrio. Isso significa que nem sempre o homem é livre quando
põe em uso o livre arbítrio, depende sempre de como usa essa característica.
Assim, o livre arbítrio está mais relacionado com a escolha que a pessoa faz. O
livre arbítrio é uma faculdade.
segunda-feira, 4 de janeiro de 2016
RESENHA DO JOHN A. HOBSON - Imperialismo
Prof. Amilcar Bernardi
O Imperialismo é a política de expansão e domínio territorial, cultural e, principalmente econômico de um país sobre outro. Notadamente ocorreu no final da época da revolução industrial. Evidentemente que havia enormes interesses dos capitalistas, mas travestiu-se esses interesses de uma missão evangelizadora sobre os povos não cristãos (povos indígenas e áfrica). Os Europeus entendiam-se como possuidores de uma cultura superior e detentores da religião.
Na segunda metade do século XIX, países europeus como
a Inglaterra, França, Alemanha, Bélgica e Itália, eram considerados grandes
potências industriais. Na América, eram os Estados Unidos quem apresentavam um
grande desenvolvimento no campo industrial. Todos estes países exerceram
atitudes imperialistas, pois estavam interessados em formar grandes impérios
econômicos, levando suas áreas de influência para outros continentes.
O que acontecia é que os povos mais fortes em
tecnologia, capital e armas apoderavam-se de vastos territórios. As colônias
rendiam muito, pois compravam os produtos da metrópole (produtos industriais) e
sustentavam a Europa com as matérias primas que os capitalistas europeus
precisavam.
No final do século XIX e começo do século XX, a
economia mundial viveu grandes mudanças. A tecnologia da Segunda Revolução
Industrial (motores a gasolina e a diesel e eletricidade) aumentou ainda mais a
produção, o que gerou uma grande necessidade de mercado consumidor para esses
produtos. Os monopólios cresceram tanto que precisavam absorver os países
dominados em busca da mão-de-obra barata e abundante e mercados consumidores. A
maior parte dos capitalistas e da população dos países imperialistas
acreditavam que suas ações eram justas e até benéficas à humanidade em nome da
ideologia do progresso.
John Hobson foi um dos economistas que teorizou sobre
o imperialismo. Ele entendia que houve
uma distribuição desproporcional da riqueza. Os capitalistas acumulavam muito e
as classes mais pobres consumiam pouco. Esse
acúmulo de capital acabava sendo absorvido pela poupança. As elites para
ampliar o consumo de seus produtos e para poderem consumir outros produtos,
provocaram as ações imperialistas.
Para Hobson os interesses econômicos instigam os
governos a praticarem o imperialismo no intuito de explorar economicamente
outros povos. A ordem é drenar as riquezas dos outros países. Como já foi dito,
havia outros interesses, não necessariamente econômicos, como os religiosos e
os ímpetos militares. Sob o ponto de
vista moral, os governos não podiam assumir sua lógica notadamente capitalista.
Então justificavam-se dizendo que suas intervenções internacionais desejavam a
elevação moral dos povos mais atrasados. Segundo Hobson, o imperialismo não é
algo cego, irracional. É, certamente, um planejamento das classes dominantes.
Se há irracionalismo, ele é praticado pelas classes subalternas submissas às
intenções das classes que efetivamente comandam. Essas castas de privilegiados acumulam tanto
capital que seu país de origem não é suficiente para aplicar seus recursos
tanto em produção quanto consumo de bens luxuosos. Isso, como em um círculo
vicioso, estimula a procura por novos mercados externos. O comando desse
processo estava nas mãos dos grandes bancos e financeiras. Elas decidiam o
futuro do planeta econômico. E deu tão certo que os responsáveis por essas
instituições ficaram tão ricos que por mais que gastassem ficavam cada vez mais
ricos. Investiam então na poupança e no crescimento do capital. Não havia
espaço no seu país para investimento na produção. O consumo de tudo que fosse
produzido era impossível. Tinham que produzir para o mundo.
(John Atkinson Hobson (Derby, 6 de julho de 1858 - 1 de abril de 1940) foi um economista inglês, crítico do Imperialismo. É um dos principais representantes do reformismo burguês. Deixou uma obra de mais de 30 volumes, dos quais os mais importantes são, A Evolução do Capitalismo Moderno, e o Imperialismo. Embora seja habitualmente considerado um marxista fabiano, Hobson sofreu influência de diversas correntes de pensamento, de Marx a Sombart e Veblen. Seu caráter profundamente herético fez com que sua obra, por sua vez, influenciasse autores tão pouco semelhantes como Lênin e Keynes. Wikipédia, enciclopédia livre)
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