quarta-feira, 7 de outubro de 2020

A teoria da relatividade, o relativismo e os extremistas referenciais.

 


 

O que é mesmo a relatividade no sentido da física de Einstein? Relembrando minhas aulas de Física no Ensino Médio, vou arriscar comentar utilizando o viés da Cinemática.

 

Para eu medir a quantidade de movimento de um móvel, preciso estabelecer um referencial. Lembro-me do meu livro de Física na escola Estadual de Ensino Médio Professora Maria Rocha. Ele utilizava a figura de um ônibus, onde uma pessoa de dentro do veículo observava o ambiente externo. A figura nos fazia perceber que quem estava dentro do transporte público, em relação ao assoalho do veículo, não estava em movimento. Entretanto, em relação a pessoa que aguardava no ponto de ônibus, o passageiro embarcado estava sim em movimento.  Percebam que para saber se as pessoas envolvidas estão ou não em movimento, é preciso estabelecer o referencial. No caso da figura, os referenciais são o assoalho do veículo e a pessoa no ponto de ônibus.

 

Espero ter conseguido relembrar o conceito de relatividade.

 

O senso comum costuma dizer que tudo é relativo, mas em outro sentido. Este conceito do dia a dia, com certeza não se encaixa no que foi dito no primeiro parágrafo.  Vejamos que, para que tudo fosse relativo (sem pontos fixos, como quer o senso comum), também os referenciais variariam durante a medição. Imaginem o caos: o ponto de ônibus se movendo e parando aleatoriamente enquanto a pessoa viaja no coletivo.

 

Podemos imaginar que a expressão popular tudo é relativo não faz sentido para a cinemática. Algo tem que ficar fixo para que possamos avaliar a quantidade e qualidade do movimento de uma outra coisa.  Caso nada fique onde está, não há como avaliar estes movimentos.

 

Para as Ciências Humanas não é muito diferente. Quando o Filósofo, o Sociólogo ou o Historiador afirmam algo, tem seus referenciais. Pode ser a literatura já consolidada na área ou fatos (documentos, relatos de testemunhas ou vestígios como no caso da arte rupestre). Vê-se que dizer que tudo é relativo nestas áreas do conhecimento também não é aceitável.

 

E quanto a mera opinião? Quando afirmo que vou opinar, estou arrogando para mim plena liberdade nos meus referenciais. Sou livre para escolher qualquer referencial e muda-lo quando quiser, por tanto o referencial é sempre eu mesmo. Mesmo neste caso a expressão tudo é relativo não vale. Por que? Ora, o referencial da minha opinião existe: sou eu mesmo! Eu sou o ponto fixo por onde meço o mundo. Quanta arrogância, não? Pois, é.

 

Vamos imaginar o seguinte. Alguém quer medir a velocidade de um veículo. Os engenheiros colocam sensores nele e um sensor fixo fora dele. Caberá ao sensor fixo avaliar a velocidade do móvel. Entretanto, sem que ninguém visse, o piloto fazendo graça coloca no bolso o sensor fixo. O resultado seria um desastre! Todos veriam o bólido na pista voando a 300km/h. Entretanto, os sensores marcariam que o veículo está parado. Por que parado? Ora, o referencial está junto ao veículo. Então, em relação ao referencial, o carro está parado! Após desfeito o paradoxo tudo voltaria ao normal.

 

Para que as conclusões de uma avaliação possam ser sérias, podemos concluir que é fundamental o(s) parâmetro(s) fixo(s), o referencial.

 

O que faz a extrema direita ao explicar a si mesma? Coloca nos bolsos o referencial tentando imobilizar tudo. E quando tudo se imobiliza, o senso comum começa a opinar sobre o que é dito pelos extremistas como se verdade fosse. Uma espécie de ilusão de ótica.

 

Todo o extremista quer ser referencial para todas as avaliações possíveis. As coisas em relação a ele, não se movem. Pois ele traz em seu bolso o sentido de tudo, todos os referenciais.

 

Quer testar este fenômeno? Tenta discutir algo com um extremista. Ele não muda e agride. Quem questiona deve se juntar ao referencial (no bolso do extremista) para que nada se mova.

 

A ilusão é bem forte. Para quem se alia ao extremista, e ele carrega a verdade, nada se move. Mesmo que o aliado intua o movimento, não crê, pois o aliado está junto ao referencial. É como se ambos estivessem num ônibus em movimento, com as janelas fechadas. Então, mesmo ouvindo o barulho do motor e as sensações do movimento, teria fé que está parado. Afinal, seu referencial está imóvel a seu lado.

 

Tem ideologias que são ônibus com janelas cobertas.

 

Escrevi até aqui para dizer que as coisas não são todas sem fundamento, confusas, mutáveis, no sentido que dá o senso comum quando diz: tudo é relativo!

 

Para uma reflexão ser séria, é preciso referenciais.

 

É preciso questionar àqueles que falam suas verdades: quais teus referenciais? Qual leitura? Quais fatos? Quais autoridades? Qual momento histórico te referes?  Em que contexto? Além de ti e dos teus, quem mais afirma isto? Quais os dados técnicos que te levam a afirmar isto? Qual pesquisa?

 

Só podemos ser um pouco benevolentes com aqueles que tem consciência que expressam apenas opiniões, avocando para si o direito de poder opinar. Opinar pode. Mentir ou desvirtuar, não.

 

Como sei que quem fala pode estar mentindo ou desvirtuando? Quando afirma que diz verdades e verdades sem referenciais confiáveis.

 

A regra de ouro: Quando alguém afirma que sabe algo, exija os referenciais deste saber. Os extremistas piram!

 

 

 

 

 

 

 

 



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