quarta-feira, 5 de setembro de 2012
domingo, 2 de setembro de 2012
O caso da aluna Isadora
Prof. Amilcar Bernardi
Eu sei que o diálogo é o melhor caminho. Os monólogos são uma
insanidade, pois não há neles a abertura para o outro. Pior é quando o monólogo
arregimenta milhares de pessoas. Se alguém é criticado desta forma, é bastante
provável que será linchado. Os grandes meios de comunicação usam várias vezes
esta estratégia infame. A mídia fala utilizando
um monólogo que, não raro, destrói muitas pessoas.
A aluna Isadora Faber enquadra-se nesta situação. Ela usou a mídia
virtual para criticar sua escola e seus professores. A adolescente fotografou
os problemas e emitiu opinião sobre o que acontece por lá. Rapidamente internautas se aliaram à aluna. A
imprensa noticiou o fato e a escola virou notícia. Evidentemente críticas criam
audiência, ainda mais por ser de uma menina e por um meio tão moderno: o monologo
nas redes sociais. Houve mudanças para melhor na escola. Porém, insisto no peso
do monólogo porque, o colégio e os professores não podem fazer o mesmo. Quero
dizer, tirar fotos dos alunos e dos problemas que eles trazem. Não podem
registrar os pais dos alunos que vem diariamente à direção agredindo. Muito
menos podem registrar o que os políticos fazem contra ela. Qualquer tentativa
de reação do colégio pelo mesmo tipo de mídia será mal entendida. Então será novamente
soterrado em críticas. Se esta Instituição de Ensino errar por um milímetro,
será acusada de impedir a livre manifestação de uma adolescente. Concluo que
não haverá diálogo. Pelo menos um diálogo público, no mesmo nível midiático da
aluna.
Não acuso a Isadora de montar uma estratégia ardilosa. Nem digo que
não deveria ter agido assim. Digo apenas que os professores e a direção foram
enredados de tal forma que apanharão quietos. Talvez uma escola particular
tenha uma equipe com jornalistas que sabem o que fazer num caso destes. Com
certeza não é o caso desta instituição que, sabemos, é publica. Também sabemos
que o real dirigente desta escola é um secretário de educação. Um cargo
político. Portanto, está preso à opinião publica. Justo esta opinião mutável e
mutante foi cooptada pela aluna. Penso que não há o que fazer. A escola está
julgada e condenada.
Insisto: a aluna tem o direito inegável de se manifestar. Porém, a
escola sempre estará cerceada nesse mesmo direito, pois ela foi criada para
ensinar e não para defender-se nas redes sociais.
sexta-feira, 31 de agosto de 2012
domingo, 19 de agosto de 2012
quinta-feira, 2 de agosto de 2012
Para quem não tempo para aprender
Prof. Amilcar Bernardi
Figura retirada do blog: http://cartasdepaulotarso.blogspot.com.br/2010/01/aprender-e-ensinar.html
A palavra apreender* é um enigma para mim. Por
mais que pense sobre o conceito, parece que sempre algo fica de fora. Apenas percebo
que pessoas são X, entram em contato com coisas que não tinham consciência
antes, então se tornam X+Y. É uma questão ontológica: eram algo, agora são algo
mais alguma coisa. Não que sejam coisas somadas, mais parecem um suco onde
muitas coisas se misturam e viram outra coisa, geralmente bem mais gostosa que
as partes separadamente. Penso que a aprendizagem acontece quando fazemos suco
intelectual das coisas que se apresentam aos sentidos. Puxa, não estou sendo nada
científico, mas faz tempo que o ideal de cientificidade foi abandonado por mim.
Gosto mais de sucos gostosos.
Na sala dos
professores observo falas que afirmam: aos
alunos do ano tal, falta base. Com certeza no ano anterior ou o colega não deu
o conteúdo, ou o aluno não aprendeu. Pensando assim, criamos a mais pura lógica:
se não aprendeu ontem, se hoje sem base ele não aprende, com certeza amanhã não
aprenderá! Como eu não entendo muito de aprendizagem, questiono: qual o tempo
para apreender isto ou aquilo? Sempre
o ontem determina o que o aluno pode apreender
hoje?
Na minha ignorância,
penso que apreender não tem tempo
passado ou futuro. Apreender é sempre
para hoje. Não importa o ontem, o que importa é o que hoje o aluno sabe e o que
agora ainda não sabe! Em relação a aprendizagem, o ontem serve apenas
como a história do aprendente, que é útil para entendermos como devemos agir
com ele hoje, sempre hoje. A ligação com os objetos, mesmo os abstratos, em
relação ao apreender acontece nesse momento. Estamos plugados, on-line com a
relação eu e o que pretendo incorporar à
minha consciência. Mesmo quando aluno apreende
a conjugar o verbo no futuro, a conjugação acontece agora!
Ora, se o aprendente
não apreendeu algo ontem, o que
importa? Hoje sempre é o tempo atualíssimo para ele saber o que ainda não sabe!
