Quando
eu entrei no curso de Filosofia na Universidade Federal de Santa Maria, meu tio
professor, disse-me: Filosofia? Acreditas
que estás na Europa? Com isso, ele quis que eu compreendesse que cursos
superiores são feitos para ganhar dinheiro. Por consequência, cursos não
rentáveis devem ser evitados. Essa lógica monetarista é nefasta.
Se
uma nação capitalista não oferecesse todos cursos superiores que não dão
dinheiro, seria o fim dessa nação. Cada
um dos leitores pode imaginar vários cursos superiores que não são bem
remunerados, e os excluam das academias. Com certeza seria um caos. Mas quem se
importaria?
Por
outro lado, se a questão é a remuneração, nem sempre estudar formalmente é um
bom negócio. Muitos aprendem profissões de seus pais. Depois abrem um negócio e
“enricam”. Há inúmeros outros que com inteligência, inventam algo e pronto,
enriquecem. Outros tantos, ficam famosos e ricos por mil outras formas. Para
estes, ter estudado seria um mau negócio.
As
nações que se regem pelo capitalismo, têm esse fetiche. Só entendem as atividades
humanas que podem produzir o lucro. Portanto, todas as atividades são apenas um
meio para um fim: o dinheiro. A loucura é tanta que para os que já nascem
ricos, estudar é um problema. Afinal, eles já têm a finalidade do estudo, que é
o dinheiro. Então, estudar para quê?
Lembrei-me
que os animais são criaturas satisfeitas. Isso porque nascem tendo o que
precisam. Não estudam. No máximo aprendem a caçar brincando com os animais mais
velhos. Precisam de pouco. Precisam do que seus corpos necessitam e que sintam
prazer sensorial (não possuem o prazer estético). Satisfeitos seus corpos,
brincam, acasalam e dormem. Isso é assim porque eles não têm alma. Ao menos
alma humana.
O
problema está para os humanos, quando eles agem como se não tivessem alma. Como
se tivessem apenas corpos animais. Então, sendo só corpos, fazem somente o que
seus corpos pedem. Ou seja, só o que dá prazer. Dinheiro dá prazer, logo,
corpos se viciam em dinheiro. Sem dinheiro, os corpos teriam que caçar seus
prazeres. Iria ser bem sinistra esta situação!
Mas,
felizmente, não somos apenas corpos. Temos consciência. Alguns (como eu) chamam
de alma. A educação não é pensada para prazeres corporais. Ela é pensada para o
prazer das consciências. Estas, quanto mais estudam, mais conscientes são.
Criam mais vida estudando outras vidas conscientes. Nossas almas se alimentam de
outras almas ao estuda-las e compreendê-las. Nossos corpos superdesenvolvidos
não podem fazer isso.
A
educação é espiritual. Ela trata exatamente daquilo que nos difere dos animais:
nossa consciência. Qualificar nossas consciências é tarefa que toda a
humanidade deveria se preocupar. Nem é tão caro assim. Mas, as nações
capitalistas são fetichistas. As atividades que fazemos são meios para um fim,
lembram? O dinheiro. Qualificar nossas almas não dá dinheiro. Portanto, por que
qualificá-las, perguntará o capitalista. Qualificar os corpos e seus desejos é
muito mais lucrativo. Mais corpos desejantes, menos almas educadas! Eis a
ciência do lucro!
Por
isso vivemos numa espécie de zoológico humano. Para cada prazer caro jogado nas
nossas jaulas existenciais, mais pulamos felizes.
Até
hoje estudo Filosofia. Não moro na Europa, nem estudo para ganhar dinheiro.
Estudo porque tenho alma e a qualifico sempre que posso. Ganho pouco e pouco dou
lucro para minha nação capitalista. Mas sou feliz porque faço parte de um
exército de pessoas pouco remuneradas, mas que estudam para melhorar o mundo.
Mesmo que melhorar o mundo não dê lucro. Mesmo que destruí-lo seja lucrativo. Eu fiz minha escolha pelo estudo, pela
educação. E tu?
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