sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

O trabalho no capitalismo

Prof. Amilcar Bernardi

O capitalismo possui algumas características que o diferenciam dos demais sistemas econômicos.  Uma das características se  refere a produção de mercadorias. Aqui podemos ressaltar que os produtores não têm interesse imediato no valor de uso do que foi produzido, mas sim, em seu valor de troca.  Este valor (para as trocas) não tem limites. Ele vale o tanto que as pessoas desejam que ele valha. 
 
Dizemos valor de troca por que o dinheiro arrecadado com a venda de um produto é desejável porque pode ser trocado por outros produtos (na medida do tanto que os desejo). 
 
No capitalismo, portanto, produzimos não porque precisamos diretamente do que foi produzido, mas produzimos em vista de outros produtos que desejamos. Dessa forma, até o trabalho humano torna-se mercadoria (vendo meu trabalho para obter produtos). Tudo se volta para a produção não como um fim em si mesmo, mas para trocas. Inclusive, na sociedade capitalista, somos obrigados a travar relações com pessoas que não conhecemos, para que possamos vender nossa mercadoria-trabalho ou para fazermos trocas impessoais.  O que nos liga às pessoas estranhas neste caso? Meu valor de trabalho como mercadoria ou o tanto que prometo trocar mercadorias com elas.
 
Mercadorias se comunicando com mercadorias. 
 
Ora, para que vendamos nosso trabalho, é preciso que os meios de produção não sejam nossos; e que quem os possua compre (da forma mais barata possível) nossa capacidade de trabalho. Sem a propriedade privada dos meios de produção não pode haver essa relação. O capitalismo, portanto, precisa que alguns poucos tenham a propriedade dos meios, e outros tantos tenham apenas a capacidade de trabalho. 
 
Todos não podem usufruir igualmente da propriedade. 
 
A partir daí, os proprietários não precisam mais descer ao chão das fábricas. É suficiente gerenciar o que lhes pertence. Esse gerenciamento faz com que o excedente produzido pelo trabalho alheio seja apropriado pelo capitalista de forma crescente. 
 
A partir da Revolução Industrial os trabalhadores não tiveram mais controle algum sobre o produto do seu trabalho nem sobre os meios de produção.
 
 
Outro elemento importante nos primórdios do capitalismo, é a ideia de que o trabalho comprado do trabalhador tem que valer a pena, ou seja, aquilo que o trabalho produz gere excedente ao empregador (e quanto mais, melhor). O salário do trabalhador não pode consumir o valor do que ele produz. Então, para que haja excedente, a maioria das pessoas vivem com salários insuficientes para seu próprio sustento. 
 
 Para o capitalismo radical, não é interessante que todos estejam empregados.
 
No capitalismo sempre houve o fenômeno do desemprego. Quanto maior a oferta de trabalhadores, menor a remuneração. É a lei da oferta e da procura. Além de manter uma grande oferta de pessoas, o medo faz com que o trabalhador tenda a aumentar sua jornada de trabalho na tentativa de receber um pouco mais ou de se manter na empresa. A pessoa perde a autonomia, não mais é dona de si mesma. 
 
Com a novidade do trabalho em casa (teletrabalho) e da tecnologia robótica, além da ameaça de redução dos direitos trabalhistas, a realidade tende a ser a drástica redução da liberdade de escolher a hora de trabalho, da capacidade de negociar salários e do ritmo da produção.
 
Lembrando que nem falamos do capital especulativo que não gera vagas no mercado de trabalho. 

Se o trabalhador é mera mercadoria, poderá estar com seus dias contados.

Mas, ele é mesmo só uma mera mercadoria? Sem o trabalhador bem remunerado, haverá trocas de mercadorias? Sem consumidores, haverá o capitalismo?
 
Fica a reflexão.
 
 



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