A “falta de base” do
aluno é meramente a sua história. Ela apenas indica o que o educador deve fazer
nesse momento: o aluno é sempre atual.
Desde que o ontem não signifique alguma lesão neurológica ou trauma
psicológico impeditivo, é apenas história. A “falta de base” não justifica a não
aprendizagem. Ela não impede nada, apenas insinua, inspira o educador a como
agir agora, a como facilitar a incorporação sempre atual do que o aluno ainda
não incorporou à sua consciência. As aprendizagens anteriores, só são “anteriores”
na lógica inventada pelas pessoas, pois se houve aprendizagem ontem, ela ainda
esta “aprendida” hoje. Sempre acontece agora! Se há esquecimento, não está
disponível agora a aprendizagem de “ontem”, então não houve aprendizagem.
Apreender é um suco que está sendo feito e bebido a cada segundo. É um suco que
não segue a lógica temporal. Apreender é
algo que se faz e se consome sem que haja distância temporal entre o fazer e o
consumir.
* Faço a distinção
entre aprender e apreender. Apreender significa apropriar-se de uma informação
em sua complexidade. Após apreender não mais podemos esquecer.
Figura retirada do blog: http://cartasdepaulotarso.blogspot.com.br/2010/01/aprender-e-ensinar.html
quarta-feira, 1 de agosto de 2012
Einstein e Heráclito não podem ser professores hoje.
Prof. Amilcar Bernardi
Os entendidos em educação há bastante tempo estão alertando os
educadores que tudo está em mudança. Afirmam que a ciência cada vez mais produz
cataclismos no nosso jeito de ver o mundo. Einsten “deu nos dedos” do Newton
dizendo que tudo é relativo. A velocidade da máquina de escrever é impensável
para as pessoas do século XXI, assim como o pensar religioso monolítico dos
tempos medievais, desapareceu sob o ponto de vista das inúmeras religiões de
hoje. Os tempos hodiernos estão mais para Heráclito, que partia do princípio de que tudo é movimento, e que nada
pode permanecer estático, do que para os dogmas inquestionáveis.
Nesse contexto heraclítico
os valores são questionáveis e mutáveis, as leis oscilam entre abrandamentos e
recrudescimentos, as famílias são agrupamentos de pessoaas sem conceito
definitivo, a política um jogo onde a única coisa que não se questiona é o
desejo de poder. Nas escolas o termo “ensinar” sugere tempos passados. Hoje o
professor é um mediador , um incentivador do aprender. A própria palavra
aprender, sofre também desgaste, pois hoje aprender significa tanta coisa que
as definições são múltiplas. “Acreditar”
não é mais possível, pois acreditar em que, se rapidamente o que era possível
de fé já mudou?
Os jeitos de fazer educação
estão lançados nos ares seguindo dois
princípios; o do Einsten (tudo é relativo) e o do Heráclito (tudo muda, menos a
lei que diz que tudo muda). Também eu, motivado por estes princípios, não posso
dizer que o pensamento contemporâneo está errado ou é ruim, nem que é bom ou
que é melhor. Sem padrões não posso opniar, ou opino temporariamente. Nunca
Sartre esteve tão certo quanto agora, quando afirmou na sua juventude que somos
totalmente livres. Claro que sujeitos totalmente livres, na mesma proporção,
são totalmente responsáveis pelo que escolhem, pois não sofrem limite algum ao
optar.
Já que tudo muda, escrevo
este texto ouvindo meu coração. Espero que também ele não mude até eu terminar
este escrito/desabafo. Meu argumento “cardíaco” baseia-se nas angústias do meu
dia a dia como educador. Meu intelecto maravilha-se com a liberdade nunca antes
sentida. Rejubila-se com as teorias libertárias sobre o mundo da informação cambiante, dos espaços fluidos e das
relatividades morais. Porém a dor “cardíaca” surge no dia a dia, quando o
professor é conclamado a renegar tal mobilidade. Tudo é real e estático demais
quando o educador é chamado a responsabilidade pelo seu fazer em sala de aula,
responsabilidade irrecusável e intransferível.
Fico imaginando onde está
a mudança e a fluidez contemporânea,
quando o professor tem que responder as seguintes e complexas questões: o aluno
reprovou ou não? Jorginho colou ou não? Quando Pedrinho caiu, tu estavas com
ele ou não? Meu filho aprendeu ou não a tabuada? Bater porque foi agredido
antes, é certo ou errado? O Onofre rodou ou não nos exames da OAB? Mário morreu
na mesa de cirurgia, o médico aprendeu ou não a técnica? Fulano matou aula, a
escola sabia ou não? Se sabia, foi incompetente? Se não sabia, foi omissa? Os
cadernos de chamada foram entregues ou não nas datas determinadas? E por aí
vai.
Penso que Einstein e
Heráclito não podem lecionar. Na escola nada é relativo, tudo é “sim” ou “não”.
E se assim não for, quem - de fato - vai ensinar que nem tudo é relativo?
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