Há uma distinção um tanto óbvia, entre
trabalho e emprego. Quando falamos em trabalho, incluímos todas as atividades
humanas que pretendam transformar a natureza. É o esforço proposital que tem
como meio as capacidades físicas ou intelectuais da pessoa. Por outro lado
quando falamos em emprego, o sentido é mais restrito. A pessoa está empregada
quando está a serviço de outro. Tradicionalmente e de forma dicotômica, esta
distinção baseia-se no fato de que alguém tem os meios de produção e outros são
um meio de produção.
A ideia de emprego é historicamente posterior
à capacidade humana de trabalho. Os séculos de convivência entre trabalho e
emprego quase que fundiram os dois conceitos. Essa amálgama conceitual
“normalizou” e normatizou a convivência entre ambos. Porém, a coisa foi além a
ponto de alguém que trabalha, mas não tem emprego, ser visto como uma exceção tornando-se
uma figura no mínimo estranhável. Esquece-se que raramente alguém é desempregado
por desejo próprio, como opção consciente de vida. A questão complica-se ainda mais: com o avanço
civilizatório, o vinculo empregatício tornou-se obrigatório para a manutenção da vida de um número crescente de
pessoas. Poucos (em relação à absoluta maioria)
conseguem sobreviver sem emprego, apenas de seu próprio trabalho. Artesãos,
costureiras, intelectuais, escritores e etc. cada vez menos sobrevivem sem
algum tipo de vínculo remuneratório.
Quem
não tem dinheiro morre ou tende a morrer. Quem não tem emprego não tem (ou
tende a não ter) dinheiro em quantidade suficiente para viver. Seguindo esta
lógica capitalista, como a grande maioria da população não consegue sobreviver
com seu trabalho próprio e precisa vincular-se aos empregadores, então a vida é
para poucos. Os discursos tentam dourar esta pílula indigesta. Penso que todas
as questões que envolvem a vida humana são de primeira importância.
É
legitima defesa reagir a alguém que nos ameasse de morte, quando o Estado está
ausente ou impedido de nos defender. Quando a sociedade, sob a égide do Estado,
não emprega seus cidadãos, ou seja, limita (ou elimina) sua qualidade de vida,
esta mesma sociedade ameaça de morte uma quantidade incrível de pessoas. Portanto,
toda a reação delas a isso é (ou tende a ser) legítima defesa.