quarta-feira, 13 de junho de 2012
sexta-feira, 1 de junho de 2012
sábado, 12 de maio de 2012
Ninguém pede licença, somos como flashes
Prof. Amilcar Bernardi
Comunicar é um ato invasivo. Imagina
a pessoa absorta em seus pensamentos e alguém chama a sua atenção de alguma
forma. A outra pessoa ao conseguir a atenção, penetrou rapidamente na cognição
do sujeito antes distraído. A informação não pede licença. Quebra a vidraça dos
olhos e entra, força a entrada pelos tímpanos ou pelo tato perturbando os
neurônios, fazendo-se presença na nossa mente. Nunca os sons, as cores, os
sabores ou os aromas pedem licença para “falarem” com nossa consciência. As
pessoas agem de forma semelhante, surgem no nosso campo de percepção sem pedir
licença. A comunicação é algo obrigatório/irreprimível nas vidas dos humanos.
Pensando por aí, é fácil imaginar
que nem toda a informação é bem-vinda, porém, vem igual! O som que vem da porta
dizendo que alguém esta a bater, o vibrar do celular “gritando” na reunião que
uma alma quer se comunicar com a gente. Não conseguimos desviar a atenção daquele
visual inadequado para o ambiente formal, a imagem de um acidente que tentamos
não olhar, mas que se oferece despudoradamente aos nossos olhos! Podemos com
certeza dizer que muitas coisas forçam a comunicação com a gente. Eu insisto na
palavra comunicação porque nós respondemos (voluntária ou involuntariamente) a
estes estímulos que tanto queremos evitar! Então nos comunicamos sim!
Quando vou palestrar e estou fixado
no discurso verbal, veículo da minha comunicação com a plateia, esqueço que ao
arrumar-me, escolher mecanicamente a gravata e o terno, nova linguagem (visual)
esta se estabelecendo. Minha imagem, com certeza, também vai comunicar algo ao
público. E aquele que não se preocupa com a aparência? Comunica sua
despreocupação quando escolhe roupas que parecem ser vestidas ao acaso. Não dá
para ser insípido, inodoro e incolor, pois somos gente. Os espaços para os
comunicantes inexperientes de si mesmo está ficando cada vez menor. Sinto a
necessidade de refletirmos sobre como somos informação e agimos como se não
fôssemos!
Cada um de nós é uma informação que
não pede licença para atingir a consciência dos outros. Aparecemos para os
neurônios alheios e pronto. O outro que saiba o que fazer conosco! Surgimos
sempre como flashes, assim como os outros surgem para nós. Em cada calçada, em
cada emprego, em todos os momentos pessoas surgem comunicando coisas, sensações
e sentimentos. Ninguém pede licença para ninguém. Cada um que se vire como pode
na comunicação/aparição que faz de si mesmo! E o outro que se vire também com o
que fará com o seu surgimento instantâneo nas consciências alheias!
sexta-feira, 11 de maio de 2012
terça-feira, 8 de maio de 2012
O funk é feminista?
Acabei de ler um artigo intitulado “O funk é feminista”, na revista Superinteressante
(Maio de 2012, edição 304). Como diz o título, o funk seria feminista porque
brada pela liberdade sexual das mulheres, além de quebrar o padrão de beleza
socialmente admirado nos dias de hoje, mulheres magras e loiras. Após ler o
texto da Profa Doutora Carla Rodrigues, confesso, fiquei a pensar sobre o
assunto.
O Funk é um movimento musical, porém, como
bem mostra o texto, tem preponderantemente um conteúdo sexual explícito. Fico mentalizando todas as imagens que veem à
minha imaginação sobre esse tema. Claro que imagens marcadas pela mídia. Na
minha mente aparecem sempre mulheres dançando/rebolando com roupas mínimas. É
provável que eu esteja falando uma coisa óbvia, pois o funk e mulheres
desejáveis são inseparáveis. Puxo da minha memória midiática as letras das
músicas apresentadas por este movimento. Percebo que também estas composições
falam da sensualidade da mulher, dos desejos sexuais consumados e, na grande
maioria das vezes, a rima é pobre, o palavreado é rude, também não é incomum
palavrões. Pelo menos é o que vejo, leio e ouço através das mídias, notadamente
as televisivas. E não tenho culpa de não querer comprar Cds desta natureza e
estar minimamente conectado à TV. Quem se expõe a esta ou aquela mídia, fez uma
opção e não pode reclamar de ser percebido através da mídia escolhida.
Se eu fosse mulher, odiaria o texto
opinativo da revista Superinteressante. Como homem, odeio igualmente. O funk
não é feminista, é um ultraje à mulher. Aproximar o ideal libertário feminino
de um viés apenas, o sexual, é minimizar a questão e empobrecê-la. Este tipo de
movimento não é uma expressão política das mulheres. É sim o resultado de uma
política, uma política excludente de uma grande parcela da sociedade brasileira. Se o ritmo funk expressasse uma mudança
qualitativa ampla, aí sim, seria algo a ser respeitado. Porém, dizer que a
expressão no funk do desejo sexual através de imagens e letras caricaturais do
universo da mulher, é uma das expressões do feminismo, é uma bobagem. O feminismo é muito maior que este tipo de
liberdade. Tão maior que o funk desaparece (se apequena) no contexto da luta da
mulher para ser protagonista da sua história.
