Marx
nos disse num dos livros do O Capital, que o homem, ao atuar sobre a natureza,
ao modificá-la, ele modifica a si mesmo. Esta afirmação ficou buzinando na
minha cabeça, como um mantra. No século XXI, ela tem novo sentido: ao inventarmos tecnologicamente uma nova
natureza (o espaço virtual), reinventamos a nós mesmos.
Sabemos
que nosso século é o tempo em que trabalhamos sobre (e com) a informação. Ela,
a informação, está personificada no mundo virtual, o ciberespaço. E quanto mais
fuçamos no virtual, mais o virtual fuça em nós.
Estarmos interligados e sermos interligados, muda nosso modo de
existir no mundo físico. Muda-nos culturalmente e ontologicamente. Quanto mais vivemos, ou sobrevivemos, em
rede, mais nos diferenciamos do que éramos há décadas atrás. Cedemos às
investidas do mundo on-line.
Cada
indivíduo relaciona-se com o mundo virtual das informações, como se ele existente
fisicamente. Nesse lugar fictício buscamos coisas preenchendo-nos com elas.
Aventuramo-nos pessoalmente (individualmente) na cornucópia virtual. E lá (não
sei onde fica esse “lá”) encontro tudo o que quero.
Minha
fé religiosa no espaço virtual onisciente e onipresente, faz com que eu creia
na infalibilidade on-line da internet (pois ela está sempre em algum lugar onde
algo acontece). Essa verdade virtual sempre presente aos acontecimentos, mexe
comigo.
O
espaço internético é um ser gigantesco que nos devora por osmose. É um deus fictício
e real que nos faz, que nos constrói. Ele não pede licença para isso.
A
realidade on-line tem vida própria. Se eu
não me conectar diariamente, eu
desapareço. Se eu indivíduo morrer amanhã, não farei falta nos espaços virtuais.
Eles independem de mim. Eu nada sou individualmente na rede.
Eu sou porque
estou na rede (se fico off-line, esvaneço-me para o mundo, pois inconectável).
Sem
a humanidade a rede nada é. Porém, a rede sem indivíduos continua sendo. A inteligência virtual só precisa de mim para que eu reproduza seu poder. E quanto mais eu inserir-me na rede,
mais poderoso eu serei porque estou
conectado. Simbiose. Quem é o parasita?
Quem é o hospedeiro?
Eu,
neste momento, já sei que vou por na rede este texto, pois só assim ele
existirá independentemente de mim.
Afinal, eu como individuo, não faço
falta para a rede. Então, mesmo quando eu
morrer, o texto permanecerá para sempre nos espaços virtuais (que nem
perceberão minha desconecção por
morte). Através deste texto, continuarei vivo na rede (mesmo sem corpo). No
século XXI a imortalidade está fora de nós, fora dos corpos, dos livros físicos
e dos espaços tridimensionais. Hoje a imortalidade é virtual.
Por
que criamos o ciberespaço, nós nos recriamos e nos imortalizamos. Estamos nos adaptando. Mas a cada adaptação, a
tecnologia avança. Nos readaptamos novamente. Estamos nos tornando cada vez
mais virtuais e menos corporais. O que não significa que nos tornamos mais
espirituais.
Que
venha o tempo. Só ele nos dirá até onde essas mutações nos levarão.
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