Estava num encontro de professores após uma breve fala com eles. No final, uma colega perguntou-me à queima roupa: Professor, o senhor é filósofo ou somente dá aulas? Fiquei sem resposta imediata. Preferi escrevê-la. Isso porque a pergunta deixou-me perplexo, pois é muito complexa. É maior do que eu posso responder.
Ao perguntar, a professora partiu do princípio a priori de
que sei o que (quem) sou. Confesso que estou longe de saber
definir-me. Passei a refletir sobre quem somos. A imagem que surgiu em minha
mente foi a de um ramalhete de várias flores coloridas. Sei que estou sendo poético,
mas não consigo evitar.
Eu acho que as pessoas são assim: buquês de flores. Quero
dizer que ninguém é isso ou aquilo, somos um conjunto de “issos” e “aquilos”:
como é um ramalhete de várias flores. Se separarmos todas as flores individualizando-as,
excluímos a ideia de ramalhete (uma composição de flores) e falamos de cada
flor (fragmentos do conjunto). Quero concluir que somos muitas coisas
(composição) e se separarmos cada uma (individualização) morreremos, pois somos
o conjunto e não os detalhes. Se algo é de nós retirado, perdemos nossa
humanidade complexa.
Quando penso o que sou, vejo um conjunto infinito de
contextos e relações. Não posso dizer que sou a flor do centro do ramalhete, ou
a mais bonita, ou ainda a que está mais à esquerda. Sou todas as flores que me
fazem.
A pergunta da professora sacudiu-me. Quero crer que ela
via em mim uma faceta do conjunto do que sou. Ao questionar-me, obrigava-me a
escolher alguma flor de mim e afirma-la como sendo o conjunto, o que sou. Para
aclarar mais: caso eu afirmasse que sou filósofo, eu teria escolhido as flores
da filosofia, ignorado as demais, e as escolhidas seriam apresentadas como um
cartão de identificação. Porém, como posso escolher o que apresentar de mim
para os outros? Se eu escolhesse um item do que sou, retiraria das demais
pessoas a liberdade (e a responsabilidade) de escolherem quais flores de mim
querem apreciar.
Afinal, sou ou não sou filósofo? Ora, como vou saber?
Essa resposta não pertence a mim. Pertence a quem escolhe do meu complexo ramalhete,
as flores que mais aprecia. Mesmo eu tendo todas as garantias institucionais
que estudei Filosofia, quem vai confirmar se sou (ou não) filósofo é quem lê o
que escrevo, quem ouve minha fala. É a minha história que decide. Melhor
dizendo, são as pessoas que decidem quem eu sou na História. Insisto que se sou
ou não filósofo, é uma pergunta cuja resposta não cabe a mim. Não tenho o poder
de decretar se sou ou não.
Quem pode dizer de uma pessoa que ela é essa flor ou
aquela, escolhendo no ramalhete as flores que mais chamou sua atenção? Dá para
perceber a responsabilidade disso, escolher o que a pessoa é?
Após estas reflexões, vou deixar a professora que me
questionou com a sua dúvida. Na verdade, vou dividir com ela a dúvida que
também tenho.

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