terça-feira, 10 de julho de 2018
quinta-feira, 28 de junho de 2018
Marx e as mutações virtuais.
Marx
nos disse num dos livros do O Capital, que o homem, ao atuar sobre a natureza,
ao modificá-la, ele modifica a si mesmo. Esta afirmação ficou buzinando na
minha cabeça, como um mantra. No século XXI, ela tem novo sentido: ao inventarmos tecnologicamente uma nova
natureza (o espaço virtual), reinventamos a nós mesmos.
Sabemos
que nosso século é o tempo em que trabalhamos sobre (e com) a informação. Ela,
a informação, está personificada no mundo virtual, o ciberespaço. E quanto mais
fuçamos no virtual, mais o virtual fuça em nós.
Estarmos interligados e sermos interligados, muda nosso modo de
existir no mundo físico. Muda-nos culturalmente e ontologicamente. Quanto mais vivemos, ou sobrevivemos, em
rede, mais nos diferenciamos do que éramos há décadas atrás. Cedemos às
investidas do mundo on-line.
Cada
indivíduo relaciona-se com o mundo virtual das informações, como se ele existente
fisicamente. Nesse lugar fictício buscamos coisas preenchendo-nos com elas.
Aventuramo-nos pessoalmente (individualmente) na cornucópia virtual. E lá (não
sei onde fica esse “lá”) encontro tudo o que quero.
Minha
fé religiosa no espaço virtual onisciente e onipresente, faz com que eu creia
na infalibilidade on-line da internet (pois ela está sempre em algum lugar onde
algo acontece). Essa verdade virtual sempre presente aos acontecimentos, mexe
comigo.
O
espaço internético é um ser gigantesco que nos devora por osmose. É um deus fictício
e real que nos faz, que nos constrói. Ele não pede licença para isso.
A
realidade on-line tem vida própria. Se eu
não me conectar diariamente, eu
desapareço. Se eu indivíduo morrer amanhã, não farei falta nos espaços virtuais.
Eles independem de mim. Eu nada sou individualmente na rede.
Eu sou porque
estou na rede (se fico off-line, esvaneço-me para o mundo, pois inconectável).
Sem
a humanidade a rede nada é. Porém, a rede sem indivíduos continua sendo. A inteligência virtual só precisa de mim para que eu reproduza seu poder. E quanto mais eu inserir-me na rede,
mais poderoso eu serei porque estou
conectado. Simbiose. Quem é o parasita?
Quem é o hospedeiro?
Eu,
neste momento, já sei que vou por na rede este texto, pois só assim ele
existirá independentemente de mim.
Afinal, eu como individuo, não faço
falta para a rede. Então, mesmo quando eu
morrer, o texto permanecerá para sempre nos espaços virtuais (que nem
perceberão minha desconecção por
morte). Através deste texto, continuarei vivo na rede (mesmo sem corpo). No
século XXI a imortalidade está fora de nós, fora dos corpos, dos livros físicos
e dos espaços tridimensionais. Hoje a imortalidade é virtual.
Por
que criamos o ciberespaço, nós nos recriamos e nos imortalizamos. Estamos nos adaptando. Mas a cada adaptação, a
tecnologia avança. Nos readaptamos novamente. Estamos nos tornando cada vez
mais virtuais e menos corporais. O que não significa que nos tornamos mais
espirituais.
Que
venha o tempo. Só ele nos dirá até onde essas mutações nos levarão.
quarta-feira, 20 de junho de 2018
quarta-feira, 13 de junho de 2018
quinta-feira, 31 de maio de 2018
domingo, 27 de maio de 2018
quinta-feira, 24 de maio de 2018
A impossibilidade da vingança estatal.
Vingança é uma ação consciente que tem o objetivo
específico de causar dano, dor moral ou física a outra pessoa. Resumindo: a
vingança quer causar prejuízo. O que a motiva não é a racionalidade, mas o
sentimento de retribuição imediata. Ela é uma catarse, uma explosão. A vingança
é uma espécie de insanidade momentânea, aplacável com a aplicação da violência
ao agressor.
Se fosse possível uma vingança justa, ela se basearia na
reciprocidade. Se o sujeito A decepou o braço do sujeito B com três machadadas,
o agressor teria também seu braço decepado por exatas três machadadas. Acontece
que os parentes do sujeito A poderiam não concordar. Então, vendo seu parente
com o braço decepado “injustamente”, também acreditariam ter o direito de se
vingarem dos vingadores... e por aí vai.
