Prof. Amilcar Bernardi
Há bastante tempo
escuto/leio a questão: velocidade analógica versus
velocidade digital, professor que sabe pouco no mundo informacional do século XXI
versus nativos digitais que sabem
muito. São questões que se prestam a profundas discussões, porém, penso que partem
de premissas que reputo como falsas, ou no mínimo, carentes de fundamento.
Caso façamos uma
pesquisa sobre a idade dos que anunciam a dominância do mundo digital sobre o
analógico na educação, são os nascidos na cultura pré-digital, ou ainda
incipientemente digital, que apregoam as benesses das tecnologias cibernéticas.
Talvez um ou outro pensador seja bem jovem, mas na grande maioria são pessoas culturalmente
vinculadas a prevalência dos cadernos, dos quadros e dos gizes: na maioria migrantes
digitais, portanto. Digo isso porque
quero salientar que, no caso da educação contemporânea, a ideia de tempos
(tempo da máquina de escrever X tempo dos supercomputadores) é infundada.
Quando ensinamos
sempre é “hoje”; afinal, somos filhos e contemporâneos do ontem. Contemporâneos
porque os avós, os pais e os filhos estão assistindo ao espetáculo das aulas:
hoje! Tem professor que é pai, que é avô e tem também, o professor muito jovem,
recém-formado. Todos vinculados às salas de aula! Portanto, o ensinar/aprender
de ontem e o de hoje não se excluem. Tenho certeza que saber a tabuada através
do quadro de giz ou por um blog, só leva em consideração a importância de saber
a tabuada. O aluno que se motiva através da escrita desta tabuada no caderno, é
tão “normal” quanto o motivado pela lousa digital. A motivação depende pouco
dos meios físicos ou tecnológicos, depende bem mais dos fatores humanos. Alguém
motivado (internamente) tende a motivar outra pessoa. Com isso, obviamente, não
estou negando as TICs; apenas relativizando as “odes” feitas para elas.
Eu era praticante de
uma arte marcial. Eu tinha como estímulo o desejo de sucesso numa luta entre
iguais. Nessa luta a criatividade, a previsão (antevisão) do golpe do
adversário é fundamental. Mas como chegar a esse patamar? O foco. É necessário
ajustar o foco no treinamento para ser “randômico” na luta. Na verdade, o foco,
a multivisão e a criatividade são a mesma coisa para obter o sucesso na arte
marcial. Porque disse isso? Porque acredito que o aprender escolar segue a
mesma problemática: foco e criatividade irmanadas; inseparáveis. Então, tanto o
acesso ao conhecimento focado e o acesso “randômico”, digital e multifocal a
esse conhecimento são inseparáveis na arte de aprender a aprender. Caso o professor escolha apenas uma das
opções, não obterá sucesso.
Aprendi no século
passado que as aprendizagens (e as ensinagens por consequência) são múltiplas,
infinitas até. Então, todas as formas de ensinagem ainda são válidas, sejam as virtuais,
as analógicas ou as contadas pelo índio mais velho ao mais novo. E digo mais:
todas as formas de ensinar/aprender acontecem em todas as aulas, em todos os
tempos e em todas as disciplinas, independentemente se da parte do professor,
se da parte do aluno, se no livro, se nos espaços cibernéticos.
Imagem: http://instinctalternative.blogspot.com.br/2010/07/projeto-ciberneticos-tron.html