Grosso modo a transferência é um processo inconsciente através do qual o analisado desloca para o analista seus afetos. Através desse processo, o paciente se relaciona com o analista nos extremos, amando-o ou odiando-o. A vida afetiva anterior da pessoa se atualiza na figura do terapeuta. Um exemplo clássico é portar-se com o profissional semelhantemente como na relação filho(a)-pai(ou pessoa de referência). É essa transferência que possibilita a melhora do sofrimento psíquico, pois torna-se atual o que teve origem no passado. Esse processo é inconsciente e, por ser inconsciente, é extremamente poderoso. Nas salas de aula a transferência não está ausente.
Queremos dizer que o aluno, com relação a seus
professores, estabelece uma relação muito semelhante à transferência. O afeto
desenvolvido em sala de aula (amor/ódio e nuances disso) pode ser atualizações
afetivas ocorridas na infância (com as figuras de autoridade). Os sentimentos já estavam previamente
estabelecidos na psique do aluno, apenas sendo retomados na figura do
professor. O professor está sujeito ao mesmo fenômeno, sentindo fortes emoções
pelos seus alunos, emoções experimentadas por ele anteriormente e
inconscientizadas. Vê as crianças em sala de aula identificando-se com elas,
sentindo novamente as angústias infantis ou da sua adolescência.
Educar, mais que ensinar, é entender que esse
mecanismo (transferência) revive experiências passadas e o mestre pode
reorienta-las (educa-las). O afeto que o aluno demonstra pelo professor ou pelo
ato de aprender é o material advindo do inconsciente, e deve ser escutado com
carinho. É no discurso do aprendiz
(raivoso ou amoroso) que ele diz de suas experiências dolorosas na relação
anterior com os familiares ou com o aprender. A escuta pedagógica vai ajuda-lo
muito. Ouvir para encaminhar a criança ou o jovem para os caminhos do aprender.
Só ouvir já faz bem e pode reconciliar os afetos inconscientes com o professor
e com hábito de estudo.
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