Ao ouvir o comentário de uma mãe que falava sobre o número de acertos
na prova do seu filho, pensei fortemente na palavra “certo”; por que a senhora
valorizava positivamente os “certos” na avaliação e, coerentemente, valorizava
negativamente os erros. Mas podemos ficar saboreando a palavra “certo”. Como
sinônimo aparecem na minha mente: indubitável, regular, evidente, algo fixado
com antecedência, algo exato. Fiquei impressionado com o que significava estar
“certo”. O que seria então o antônimo disso? Vamos pensar: dubitável,
desregrado, inexato, desvio de um padrão anterior. Também me impressionei com o
peso psicológico e social que o erro tem. Dá até medo.
Lembrei-me de uma pergunta que fiz a um aluno que eu atendia como psicopedagogo.
Perguntei ao adolescente: quem errava mais, o aluno ou o cientista?
Evidentemente que ele afirmou que o aluno. Respondeu com enfado, pois para ele,
a resposta era óbvia demais! Seguindo minha conversa, questionei: quantas vezes
errou o cientista que procura a cura do câncer? Lembra que ainda não temos a
cura em cem por cento dos casos! O jovem ficou espantado. Refletiu e disse que
provavelmente, o cientista esta errando muito, pois o dia em que “acertasse”,
essa doença terrível seria curada em todos os casos. Repeti então a pergunta: quem erra mais? O rapaz com quem eu falava ficou em dúvida, pois
no mínimo, ambos, o aluno e o cientista erravam muito. Um grande avanço nessa
conversa foi o rapaz ter conseguido questionar o valor do erro e o próprio
conceito do erro.
Se, conforme o primeiro parágrafo, o certo é o indubitável, o regular,
o evidente, o que é fixado com antecedência, eu, como educador, prefiro o erro.
Errar, sob este ponto de vista, é muito mais divertido, criativo e mais afeito
a hipóteses. Estar certo, portanto previsível, além de ser impossível na vida,
é uma chatice só. Estar certo é encontrar o fim da história, o ponto final, a
morte provavelmente. Se estar certo é encontrar a exatidão porque encontrou o
que já estava determinado, Einstein errou feio. Afinal, aquilo que ele falou
para nós, nunca será encontrado/aferido. Pois não estava determinado antes, não
cabe no conceito de “certo”, de exato; não há parâmetros para aferir. Adoro o
sucesso e a inteligência, mas tenho certeza que passam longe de estar sempre
certo.
Um poema bem legal é
um poema errado. Sim, porque desconcerta quem o lê e também porque não tem
nenhum modelo para que possamos aferir seu afastamento do correto. Uma piada só
é boa quando erra, ou seja, pensamos no desfecho “x” e o resultado é muito mais
(ou muito menos) que “y”. Só assim podemos rir.
Os artistas são sujeitos estranhos, diferentes, desregrados e inexatos.
São sujeitos errados por essência. O verdadeiro cientista é um errador: procura
o novo e as hipóteses, procura até o inquantificável (como a física quântica) e
o inverossímil.
Ops! Eu queria falar da mãe que comentava a prova. Eu diria a ela para
conversar com a professora ou professor. Crianças que acertam são tão
interessantes quanto as que erram. Tenho certeza que a professora ou professor,
vai sinalizar que o erro é uma hipótese, é um jeito bem interessante de
entender o problema. Errar é posicionar-se também, é expressar algo importante.
Eu adoro o erro criativo, aquele erro que me faz (re)pensar e a sorrir! É
bastante provável que essa mãe tão dedicada, perceba que errar ou acertar não
importa. O que importa é aprender a querer aprender mais e mais. Pena que
alguém inventou a reprovação. Creio que talvez Isaac Newton reprovasse Albert Einsten. E nós professores,
reprovamos quem?
É por isso e muito mais que sempre leio os seus textos, meu caro amigo, Amilcar Bernardi!!! Você é imprevisível, quando pensamos que vem por um lado, lá está pelo outro, mostrando as nuances da vida. Eu amo pessoas assim! Gosto do diferente, do avesso da vida. E valorizar o erro é importante porque ele pode mostrar caminhos possíveis.
ResponderExcluirGrande, Amilcar Bernardi! Estou com a alma lavada, agora posso até mostrar o vídeo em que cometi muitos erros. rs
Abraços!
@soniasalim