sábado, 14 de junho de 2025
domingo, 8 de junho de 2025
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sábado, 17 de maio de 2025
sábado, 10 de maio de 2025
sexta-feira, 9 de maio de 2025
Triste Narciso, incansável buscador da atenção alheia.
Prof. Amilcar Bernardi
O mito grego de Narciso nos conta que um jovem se achava tão bonito,
mas tão bonito, que se apaixonou por si mesmo. Melhor dizendo, por sua imagem
refletida nas águas de um lago. A superfície fazia às vezes de espelho. Dizem as más línguas que ele morreu afogado,
jogando-se nos braços da sua imagem refletida no lago!
As pessoas são o lago onde o moço Narciso se vê. Ele precisa de público
na medida em que este o aplaude. Ele é o show (perfeito, claro!)
Evidentemente que esse mito fala da tragédia que é Narciso amar a si
mesmo, tendo como medida o amor das outras pessoas pela imagem dele. Se
formos como Narciso, só haverá garantia de que somos belos, se a outra pessoa
afirmar que somos. Podemos até imaginar que o moço Narciso só poderia se
relacionar com quem dissesse o que ele queria ouvir (como num eco). Portanto, era extremamente seletivo, relacionando-se
somente com quem o refletisse sem distorções (discordâncias). Se formos
Narcisos, seremos também seletivos em busca de bons refletores de nós mesmos.
Maus refletores de nada servem!
O jovem Narciso até a década de 1980 para ser feliz, precisaria de relativamente
poucas pessoas. A família e mais alguns amigos. Cercando-se destas pessoas
conseguiria convencê-las de sua beleza, podendo, portanto, ver-se refletido nos
elogios proferidos por elas. Falo em
beleza, mas poderíamos imaginar que ele se acha inteligente ao extremo ou
corajoso acima da média. Poderíamos elencar muitas qualidades sugeridas por ele para si mesmo. Qualidades para
serem confirmadas pelos outros (refletidas). Estas poucas pessoas poderiam deixar o rapaz
Narciso feliz. Seriam poucos espelhos para procurar seu reflexo. Portanto, mais
fácil do que se fossem muitas pessoas!
Seus esforços para convencer os outros a refletirem/ratificarem suas
qualidades, denuncia a dependência que o Narciso tem. Tanto maior o esforço,
tanto maior a dependência: o tamanho do esforço é do tamanho da dependência! Ele,
em relação a sua autonomia, está fatalmente ferido. O que ele faz tem que ser
reluzente para o outro ver. Tem que ser interessante para o outro se
interessar. O que o gentil Narciso faz genuinamente para si mesmo? Nada! Em um primeiro momento, parece que tudo que
ele faz é para seu próprio prazer vaidoso. Mas, percebamos, o que ele sempre
faz, faz sempre para as outras pessoas. Apenas as sobras dos olhos alheios, alguns
reflexos tão desejados, o satisfazem. Pobre criatura, pobre Narciso tão
dependente e frágil! Ele precisa viver na luz (sem sombras) para ser mais visto,
mais percebido e, por consequência, mais bem refletido, da forma mais nítida que for possível. Uma maldição!
E agora, no século XXI, o que pode nosso espetaculoso Narciso? Assim
como na obra Ensaio sobre a Cegueira do José Saramago, já há tantos flashs
que as luzes mais cegam que permitem reflexos em espelhos. A competição
narcísica está terrível. É muita gente com seus celulares aparecendo, buscando
reflexos/likes. A coisa é bem complexa. São inúmeras redes sociais e poucas pessoas
físicas, palpáveis, para convencer/refletir. Quero dizer que não vemos quem
está do outro lado do celular. São criaturas fantasmais, onipresentes,
insaciáveis de novidades. O retorno vem em likes e em visualizações. Na
verdade, o que percebemos são números. O sucesso é numérico. O espelho ou o
lago onde deve se refletir o esperançoso Narciso, são multiplicados por
milhares de celulares. Então, a missão de chamar a atenção e receber elogios, é
quase impossível. Trágico Narciso que vive para se ver no outro, sem sequer
saber quem é esse outro. Esse outro é invisível, é distante, é fantasmagórico e
extremamente infiel. Convencer a tantas pessoas virtuais, parece ser um caso
para Sísifo, eternamente condenado a empurrar uma pedra até o topo de uma
colina, sem poder impedir que ela role de volta. É uma missão impossível buscar
reflexos em tanta gente!
Pobre Narciso contemporâneo, está condenado a viver na esperança de ver
em plenitude seu próprio reflexo. Vã esperança, nunca verá a si mesmo, sempre
verá apenas o outro.
sábado, 3 de maio de 2025
sexta-feira, 2 de maio de 2025
quinta-feira, 1 de maio de 2025
domingo, 27 de abril de 2025
Vamos falar sobre o diálogo?
