Ensinamos aos jovens rejeitar estranhos, a andar de olhos abertos para ameaças, não pegar carona de qualquer pessoa, suspeitar de lugares escuros, não aceitar bebida, evitar pessoas oferecendo drogas, enfim, ensinamos que a vida fora do ambiente conhecido é uma selva perigosa. E parece ser verdade tudo isso.
Estamos num século de contradições nas valorações. Os valores mais cultuados são a liberdade e a felicidade. Porém, contraditoriamente, ensinar a ter medo é uma necessidade imperiosa, mesmo que limitante. Os jovens saem à noite inconscientes dos perigos, então os mais velhos ensinam o medo. Contra a impetuosidade juvenil os conselhos e as admoestações sobre os perigos onipresentes. Também às crianças ensinamos a desconfiança em relação aos adultos e às situações diferentes.
A utopia da confiança no próximo está cada vez mais distante. No lugar da confiança ensinamos a inquietação, a criticidade exacerbada e a escolha do menos perigoso. Não dá para dizer se ensinar a tensão e a desconfiança é algo errado. Talvez a aprendizagem do medo seja algo necessário, uma adequação a um mundo que se modifica rapidamente. Entretanto, fica uma incompatibilidade entre os valores do amor e da solidariedade e o ensino de um estado de alerta, de receio do próximo.
Não é novidade que a sociedade esta adoentada porque não sabe quais valores priorizar. Então, pela simples inércia do movimento capitalista, o que se sedimentou foi a escolha do lucro, da brevidade, da individualidade e da escolha ao culto da liberdade do consumo de bens e de corpos jovens.
Sem tempo e sem querer parar para refletir sobre os valores que nos norteiam hoje, os adultos resolveram estimular a perturbação da fé no outro, substituindo a confiança pelo sentimento de risco: os outros são avaliados como risco real. Então os pais sentem-se mais tranquilos quando conseguem ensinar aos jovens o receio, a apreensão, enfim, o medo. Ensinam, novamente de forma contraditória, que é preciso temer a vida para poder voltar para casa vivo. É isso que queremos?
Prof. Amilcar Bernardi, o seu texto é esclarecedor e leva-nos a tomar as decisões mais acertadas. Certo temor já existe em nós como um dispositivo a nos livrar do males. Com o passar do tempo parece que esse dispositivo parou de funcionar e o excesso de confiança reinou. Eu ensino sempre a não confiar nas pessoas, pois é mais seguro. Hoje impera o capitalismo e precisamos ter um pouco de bom senso para viver bem, fazendo escolhas e acertando o máximo que pudermos. Ainda assim existe um espaço para os acidentes. Enfim, precisamos fazer o nosso melhor na educação para obtermos sucesso. Nem sempre os filhos/jovens nos ouvem, mas fica o ensino gravado dentro dele para que saiba usar no momento propício.
ResponderExcluirVocê é um grande educador! Abraços!
Sonia Salim
Querida Sonia! Teus comentários estimulam-me muito, de verdade!
ResponderExcluirAcredito que tu és representante de um número pequeno de pessoas em quem podemos confiar sem medo. Beijos confiantes!
Parabéns,caríssimo professor Amilcar Bernardi,pela lucidez do seu olhar,nessa prática vigente e atual,que nos conduz nesse mundo desigual e inóspito,onde ensinar a ter medo é a melhor defesa para a sobrevivência.Infelizmente,parece ser a única saída tangível à nossa disposição.Belo texto a ser apreciado e divulgado!
ResponderExcluirZinah Alexandrino