terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Crítica à matéria do Fantástico

Prof. Amilcar Bernardi

Estamos enfrentando (e já faz um bom tempo) problemas na educação. Problemas óbvios como a estrutura física dos prédios e os baixos salários. Também é problemática a colisão entre os valores da sociedade com os valores das escolas. Acrescento a esses problemas, a autorização que muitos se dão de opinar sobre a educação. Criou-se o caos na cabeça das pessoas, pois os especialistas pouco são ouvidos e quando o são, a linguagem é muito complexa. Convém lembrar que a linguagem dos educadores é complexa como é a linguagem das demais ciências.  Todas as ciências têm dificuldade em simplificar para o leigo seus saberes. Com a educação não é diferente. Por isso os opinadores são mais ouvidos que os conhecedores do assunto.
Confesso não ter assistido os quadros anteriores do Fantástico, intitulados Conselho de Classe. Apenas o deste domingo assisti. O programa apresentou um professor dito modelo de sucesso. Nos comentários dos apresentadores haviam palavras como “infalível”, “pop star” e “eletrizar”.  As cenas mostravam um professor alegre e bom comunicador.  Todos os vieses apresentados sugeriam que aquele tipo (e existem infinitos tipos) de aula era o ideal. A insinuação era que um professor mais festivo, alegre, atualizado nos gostos adolescentes e bem humorado, é um educador necessariamente bem sucedido. Por consequência, afirmou-se subliminarmente que o aluno só aprende (ou aprende mais fácil) com professores que escolhem o fazer pedagógico apresentado pela emissora de TV.
Evidentemente que a matéria do Fantástico é extremamente simplória e é uma visão “da moda”.  Qualquer livreco que fale sobre as “10 maneiras de ser um professor de sucesso instantaneamente”, diria o que foi sugerido pela matéria.  Não senti-me bem ao ver aquelas cenas.  Não sou contra a alegria como veículo para a aprendizagem. O que quero dizer é que não existe um jeito de ensinar. Existem infinitos jeitos. Escolher um e mostrá-lo como exemplo, é minimizar a complexidade intrínseca ao manejo de turmas.
Assusta-me imaginar que (de imediato!) a matéria foi aceita pelo público. Num mundo atiçado pela velocidade e pela aversão ao que dá “trabalho”, entendo que a matéria não ajudará em nada os problemas que o país enfrenta nessa área tão vital para o futuro.

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