Se alguém perguntasse a mim o
que mais faz falta para a humanidade, eu diria com muita convicção: o diálogo.
Gosto de esclarecer para mim
mesmo o sentido das palavras, notadamente as que eu mais aprecio. Então a palavra
escolhida é como o sol. As imagens que me vêm à mente ficam como os planetas
circulando atraída pela palavra em foco (de massa maior). Neste texto, o sol
será a palavra diálogo.
A primeira ideia que surge
quando quero pensar a palavra diálogo é: alternamento. Só há diálogo quando a conversação é
alternada. Um interlocutor diz e o outro quer ouvir o que é dito. Logo vem a
vez do segundo dialogante dizer algo na certeza de que será ouvido com atenção.
Percebam que há uma regra determinada com antecedência: cada um fala por sua
vez na certeza que será ouvido com atenção. Caso a regra seja desrespeitada, já
não há um diálogo. Há especial peso no quesito “certeza de ser ouvido com atenção”.
Realço aqui “querer” e “atenção”. É uma regra fundamental: atenção, empatia,
foco no outro.
Não podemos esquecer que o diálogo
atencioso é troca. Ora, se estou numa situação de troca, é porque o que vou
ganhar tem valor para mim. E se vou ganhar algo de valor, é lógico que o que eu
tenho para trocar é de importância similar para o outro. Afinal, só trocamos
coisas se obtemos o que queremos (e, portanto, nos falta). Se eu creio que o
que eu tenho é ouro e o que o outro oferece é prata, não há troca. Talvez
suborno de quem tem ouro e subserviência de quem tem prata. Só há diálogo quando
todos tem ouro (no sentido figurado, óbvio!). Só há trocas sinceras entre
iguais. Fora desta igualdade, não há
diálogo. Somos todos habitantes de um mesmo planeta, eis nossa igualdade
essencial.
Gosto muito da expressão
reciprocidade. Ela se refere a uma contrapartida equivalente. Se sou gentil,
receberei gentileza. Faz parte da regra do diálogo. Se eu for grosseiro,
receberei grosseria. A grosseria é destruidora para quem quer dialogar.
Portanto, nem cabe na nossa conversa. O olhar atento, a voz branda, mas firme,
o respeito ao interlocutor: terá como resposta o mesmo. Dar para receber. Se estou cheio de bons
argumentos, com certeza vou receber como resposta tão bons argumentos quanto!
Portanto, na reciprocidade, quanto mais estiver pronto para argumentar, o outro
estará da mesma forma. Ambos, portanto, estão prontos para vencer pela
inteligência. E é certo, ambos vencerão devido a qualidade dos argumentos.
E quando o diálogo é mais
importante?
Quando há disputas que
requerem soluções especiais para problemas. Conversar com quem pensa como eu, é
divertido, mas não estimulante. Dialogar do jeito que descrevi até aqui numa
situação conflituosa, é coisa de estadista, é coisa para se orgulhar quando há
um acordo onde todos ganham algo de mesma magnitude... e perdem algo também. O
diálogo que comento aqui é aquele que surge na adversidade, nos problemas que
precisam de solução. Não há diálogo na busca de aplausos, nem de ganhos de um
sobre o outro. Esclareço então outra regra: em uma disputa entre iguais, não é
possível ganhos unilaterais. Bem, até é possível, mas não é um diálogo, é uma imposição.
Agora vou falar do que mais
gosto: das palavras! O diálogo é a palavra e a palavra existe para o diálogo.
Por isto estudar dicionários e gramáticas é importante (não riam!). Estudar é
ganhar experiência na expressão de ideias. É uma mágica maravilhosa dizer o que
queremos dizer de mil formas, até sermos melhor entendidos. É fantástico entre
tantas palavras possíveis, escolher as mais delicadas para dizer o que é mais
grave e conflitivo. Dialogar é entendimento falado, escrito, comunicado.
A palavra é a roupa que eu
uso durante o diálogo. Antecipo o diálogo empático quando me visto/falo
apropriadamente numa sinagoga, por exemplo. Assim como meu terno impecável (falas
complexas) fica em casa se vou dialogar numa comunidade de pouca instrução
formal. Portanto, o diálogo é conhecer o ambiente e as pessoas com as quais vamos
fazer trocas de ideias.
Dialogar é trabalhoso.
Requer estudo, atenção e o desejo de se fazer compreender sem agressividade ou
empáfia. Quando eu percebo que não tenho condições de seguir os ditames do bom
diálogo, chamo alguém que o faça em meu lugar. Não somos sempre bons
dialogantes, mas devemos ser sempre boas pessoas em busca de outras boas
pessoas. E o que é ser uma boa pessoa? Bem, bom tema para diálogos futuros!
sábado, 26 de abril de 2025
sexta-feira, 18 de abril de 2025
sábado, 12 de abril de 2025
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quinta-feira, 30 de janeiro de 2025
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segunda-feira, 20 de janeiro de 2025
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