domingo, 22 de novembro de 2020

Minha rede social, minha casa virtual

 



 

Vou comentar minhas experiências nas redes sociais.  Vou falar de mim de forma a não magoar ninguém ao falar delas.

 

Senti na pele a necessidade de urbanidade nas redes sociais. Sei que quando coloco na rede mundial de computadores (world wide web) uma postagem, implicitamente solicito a participação dos internautas. É um convite certamente

 

Eu não posto coisas esperando solidão. Sequer espero, ao me expor, concordância universal. Até porque na área das ciências humanas, a universalidade é rara. Ainda mais quando a teoria é confrontada com a vida.

 

Apesar da universalidade raríssima, alguns axiomas o são... ou devem ser (apontando para a ética). Sabe-se que, quanto mais teórica/abstrata, mais possível de universalidade uma premissa é.

 

Um bom exemplo desta amplitude, veio-me agora à mente, é o respeito com a casa alheia quando a visitamos (creio ser válido em todo o planeta).  A expressão material do respeito varia de cultura a cultura, mas todos sabem que o respeito é fundamental. Tem algo a ver com a dignidade da pessoa humana.

 

Vamos imaginar que convido alguém para jantar na minha casa, porque tenho um quadro novo que quero mostrar. Mando o convite extensivo aos familiares e amigos do meu convidado. Então, preparo o jantar, arrumo o ambiente e coloco em evidência a obra de arte que tenho tanto apreço e orgulho. Fico no aguardo.

 

Para minha surpresa as pessoas arrombam a porta apesar de serem bem-vindas. Entram rapidamente e observam muito superficialmente o quadro. Como não gostam dele, depredam os móveis, chutam a mesa e ofendem o dono da casa. Não satisfeitos, picham as paredes deixando desaforos. Fazem questão de mostrar agressividade, desrespeito e incivilidade.

 

Eu que chamei as visitas fico chocado.

 

Quanto mais eu argumento com os violentadores sobre a sua incivilidade, mais os visitantes se revoltam. Tentam de todas as formas me agredir. Arrogantes, não percebem que o convite estava fundado na discussão civilizada sobre o quadro. O motivo do convite era a reflexão sobre o belo.

 

As agressões não ensinaram nada. Os agressores não aprenderam nada. A obra ficou lá jogada a um canto entre os restos de comida e fragmentos de móveis quebrados.

 

O dono da casa reflete sobre o acontecido. Ele pensa que há algumas possibilidades para resolver o problema. Pode não convidar mais ninguém e ficar solitário ao lado da obra de arte que comprou. Também pode escolher os convidados entre os melhores, optando por uma aristocracia cultural evitando a maioria das pessoas. Então favoreceria uma elite.  Seria razoável também, dependendo da coragem do dono casa, continuar convidando a todos e tomando precauções extras para não ser atingido por possíveis agressões. Então, socializaria com todos o deleite com a obra de arte.

 

Ora, quando envio minhas postagens, com certeza são convites para que minha “casa” virtual seja visitada. Quero mostrar minhas obras de arte. Mas o respeito que todos devem ao anfitrião esta em desuso. Ao menos esta é minha experiência pessoal.

 

Muitos me visitam. Mas arrombam a porta, ofendem o dono da casa, chutam tudo, deixam pichações horríveis... e pouco usufruem do que é oferecido.

 

Não, não quero que concordem com o que encontram na minha “casa”. Apenas respeitem, usufruam, discutam, acomodem-se confortavelmente e se sirvam do que é modestamente oferecido. Aprendam e ensinem. Concordem e discordem. Então o tapete de “boas-vindas” lá permanecerá.

 

Outra comparação interessante:

 

Nas artes marciais sérias o aluno aprende do mestre que, a cada campeonato, disputamos conosco mesmo o que aprendemos nos treinos. Não há oponentes fora de nós no tatame. O que ocorre é a testagem do que aprendemos. A outra pessoa nos auxilia nisso. Ela aprende comigo. Eu aprendo com ela. Sem arrogâncias. Quem “ganha” ganhou de si mesmo. Quem “perde”, perdeu para si mesmo. Não é permitida a alegria de ver o outro cair ao chão. Não é permitido o grito de satisfação com a dor do outro. Nunca. Se derrubou, levante-o. Se machucou peça desculpas e tenha vergonha, pois usou erradamente a técnica. O mestre nunca machuca, sempre ensina.

 

O que percebo é a violência verbal. O ódio e a arrogância embebedando os convivas da festa, do banquete que é o mundo virtual.

 

Na minha “casa” eu arrumo tudo da melhor forma que posso. Fico no meu limite máximo. Então as pessoas chegam. Muitos são delicados, observam tudo, conversam, dialogam. Rimos juntos e aprendemos uns com os outros. Então vou na casa deles também. Eles confiam que sou educado e respeitador na casa alheia.

 

O mundo virtual é maravilhoso! Mas é dependente da gentileza, da fraternidade e, principalmente, da vontade de aprender.

 

Optei em continuar fazendo convites para que venham à minha “casa”. Os que quiserem, é claro. Quero aprender com os visitantes.

 

Mas junto ao tapete de “boas-vindas” em frente a porta, acrescento ao incivilizado: seja respeitoso, deixe a arrogância, a violência e os preconceito do lado de fora. Algo como: Limpe os pés antes entrar. Não por que minha casa seja limpa demais, mas para que não fique enlameada quando os convivas voltarem para seus lares.


 

 

 

 

2 comentários:

  1. Prof. Amilcar
    Amigo.
    É natural que o pesquisador, sincero e dedicado, erga seu escudo e tome medidas para manter-se em paz em seu trabalho de conversar com as pessoas, examinar a realidade, mostrar o que já descobriu e sua nobre intenção.
    Abraço.

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  2. Agradeço o comentário. Sempre é bom ouvir as pessoas. Abração!

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