sábado, 20 de janeiro de 2018

Eu fiz minha escolha pelo estudo.















Quando eu entrei no curso de Filosofia na Universidade Federal de Santa Maria, meu tio professor, disse-me: Filosofia? Acreditas que estás na Europa? Com isso, ele quis que eu compreendesse que cursos superiores são feitos para ganhar dinheiro. Por consequência, cursos não rentáveis devem ser evitados. Essa lógica monetarista é nefasta.

Se uma nação capitalista não oferecesse todos cursos superiores que não dão dinheiro, seria o fim dessa nação.  Cada um dos leitores pode imaginar vários cursos superiores que não são bem remunerados, e os excluam das academias. Com certeza seria um caos. Mas quem se importaria?

Por outro lado, se a questão é a remuneração, nem sempre estudar formalmente é um bom negócio. Muitos aprendem profissões de seus pais. Depois abrem um negócio e “enricam”. Há inúmeros outros que com inteligência, inventam algo e pronto, enriquecem. Outros tantos, ficam famosos e ricos por mil outras formas. Para estes, ter estudado seria um mau negócio.

As nações que se regem pelo capitalismo, têm esse fetiche. Só entendem as atividades humanas que podem produzir o lucro. Portanto, todas as atividades são apenas um meio para um fim: o dinheiro. A loucura é tanta que para os que já nascem ricos, estudar é um problema. Afinal, eles já têm a finalidade do estudo, que é o dinheiro. Então, estudar para quê?

Lembrei-me que os animais são criaturas satisfeitas. Isso porque nascem tendo o que precisam. Não estudam. No máximo aprendem a caçar brincando com os animais mais velhos. Precisam de pouco. Precisam do que seus corpos necessitam e que sintam prazer sensorial (não possuem o prazer estético). Satisfeitos seus corpos, brincam, acasalam e dormem. Isso é assim porque eles não têm alma. Ao menos alma humana.

O problema está para os humanos, quando eles agem como se não tivessem alma. Como se tivessem apenas corpos animais. Então, sendo só corpos, fazem somente o que seus corpos pedem. Ou seja, só o que dá prazer. Dinheiro dá prazer, logo, corpos se viciam em dinheiro. Sem dinheiro, os corpos teriam que caçar seus prazeres. Iria ser bem sinistra esta situação!

Mas, felizmente, não somos apenas corpos. Temos consciência. Alguns (como eu) chamam de alma. A educação não é pensada para prazeres corporais. Ela é pensada para o prazer das consciências. Estas, quanto mais estudam, mais conscientes são. Criam mais vida estudando outras vidas conscientes. Nossas almas se alimentam de outras almas ao estuda-las e compreendê-las. Nossos corpos superdesenvolvidos não podem fazer isso.

A educação é espiritual. Ela trata exatamente daquilo que nos difere dos animais: nossa consciência. Qualificar nossas consciências é tarefa que toda a humanidade deveria se preocupar. Nem é tão caro assim. Mas, as nações capitalistas são fetichistas. As atividades que fazemos são meios para um fim, lembram? O dinheiro. Qualificar nossas almas não dá dinheiro. Portanto, por que qualificá-las, perguntará o capitalista. Qualificar os corpos e seus desejos é muito mais lucrativo. Mais corpos desejantes, menos almas educadas! Eis a ciência do lucro!

Por isso vivemos numa espécie de zoológico humano. Para cada prazer caro jogado nas nossas jaulas existenciais, mais pulamos felizes.


Até hoje estudo Filosofia. Não moro na Europa, nem estudo para ganhar dinheiro. Estudo porque tenho alma e a qualifico sempre que posso. Ganho pouco e pouco dou lucro para minha nação capitalista. Mas sou feliz porque faço parte de um exército de pessoas pouco remuneradas, mas que estudam para melhorar o mundo. Mesmo que melhorar o mundo não dê lucro. Mesmo que destruí-lo seja lucrativo.  Eu fiz minha escolha pelo estudo, pela educação. E tu?

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