terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Escola, informação e ensinar política.


As informações estão nos ares cibernéticos e midiáticos.  Na ponta dos dedos ao teclar, e na retina ao ver e ler o mundo, está tudo o que a humanidade pode informar. Está ao alcance dos sentidos e quase de graça.  Dá uma enorme vontade de dizer que só não aprende quem não quer. 

Os alunos são surfistas nas águas das informações. Pegam suas pranchas “internéticas” e surfam nas melhores ondas, é claro. Escolhem aquelas que darão mais emoções. Vão até aquelas que os estimulem a mais surfar. Ondas chatas, pequenas, previsíveis e ritmadas não são as preferidas. Não importa a qualidade do conteúdo, mas a força da onda!



A escola é ritmada. Vai das ondas pequenas às maiores. Dá para surfar nas ondas escolares, mas a adrenalina é geralmente pouca. O ambiente é controlado e quer ser eficiente. A escola é segura e previsível. No início da vida, nós mamíferos, somos dependentes da segurança da mãe por muito tempo para aprendermos a crescer. Hoje, mesmo os alunos sendo modernos e tecnologizados, aprender a crescer ainda tem de ser num ambiente seguro (a escola).


Sabemos que ensinar não pode ser apenas entrar em contato com as ondas de informações. Isso porque, como já foi dito, elas estão em todos os lugares soltas, jogadas, sem nexo; um perigo! O que se exige é que as instituições escolares ensinem aos jovens a serem críticos, estudiosos, que tenham sociabilidade, que aceitem as diferenças, que sejam pessoas que saibam dialogar, que saibam posicionarem-se, que sejam polidos e que sejam bons cidadãos. 

Por isso, as escolas estão sendo chamadas a ensinar os jovens a serem políticos, e não surfadores de informações midiáticas. Claro que me refiro ao termo política da Grécia clássica, ou seja, a arte de encontrar o bem nos procedimentos relativos a cidade. Para isso, os sofistas ensinavam a retórica (argumentar bem) e os filósofos falavam da ética (vida justa entre muitos).  Segundo os clássicos, ser um sujeito político é saber viver bem na cidade, é aceitar os limites da lei e da ordem estabelecida pela maioria. Para que seja possível encontrar um sentido para o jovem crescer em sociedade, num oceano caótico de informações a ele disponível, é necessário que os educadores incentivem reflexões políticas, éticas. Afinal, as informações estando liberadas em grande quantidade, tornou-se de suma importância saber o que fazer com elas para o bem de todos. 

Caso minhas reflexões sejam verdadeiras, é preciso que todos percebam isso claramente, sem hipocrisias. Digamos aos educadores: ensinem mais a discernir o bem coletivo e menos os conteúdos desconectados da vida em sociedade.


Então, assumamos os riscos disso e pronto. O que não pode acontecer é pedir cada vez mais que os professores deem informações aos alunos (competir com a internet?). Nem é possível acrescentar mais responsabilidades às instituições escolares já assoberbadas. A sociedade não pode pedir o que desvirtua a principal finalidade das escolas, que é aprendizagem de uma vida ética através dos conhecimentos acumulados. 


Surfar pelas informações está cada vez mais fácil. Mas, ser ético e viver de uma maneira politicamente saudável, está cada vez mais complicado.


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