quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Elogio ao medo

Prof. Amilcar Bernardi


Ao  imaginar como seria a humanidade sem medo, veio à minha mente o filme Wall-E. O filme é uma animação feita em 2008, da Pixar Animation.  Em determinado momento da animação, surge uma nave espacial nos moldes da arca de Noé, onde os humanos vivem há séculos. Se movimentam através de cadeiras de rodas (na verdade sem rodas, porque flutuam). Robos servem às pessoas que não precisam sequer levantarem-se para se alimentarem. Não há medo, pois tudo é programado, previsível e limpo. Esta animação mostra como resultado disso sujeitos obesos, com a vontade enfraquecida e hipomuscalares.

O medo é um estado emocional de alerta, é a consciência de perigo imediato ou não, real ou imaginário. Presumo que em excesso é contraproducente e estressante; negativo, portanto, para a saúde. E na situação do filme Wall-E, como seria? Na hipótese da ausência total do medo, o que seria de nós? O que nos estimularia? Ou melhor, existe estímulo maior à ação do que o medo? Não creio. Alguns pensarão que o amor é um forte impulso à ação. Eu digo que a tensão do medo de perder esse amor é o que nos move, o que faz de cada dia de convivio uma conquista nova da pessoa amada.

Quando falo do medo, evidentemente não estou referindo-me ao terror, a paralização oriunda da cosnciência da morte violenta e iminente, por exemplo. Estou falando do estado de alerta, da forte espectaviva do inesperado.

Quando imagino uma situação paradisíaca, sem estímulo forte como o medo, vem a minha mente uma não ação, um não tentar. Sem o estado de alerta não há desejo de busca. Não refiro-me, deixo claro, ao sentimento de covardia, que em tudo difere do medo. A covardia é uma fraqueza, uma desistência de uma luta. O covarde não tem confiança em si mesmo. Este sentimento vil nos fazendo pensar unicamente  na dor, não nos deixa realizar, nos faz fugir do sofrimento sem esperança alguma. Este sentimento pusilânime não é medo, é paralização, é imobilidade, é desesperança.

Quando separo o medo da covardia, torno inseparável o medo da valentia. Só os valentes tem medo. Os covardes tem paralizia e terror. O covarde é imediatamente um desesperançado, um desistente imediato. O sujeito pusilânime coloca seu prazer e sua incolumidade acima de tudo e de todos. Este sujeito desprezível viveria bem na nave do Wall-E. Seria um obeso desistente de todo o movimento, um sujeito que aspira só o prazer de ser servido sem a dor de correr atrás dos seus desejos. O covarde é um hipotônico.

Eu sinto-me valente  justamente porque tenho muitos medos. São tantos que nem sei contá-los. Porém, não sucumbo, não desespero nem desisto imediatamente. Eu amo e temo perder o que amo, então amo muito mais. Temo não ser mais útil no que faço, então estudo sempre mais e procuro utilidade. Sou corajoso por que sei que felizmente não há paraíso por aqui. Sou corajoso porque supero cada temor que assalta-me para encontrar outros e superá-los novamente. A vida é isso: superação dos medos.
 
 
 
 

2 comentários:

  1. Eu penso que todos nós temos medos, uns em dimensões enormes, outros em pequenas doses. O importante é temer algo e querer superá-lo sempre. Não há quem não tenha temores, pois o mais valente dos homens pode temer perder a força por algum motivo e inesperadamente. O medo nada mais é do que uma força invisível que precisamos transpor dia após dia.

    Grata pela oportunidade de nos fazer refletir.

    Abraços!

    Sonia Salim

    Obs.: Ah, e por medo de perder o comentário e ter de fazer outro, eu copiei e colei no word para garantir se porventura ocorresse algum erro no envio. rs

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  2. Querida Sonia!

    No momento meu medo é um dia perder teu carinho! Abraços ternos!

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