domingo, 7 de setembro de 2025

Entre ilogidades, melancias e bandeiras americanas no dia sete de setembro.

 


Após assistir as imagens das manifestações nada patrióticas do sete de setembro, chocado, resolvi imediatamente escrever este texto. Vamos por partes para entender o meu assombro.

O fascismo nunca foi amante da lógica e da coerência em seus discursos. Por leituras acadêmicas e psicologicamente neutras, de maneira tranquila entendi o porquê da necessidade da ilógica fascista. Ora, para manter o líder e convencer os liderados, vale tudo. A ilógica discursiva oscila entre o amoralismo dos indiferentes e a imoralidade dos ativistas fascistas. O fascista ilógico pode pregar a justiça do povo massacrando a população. Tranquilamente pode falar de justiça em tribunais viciados. Entretanto, a estética fascista é (ou era!) bem coerente: sempre arrogante, masculina/homofóbica, empoderada e violenta. Entretanto o fascismo brasileiro rompeu totalmente com qualquer coerência, seja nas falas, seja na aparência. Vou explicar.

O fascismo pátrio arroga para si o exclusivo e verdadeiro amor à pátria. Diz amar nosso país e seus símbolos. O pátrio extremista se veste de verde e amarelo e afirma: nossa bandeira jamais será vermelha. Não são, de maneira nenhuma, melancias (verdes por fora, vermelhas por dentro). As melancias são o perfeito exemplo dos vermelhos comunistas, que se vestem de patriotas, mas que traem a nação em surdina. Os comunistas são traidores covardes da pátria!

Segundo os extremistas nacionais, o amor fascista patriótico não é explicável. Sente-se e pronto. É como quando alguém ama outro alguém de forma repentina. Cai-se enamorado! Não há explicação. Por isso, não há que procurar explicações científicas para o amor patriótico. A ciência macula este amor quando expõe este sentimento ao microscópio da sociologia. O patriótico extremista não se explica, ele é e pronto. O genuíno fascista odeia livros e a ciência. Afinal, estão inexplicavelmente enamorados da pátria!

Mas até para o extremista brasileiro há um limite para sua ilógica mental! No dia sete de setembro, entre nossos fascistas, a bandeira verde e amarela oscilava graciosamente em forte abraço com a bandeira vermelha: a americana! A postura visual máscula do fascista nacional estava no auge! Majestosamente admirava seu novo amante! O vermelho trumpista! Como disse o ex-líder nacional mega hétero: “I love you Trump!” Exaltados, os amantes das loucuras do líder americano, saudavam a bandeira vermelha. Mas não só isso, gozavam a expectativa de que seu amor estrangeiro logo massacre economicamente o Brasil. Na verdade, gostariam mesmo de uma invasão estadunidense! 

Aqui está a ilógica fatal!

Agora, caberá aos fascistas nacionais arranjar uma explicação (i)lógica para tal amor pelo inimigo econômico do nosso país! Haja argumentos insanos! Haja imaginação execrável para ajustar sua conduta traiçoeira ao verdadeiro patriotismo e ao amor à pátria genuíno.

Confesso: repugnou-me! Afinal, não estou apenas estudando em livros sobre as ilógicas fatais dos extremados. Estou vendo diariamente os fatos ocorrendo. Parentes, conhecidos e ex-amigos estão por aí envoltos em verde e amarelo nacionais, mas também vestem orgulhosamente o vermelho estadunidense.

Como explicar a algum incauto viajante alienígena tais contradições? Melhor nem explicar e manda-lo embora logo. Afinal, os fascistas poderiam ama-lo, traírem a Terra e acabariam por ostentarem a bandeira de seu planeta para poderem desfilar com ela.

 

O professor e o saber da História nas redes sociais.