Até aproximadamente o século XVIII, a vingança foi aceita
por inúmeras sociedades. Foi possível entregar por algum tempo ao Estado a
função vingadora. Então, o sujeito B deixava ao Estado a função de cortar o
braço do seu agressor. Caso hoje isso fosse possível, posso imaginar duas profissões
interessantes. A primeira seria a do
médico medidor. Este profissional público devidamente concursado, deveria
cientificamente “medir” a dor da vítima. Só assim poderia indicar a exata medida
da dor que seria infligida “justamente” ao agressor. A outra profissão já bem
antiga seria a de algoz. Hodiernamente o algoz seria também um funcionário
público efetivo. Este, após a liberação pelo Estado, cumpriria a vingança na
exata medida da dor receitada pelo médico medidor.
O sujeito A (que decepou o braço de B com três machadadas),
se fosse condenado, a sentença seria mais ou menos assim: “O Estado sentencia o sujeito A a ter seu braço direito amputado da
seguinte forma: será o membro superior
do sujeito A atingido exatamente por três golpes de machado, culminando, absolutamente
no terceiro golpe, com corte total do referido membro”. Caso o algoz atingisse o objetivo da vingança
com duas machadadas, seria um abrandamento ilícito da pena. Caso o objetivo
fosse atingido com quatro machadadas, seria um agravamento ilegal da pena.
Afinal, hoje, a vingança seria coisa séria.
O que quero evidenciar com os parágrafos anteriores, é o
absurdo do fundamento da vingança: que é a dor, o prejuízo, o dano, a morte por
órgãos estatais. Poderíamos imaginar o Estado ou qualquer segmento dele ser
especializado na dor e no dano? Não! Qual a vantagem de aplicar chibatadas,
mutilações ou dor em quem cometeu crimes? Nenhuma! Ora, acredito que todos
querem evitar o crime. Mas, agredir o agressor, torturar o torturador é cometer
estes mesmos crimes ampliando-os! Assassinar o assassino é dois assassinatos!
Mesmo que seja pela mão estatal.
E a pena atual?
A pena imposta
hoje pelo Estado de direito também quer a retribuição (ao ofensor) pelo ato
delitivo. Mas, não, nunca, a retribuição da dor ou do dano. Nunca quererá
cometer um crime para vingar outro, ou na esperança de impedir outro crime
futuro. Inclusive o Estado aposta na ressocialização do condenado. Todo o
condenado um dia voltará ao convívio social, depois de cumprida a pena ou por
benefícios que antecipem a sua liberdade. Na vingança, o violentador violentado pelo
Estado, será um elemento perigosíssimo para os demais. Impossibilitando sua
liberdade. Já na pena, em tese, a
sanção-prisão daria tempo para a reflexão do infrator amparado pelo Estado,
deixaria o criminoso em condições de retornar ao convívio social. A vingança, contrário sensu, é um caminho só
de ida para a violência.
E os que querem a violência carcerária como uma espécie de
vingança estatal?
Mais pernicioso ainda para a sociedade é a atual
hipocrisia. Refiro-me àqueles que
desejam a vingança de modo torpe, insidioso.
Refiro-me aos que desejam celas minúsculas lotadas. Àqueles que vibram com a violência e as
mortes nos motins. Refiro-me aos que querem prisões torturantes, macabras, sem
luz, sujas, fétidas e com gente semimorta lá dentro. Afinal, se “bandido bom é
bandido morto”, melhor ainda é bandido sofrendo muito e por muito tempo.
Nossa sociedade produz mais delinquentes do que pode
suportar. Produz em progressão geométrica.
Então a sociedade, vitima de si mesma, quer vingar-se dos desviantes. Ressocializar
é caro e dá trabalho. Também ninguém quer um presídio por perto. Talvez a sociedade não queira ver o que ela
mesma faz com seu povo, consigo mesma. Encarcerar para fazer sofrer não é
solução.
As penas devem ser cumpridas em celas confortáveis e
modestas. O preso deverá ter contato com familiares e com a comunidade através
de trabalho. O encarcerado terá cursos de capacitação para o mercado. Terá acesso
a médico e a advogado. Será tratado com urbanidade e dignidade.
O sistema carcerário é tão caro e contraditório que
melhor é prevenir o surgimento de novos criminosos, sempre.
O Estado não se vinga. O Estado não pode permitir a dor
dos seus cidadãos. Não é possível ao judiciário pretender o dano e a destruição
de alguma pessoa. Será destruir a
própria justiça desejar que ela trabalhe para o dano e, pior, para a morte
lenta pela dor. Simples assim.
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