domingo, 10 de agosto de 2025

A transferência e o professor

 

Grosso modo a transferência é um processo inconsciente através do qual o analisado desloca para o analista seus afetos. Através desse processo, o paciente se relaciona com o analista nos extremos, amando-o ou odiando-o. A vida afetiva anterior da pessoa se atualiza na figura do terapeuta. Um exemplo clássico é portar-se com o profissional semelhantemente como na relação filho(a)-pai(ou pessoa de referência). É essa transferência que possibilita a melhora do sofrimento psíquico, pois torna-se atual o que teve origem no passado. Esse processo é inconsciente e, por ser inconsciente, é extremamente poderoso. Nas salas de aula a transferência não está ausente.

 

Queremos dizer que o aluno, com relação a seus professores, estabelece uma relação muito semelhante à transferência. O afeto desenvolvido em sala de aula (amor/ódio e nuances disso) pode ser atualizações afetivas ocorridas na infância (com as figuras de autoridade).  Os sentimentos já estavam previamente estabelecidos na psique do aluno, apenas sendo retomados na figura do professor. O professor está sujeito ao mesmo fenômeno, sentindo fortes emoções pelos seus alunos, emoções experimentadas por ele anteriormente e inconscientizadas. Vê as crianças em sala de aula identificando-se com elas, sentindo novamente as angústias infantis ou da sua adolescência.

 A transferência aluno→professor deve ser vista como um importante instrumento para entender o que passa no imaginário do aprendiz e que bloqueia o processo ensino/aprendizagem. É importante dizer que esse fenômeno é prejudicial quando aparece na forma de rejeição ao aprender ou como uma paixão excessiva pelo professor. Mas a ausência da transferência, em tese, impossibilita a relação pedagógica, pois caímos no vácuo da indiferença. Caso o aluno não tenha afeto por mim professor (qualquer que seja, positivo ou negativo) não terei acesso a sua alma.

 

Educar, mais que ensinar, é entender que esse mecanismo (transferência) revive experiências passadas e o mestre pode reorienta-las (educa-las). O afeto que o aluno demonstra pelo professor ou pelo ato de aprender é o material advindo do inconsciente, e deve ser escutado com carinho.  É no discurso do aprendiz (raivoso ou amoroso) que ele diz de suas experiências dolorosas na relação anterior com os familiares ou com o aprender. A escuta pedagógica vai ajuda-lo muito. Ouvir para encaminhar a criança ou o jovem para os caminhos do aprender. Só ouvir já faz bem e pode reconciliar os afetos inconscientes com o professor e com hábito de estudo.

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