 

A História como fatos vívidos num tempo que já passou, já não existe mais. Há vestígios, documentos, depoimentos e fragmentos. De certa forma, vivemos presos no presente pesquisando o passado para poder planejar o futuro. Portanto, somos eternos observadores ativos do passado. Na contemporaneidade, interpõe-se entre os fatos mais uma camada que pode impedir a visão clara do que foi e do que é. As redes sociais podem “nublar” nossa visão. Entretanto, também podem ser utilizadas a nosso favor quando nos conectam trazendo novas informações, tendo o potencial de irmanar internautas em busca da clareza e do conhecimento. Há quem utilize as redes sociais para criar “neblina” e confundir horizontes. Mas também há pesquisadores, jornalistas e até cidadãos comuns que fazem de tudo para bem utilizar esta tecnologia, ou seja, para melhorar as vivências cognitivas das pessoas. Cabe ao profissional da História, utilizar esta fantástica tecnologia, dominando-a e pondo este saber a favor dos estudantes. Caso o professor não entre neste campo de batalha virtual, deixará seus pupilos sozinhos, numa batalha desigual no mundo virtual.

Os humanos produzem história inexoravelmente, só por existirem. Mas, o historiador se esforça tecnicamente para organizar os fatos, dar sentido a eles, fazer com que todos tenham acesso a este fazer humano diuturno e de produção inexorável. O historiador conectando-se, simplificando seus saberes e compreensões para ser entendido, aliado às redes, estará ajudando a sociedade. Ajudando a sociedade a compreender seus contextos e a compreender-se como enredada num mundo complexo, historicamente não linear.

O trabalho do historiador não pode mais resumir-se ao âmbito das salas de aulas ou dos espaços acadêmicos físicos. Afinal, se de um lado precisamos ampliar as oportunidades de trabalho para este profissional, por outro lado, as universidades e os locais típicos para o estudo, já não comportam o tamanho e a complexidade da sociedade. Portanto, as redes sociais de acesso amplo, como projeto de futuro, poderiam ser uma gigante sala de aula. Um enorme lugar virtual para pensar os contextos históricos que nos impelem a agir como agimos. As redes fatualmente já existem com seu bem e com o seu mal. Dominá-las e fazer com que ajam a favor da sociedade é mais um desafio. Também é um desafio acadêmico.

Tenho um canal no YouTube (@prof.amilcarbernardi). Esta experiência me fez perceber as vantagens das redes. A linguagem é mais ágil, é crítica, ajuda a (re)interpetar os eventos. Mais que livros e simples leitura, quem apresenta o conteúdo, apresenta-se também, ou seja, mostra empolgação, humaniza o saber, engaja, energiza quem o assiste. Impõe movimento à reflexão, interliga os fatos e os torna mais inteligíveis, mesmo a quem não esteja por ofício interessado.

Por outro lado, há perigos. A vida virtual é espelho da vida real, física, humana, sensorial. Ou seja: se há embustes na vida diária, haverá na vida virtual. Podemos ser vítimas ou vitimar alguém. Afinal, podemos informar algo equivocamente sendo vítimas de nós mesmos, envaidecidos com nossos saberes. Há as pessoas de má fé, buscando sensacionalismo, vivendo disso. Também há bandidos pelos caminhos virtuais, assaltando os caminheiros “internéticos” com notícias falsas em proveito próprio. O professor de história, ou todos os profissionais que querem divulgar o saber, devem primeiro acautelarem-se e, posteriormente, ensinar os estudantes a acautelarem-se.

É preciso cuidar dos iniciantes. Eles podem se perder ou cair em armadilhas. No mundo virtual há tanta informação que é possível não saber mais distinguir a falsa da cientificamente testada. Relembrando: em todos os caminhos há bandoleiros violentos em busca de vítimas descuidadas.

As redes sociais tem também a característica de questionar, pela sua simples existência, os conceitos de “verdade”, mas, principalmente, o conceito de ensinar e de aprender.

As plurilinguagem das redes, as contradições inevitáveis dos pensamentos, a energia on-line dos profissionais conectados (um testemunho do que acreditam) são elementos fundamentais para uma visão crítica e renovada do ensinar/aprender/ socializar o conhecimento da História. Brigar com as tecnologias e com o desapreço pela leitura dos jovens, não “fazem” História; mas usar a tecnologia a nosso favor fará toda a diferença.

 

 

Extrema direita. Só Freud explica.