Se alguém perguntasse a mim o
que mais faz falta para a humanidade, eu diria com muita convicção: o diálogo.
Gosto de esclarecer para mim
mesmo o sentido das palavras, notadamente as que eu mais aprecio. Então a palavra
escolhida é como o sol. As imagens que me vêm à mente ficam como os planetas
circulando atraída pela palavra em foco (de massa maior). Neste texto, o sol
será a palavra diálogo.
A primeira ideia que surge
quando quero pensar a palavra diálogo é: alternamento. Só há diálogo quando a conversação é
alternada. Um interlocutor diz e o outro quer ouvir o que é dito. Logo vem a
vez do segundo dialogante dizer algo na certeza de que será ouvido com atenção.
Percebam que há uma regra determinada com antecedência: cada um fala por sua
vez na certeza que será ouvido com atenção. Caso a regra seja desrespeitada, já
não há um diálogo. Há especial peso no quesito “certeza de ser ouvido com atenção”.
Realço aqui “querer” e “atenção”. É uma regra fundamental: atenção, empatia,
foco no outro.
Não podemos esquecer que o diálogo
atencioso é troca. Ora, se estou numa situação de troca, é porque o que vou
ganhar tem valor para mim. E se vou ganhar algo de valor, é lógico que o que eu
tenho para trocar é de importância similar para o outro. Afinal, só trocamos
coisas se obtemos o que queremos (e, portanto, nos falta). Se eu creio que o
que eu tenho é ouro e o que o outro oferece é prata, não há troca. Talvez
suborno de quem tem ouro e subserviência de quem tem prata. Só há diálogo quando
todos tem ouro (no sentido figurado, óbvio!). Só há trocas sinceras entre
iguais. Fora desta igualdade, não há
diálogo. Somos todos habitantes de um mesmo planeta, eis nossa igualdade
essencial.
Gosto muito da expressão
reciprocidade. Ela se refere a uma contrapartida equivalente. Se sou gentil,
receberei gentileza. Faz parte da regra do diálogo. Se eu for grosseiro,
receberei grosseria. A grosseria é destruidora para quem quer dialogar.
Portanto, nem cabe na nossa conversa. O olhar atento, a voz branda, mas firme,
o respeito ao interlocutor: terá como resposta o mesmo. Dar para receber. Se estou cheio de bons
argumentos, com certeza vou receber como resposta tão bons argumentos quanto!
Portanto, na reciprocidade, quanto mais estiver pronto para argumentar, o outro
estará da mesma forma. Ambos, portanto, estão prontos para vencer pela
inteligência. E é certo, ambos vencerão devido a qualidade dos argumentos.
E quando o diálogo é mais
importante?
Quando há disputas que
requerem soluções especiais para problemas. Conversar com quem pensa como eu, é
divertido, mas não estimulante. Dialogar do jeito que descrevi até aqui numa
situação conflituosa, é coisa de estadista, é coisa para se orgulhar quando há
um acordo onde todos ganham algo de mesma magnitude... e perdem algo também. O
diálogo que comento aqui é aquele que surge na adversidade, nos problemas que
precisam de solução. Não há diálogo na busca de aplausos, nem de ganhos de um
sobre o outro. Esclareço então outra regra: em uma disputa entre iguais, não é
possível ganhos unilaterais. Bem, até é possível, mas não é um diálogo, é uma imposição.
Agora vou falar do que mais
gosto: das palavras! O diálogo é a palavra e a palavra existe para o diálogo.
Por isto estudar dicionários e gramáticas é importante (não riam!). Estudar é
ganhar experiência na expressão de ideias. É uma mágica maravilhosa dizer o que
queremos dizer de mil formas, até sermos melhor entendidos. É fantástico entre
tantas palavras possíveis, escolher as mais delicadas para dizer o que é mais
grave e conflitivo. Dialogar é entendimento falado, escrito, comunicado.
A palavra é a roupa que eu
uso durante o diálogo. Antecipo o diálogo empático quando me visto/falo
apropriadamente numa sinagoga, por exemplo. Assim como meu terno impecável (falas
complexas) fica em casa se vou dialogar numa comunidade de pouca instrução
formal. Portanto, o diálogo é conhecer o ambiente e as pessoas com as quais vamos
fazer trocas de ideias.
Dialogar é trabalhoso.
Requer estudo, atenção e o desejo de se fazer compreender sem agressividade ou
empáfia. Quando eu percebo que não tenho condições de seguir os ditames do bom
diálogo, chamo alguém que o faça em meu lugar. Não somos sempre bons
dialogantes, mas devemos ser sempre boas pessoas em busca de outras boas
pessoas. E o que é ser uma boa pessoa? Bem, bom tema para diálogos futuros!
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