domingo, 10 de maio de 2020

A fé e a esperança nos definem, nos fazem gente. (Escrito anos atrás...)



Eu adoro espantar-me. Fico feliz quando vejo algo e fico surpreso com algum detalhe aparentemente banal. Não é fácil ficar surpreso. Tudo está passando tão rápido que parece igual. Pois hoje fiquei espantado novamente! Estava junto a um grupo de pessoas unidas no desejo de fazer o bem e usufruir dele. Coisa rara, não?
As pessoas se reúnem por inúmeros motivos. Algumas vezes até sem motivo aparente! A grande característica do homem, característica que o tornou gente, é a capacidade de formar pequenas aglomerações. Delas surgiram tudo o que conhecemos hoje: dos clubes aos Estados. A gênese dos grupos foi a necessidade de defender-se das intempéries, da fome, dos animais e de outros homens.
As coisas evoluíram muito. Não só aglomerações para o bem. Existem grupos de extermínio de minorias, grupos de assaltantes, grupos de mafiosos, de milicianos e por aí vai. Geralmente onde há um grupo reunido, outros grupos ficam excluídos do primeiro. Claro que se reunimos muitas pessoas, o grande grupo formado é feito de grupos menores. Há então inúmeros jogos de forças que juntam pessoas, afastam outras, forças que formam alianças temporárias e permitem o crescimento político das sociedades.
Hoje pela manhã estava num grupo. O que o fez diferente dos demais, é que é um grupo do bem. Enquanto outras vidas giravam suas órbitas diárias, meu grupo questionava-se sobre como fazer o mundo ficar melhor. As pessoas, sinceras ou não, repetiam palavras que incitavam a cordialidade e a fraternidade. Em nome de um futuro “gastavam” seu presente com reflexões sobre a virtude. Por algum tempo o capitalismo ficou de fora. As falas não eram da mesma natureza das do dia a dia. Estabeleceu-se uma conduta acima da ordem das coisas que acontecem no nosso trabalho, nas fábricas, no trânsito, enfim, externa a nossa rotina de egocentrados e egoístas. Para a Filosofia, essa sensação é definida pelo termo transcendência.
Senti a profunda necessidade de sempre fazer parte de grupos que nos tirem do dia a dia. Quero que todos façam parte de reuniões que nos impeçam de continuar na cotidianidade. Falar do bem, pensar na virtude, refletir sobre a fraternidade é tão necessário quanto respirar. Falar da fé é algo transcendente mesmo! Retira-nos do nosso mundinho. Eu tenho fé sim. Tenho fé na humanidade, tenho fé nas pessoas, tenho fé no bem, na ciência, tenho fé que é necessário ter fé. O homem é um sujeito de fé porque é um sujeito de esperança. A fé e a esperança nos definem, nos fazem gente.
Convido todos: vamos nos reunir sempre. A pauta tem que ser muito estranha ao nosso dia a dia. Ou seja, é importante estranhar o que fazemos, transcender a cotidianidade e buscarmos falas sobre um mundo melhor, sempre melhor do que temos hoje. Podemos ter dúvidas sobre a definição de “mundo melhor”, porém, não podemos duvidar da necessidade de reuniões que discutam sempre esse mundo diferente e melhor do que o atual.

Quêm lê muito não faz nada. Verdade?