As moças funkeiras são vítimas da exclusão
escolar, da exploração sexual e vendem seu produto “artístico” notadamente para
os homens. Excluídas de outras vivências culturais usam seu corpo, o sexo e seu
vocabulário (qualitativamente e quantitativamente empobrecido) na ilusão de que
provocarão mudanças. Sonham em mudarem não a sociedade, mas suas vidas através
do dinheiro dos seus shows. O que até é possível. Porém, o preço a pagar é a
manutenção de inúmeras outras mulheres na condição de excluídas de uma vida
escolarizada, menos sexualizada e de salários mais dignos. O funk não é, nem
nunca será, uma expressão de um ideal feminista.
sábado, 28 de abril de 2012
Trabalho, vida e legítima defesa
Amilcar Bernardi
Há uma distinção um tanto óbvia, entre
trabalho e emprego. Quando falamos em trabalho, incluímos todas as atividades
humanas que pretendam transformar a natureza. É o esforço proposital que tem
como meio as capacidades físicas ou intelectuais da pessoa. Por outro lado
quando falamos em emprego, o sentido é mais restrito. A pessoa está empregada
quando está a serviço de outro. Tradicionalmente e de forma dicotômica, esta
distinção baseia-se no fato de que alguém tem os meios de produção e outros são
um meio de produção.
A ideia de emprego é historicamente posterior
à capacidade humana de trabalho. Os séculos de convivência entre trabalho e
emprego quase que fundiram os dois conceitos. Essa amálgama conceitual
“normalizou” e normatizou a convivência entre ambos. Porém, a coisa foi além a
ponto de alguém que trabalha, mas não tem emprego, ser visto como uma exceção tornando-se
uma figura no mínimo estranhável. Esquece-se que raramente alguém é desempregado
por desejo próprio, como opção consciente de vida. A questão complica-se ainda mais: com o avanço
civilizatório, o vinculo empregatício tornou-se obrigatório para a manutenção da vida de um número crescente de
pessoas. Poucos (em relação à absoluta maioria)
conseguem sobreviver sem emprego, apenas de seu próprio trabalho. Artesãos,
costureiras, intelectuais, escritores e etc. cada vez menos sobrevivem sem
algum tipo de vínculo remuneratório.
Quem
não tem dinheiro morre ou tende a morrer. Quem não tem emprego não tem (ou
tende a não ter) dinheiro em quantidade suficiente para viver. Seguindo esta
lógica capitalista, como a grande maioria da população não consegue sobreviver
com seu trabalho próprio e precisa vincular-se aos empregadores, então a vida é
para poucos. Os discursos tentam dourar esta pílula indigesta. Penso que todas
as questões que envolvem a vida humana são de primeira importância.
É
legitima defesa reagir a alguém que nos ameasse de morte, quando o Estado está
ausente ou impedido de nos defender. Quando a sociedade, sob a égide do Estado,
não emprega seus cidadãos, ou seja, limita (ou elimina) sua qualidade de vida,
esta mesma sociedade ameaça de morte uma quantidade incrível de pessoas. Portanto,
toda a reação delas a isso é (ou tende a ser) legítima defesa.
domingo, 22 de abril de 2012
A Filosofia e a qualidade de vida
Prof. Amilcar Bernardi
Quando vamos à academia de musculação malhar, não importa com o que vamos nos exercitar. Importante é a própria atividade muscular, sua qualidade e eficácia. Os aparelhos são apenas meios.
Manter a capacidade de aprender e refletir é algo semelhante. O que mais importa é a atividade intelectual que os diversos saberes impõe à mente. Claro que, no sentido moral, é fundamental o conteúdo do que aprendemos. Mas para o desenvolvimento da reflexão, o que é fundamental é a atividade intelectual (ela é a finalidade).
Por esse viés podemos responder a questão: por que ensinar Filosofia nas escolas? Devemos ensinar porque o filosofar é uma excelente atividade para desenvolver a capacidade de aprender. A Filosofia passa a ser nas escolas, um meio (e não um fim em si mesmo) para o desenvolvimento intelectual.
Outro aspecto importante: o estudo das correntes filosóficas tem como efeito prático o disciplinamento dos desejos juvenis. Estudar os grandes pensadores que tanto falam sobre a virtude, a razão, a política e sobre os motivos das ações humanas, leva o aprendiz a melhor gerenciar seu querer.
Pensar é um refletir sobre ideias. A Filosofia alimenta as ideias para um pensamento mais qualificado. O saber filosófico retira o aluno do centro do seu mundinho. Ela o faz imergir no contexto, na realidade. O adolescente entra em contato com outras verdades tão possíveis quanto as suas e, não raro, mais coerentes e complexas.
Ensinar Filosofia é reconhecer que a vida é um problema sem solução, portanto, é a complexidade da vida que fascina. Filosofar é reconhecer que viver (bem viver) é pensar (bem pensar). O jovem precisa saber que sua qualidade de vida é dependente da reflexão sobre o que aprendeu, ou melhor, da sua capacidade (sempre ampliada) de refletir.
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