Prof. Amilcar Bernardi
Há milhares de anos
atrás os homens, ou pré-homens, caçavam nas planícies ou florestas. Tinham os
instintos à flor da pele no que se refere a captura e ao extermino de
criaturas. O principal motivo: alimentação e sobrevivência. Evidentemente as
qualidades exigidas para tal atividade eram mais a (crescente) astúcia e menos
a velocidade, a boa visão e a força muscular. Os animais eram vencidos pelo
conjunto destas habilidades. Os bichos podiam ter velocidade e força, mas
perdiam em astúcia desequilibrando a luta pela vida.
Hoje já não temos
florestas nem grandes planícies desabitadas com caça abundante. Sequer
precisamos caçar. Já não há tantos animais que se escondem nas vegetações, que
desaparecem nas imensidões naturais. Hoje a caça é de homens por homens. As
florestas com grandes árvores e precipícios foram substituídas pela floresta de
concreto e seus viadutos. Pelas entranhas das cidades homens rastejam para
assaltar e matar. Outros homens se escondem em bandos para caçar os que
rastejam.
Antes os animais não
eram rastreados como indivíduos. Eram caçados simplesmente porque eram animais
e podiam ser comidos. Não importava mais nada, sequer a raça. A caça era
democrática e livre. Antes qualquer homem podia caçar qualquer animal que
pudesse matar. Os bichos caçados pouco revidavam. Não eram inteligentes,
morriam às dezenas.
Hoje homens caçam
homens. Mas não há mais democracia na caça. Só pessoas especiais autorizadas
pelo Estado podem caçar homens. Os caçadores oficiais possuem alta tecnologia
para rastrear presas específicas. Armas possantes e eficazes. A caça não é
livre. A tecnologia precisa identificar antes a caça. Saber quem é, onde se
esconde, quem são seus pais e quais as pessoas que andam com ele. Já não é
possível caçar qualquer um. Os homens do Estado podem caçar apenas alguns.
Inclusive capturam os homens que, sem autorização, caçam outros homens para
roubar ou apenas para matar. O ladrão que caça pessoas às escuras, escondido e
rastejante, será caçado pelos caçadores autorizados.
Na pré-história matar
era corriqueiro. Ninguém era caçado porque matou alguém ou algum animal.
Ninguém saia apenas para passear. Afinal, todos representavam algum perigo e
sofriam alguma ameaça. As saídas eram para prover alimentos. A caça não era
predatória. Matava-se para comer ou para se defender (ou defender seu
território mínimo).
Hoje alguns homens passeiam
apenas para pegar sol. Outros saem para trabalhar. Fazem de conta que não há
uma caçada acontecendo. A caça é predatória. Hoje homens caçam homens não mais
para comer ou para defender território. Caçam sem razão, por ganância, porque a
lei manda ou porque é divertido. A temporada de caça de homens por homens há
séculos está aberta. Caça-se com tiros, com pauladas, com facadas, com poder,
com valores morais excludentes, pela fome e miséria. Hoje sobreviver é mais por
sorte e menos por juízo.
Imagem da internet
Amilcar, há pessoas que caçam utilizando como arma letal a PALAVRA. Ela é uma arma poderosíssima, deixa a presa sem ação e pronta a definhar, o que leva à morte mesmo estando respirando. Não conheço arma mais eficaz para neutralizar qualquer que seja a presa. E para nos precaver precisamos ter coragem, acreditar em nós mesmos e prosseguir caminhada rumo aos nossos ideais.
ResponderExcluirMaravilhoso texto, rico em detalhes que reflete os tempos atuais em sociedade.
Abraços!
Sonia Salim