Os entendidos em educação há bastante tempo estão alertando os
educadores que tudo está em mudança. Afirmam que a ciência cada vez mais produz
cataclismos no nosso jeito de ver o mundo. Einsten “deu nos dedos” do Newton
dizendo que tudo é relativo. A velocidade da máquina de escrever é impensável
para as pessoas do século XXI, assim como o pensar religioso monolítico dos
tempos medievais, desapareceu sob o ponto de vista das inúmeras religiões de
hoje. Os tempos hodiernos estão mais para Heráclito, que partia do princípio de que tudo é movimento, e que nada
pode permanecer estático, do que para os dogmas inquestionáveis.
Nesse contexto heraclítico
os valores são questionáveis e mutáveis, as leis oscilam entre abrandamentos e
recrudescimentos, as famílias são agrupamentos de pessoaas sem conceito
definitivo, a política um jogo onde a única coisa que não se questiona é o
desejo de poder. Nas escolas o termo “ensinar” sugere tempos passados. Hoje o
professor é um mediador , um incentivador do aprender. A própria palavra
aprender, sofre também desgaste, pois hoje aprender significa tanta coisa que
as definições são múltiplas. “Acreditar”
não é mais possível, pois acreditar em que, se rapidamente o que era possível
de fé já mudou?
Os jeitos de fazer educação
estão lançados nos ares seguindo dois
princípios; o do Einsten (tudo é relativo) e o do Heráclito (tudo muda, menos a
lei que diz que tudo muda). Também eu, motivado por estes princípios, não posso
dizer que o pensamento contemporâneo está errado ou é ruim, nem que é bom ou
que é melhor. Sem padrões não posso opniar, ou opino temporariamente. Nunca
Sartre esteve tão certo quanto agora, quando afirmou na sua juventude que somos
totalmente livres. Claro que sujeitos totalmente livres, na mesma proporção,
são totalmente responsáveis pelo que escolhem, pois não sofrem limite algum ao
optar.
Já que tudo muda, escrevo
este texto ouvindo meu coração. Espero que também ele não mude até eu terminar
este escrito/desabafo. Meu argumento “cardíaco” baseia-se nas angústias do meu
dia a dia como educador. Meu intelecto maravilha-se com a liberdade nunca antes
sentida. Rejubila-se com as teorias libertárias sobre o mundo da informação cambiante, dos espaços fluidos e das
relatividades morais. Porém a dor “cardíaca” surge no dia a dia, quando o
professor é conclamado a renegar tal mobilidade. Tudo é real e estático demais
quando o educador é chamado a responsabilidade pelo seu fazer em sala de aula,
responsabilidade irrecusável e intransferível.
Fico imaginando onde está
a mudança e a fluidez contemporânea,
quando o professor tem que responder as seguintes e complexas questões: o aluno
reprovou ou não? Jorginho colou ou não? Quando Pedrinho caiu, tu estavas com
ele ou não? Meu filho aprendeu ou não a tabuada? Bater porque foi agredido
antes, é certo ou errado? O Onofre rodou ou não nos exames da OAB? Mário morreu
na mesa de cirurgia, o médico aprendeu ou não a técnica? Fulano matou aula, a
escola sabia ou não? Se sabia, foi incompetente? Se não sabia, foi omissa? Os
cadernos de chamada foram entregues ou não nas datas determinadas? E por aí
vai.
Penso que Einstein e
Heráclito não podem lecionar. Na escola nada é relativo, tudo é “sim” ou “não”.
E se assim não for, quem - de fato - vai ensinar que nem tudo é relativo?
Caro Prof. Bernardi.
ResponderExcluirNão tenho nenhuma angústia existencial como professor. Afinal eu sempre entreguei as fichas de chamada, devidamente preenchidas, ao fim de cada aula.
Atenciosamente,
Claudio