O homem
se caracteriza pelo existir consciente. Sendo corpo e mente, existir significa
permanecer internamente e se projetar no ambiente externo. Nossa pele é mera
membrana. Ela nos dá a ilusão de limitar o dentro e o fora de nossa
consciência. Tendemos naturalmente a sair do interior: é inevitável.
Uma das maneiras conscientes de se pôr para fora do corpo, é formular
perguntas. Toda pergunta leva o Eu para passear fora do corpo.
A
qualidade do perguntar (de pôr-se para fora) é diretamente proporcional a
história vivencial do sujeito que formula questões. O que vivemos orienta o que
queremos saber a mais. O que já sei determina a amplitude do perguntar.
Portanto, o que sabemos de antemão permite e (também) limita “o querer saber
mais”. Todo o perguntar tem uma pré-condição e uma pré-direção, ou seja,
uma orientação condicionada pela vivência do sujeito que propõe perguntas.
O nada
saber nada quer nem nada pergunta.
Dependendo das vivências que
temos, o perguntar tende ao infinito (em quantidade e qualidade). Em tese,
quanto mais eu sei, mais posso perguntar e entender a resposta. O inverso é
verdadeiro. Meus estudos (meus interesses e valores) se orientam na área das
ciências humanas. Então, pouco sei sobre física quântica. Por consequência, pergunto
quase nada sobre ela. E quando pergunto, um tanto das respostas não entendo.
Nossa vida intelectual (interna),
quanto mais se amplia, mais busca seus alimentos no exterior.
Pode
haver anomalias nesse processo de sair de si para buscar o externo. Isso
acontece quando o perguntar busca somente respostas que ratifiquem nosso
pré-conhecimento. Há a tentativa de perpetuá-lo, ignorando o que pode
contradizê-lo. Nesse caso, saímos de nós na esperança de voltarmos iguais.
Nossos
pré-conhecimentos alojam juízos. Estes são valorizados a ponto de orientar “o
querer saber mais”. Corremos o risco de ficarmos submissos
às informações já tidas como certas e inquestionáveis. Tanto o cientista quanto
a pessoa comum, estão sujeitas a este hipertrofismo dos pré-conhecimentos
valorizados.
Podemos
avaliar nosso interior na tentativa de conhece-lo melhor. Talvez até prepara-lo
para sua próxima investida mais livre no mundo exterior. Para isso, é imperioso
ao nosso Eu perguntar pelas perguntas, pelas suas pré-orientações.
O
perguntar interno (autoquestionamento) é interessante. Algumas dicas de
reflexões possíveis:
Por que
pergunto o que pergunto?
Por
que quero inspecionar isso e não aquilo?
Perguntar
o que pergunto me traz coisas novas?
Questionar
a direção das nossas perguntas nos leva ao pré-saber que as determina. O
processo tem duas mãos: o que sei determina a pergunta, a pergunta indica o que
sei. Sou tanto mais livre para aprender, quanto mais tenho consciência do que
internamente me prende.
As
perguntas que acrescentam e as que nos contradizem, são as melhores sempre.
Num
drástico resumo: as pessoas devem saber pelo menos um pouco para perguntarem
bastante. Perguntando bastante saberão muito. Sabendo muito, perguntarão
mais...
O
que difere o homem filosófico do homem do senso comum? Sua capacidade de
perguntar sobre suas perguntas ampliando a consciência.
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