quarta-feira, 14 de março de 2012

O plantador de árvores e o de rosas.

Prof. Amilcar Bernardi 
Podemos imaginar uma pessoa que planta árvores para derrubá-las e vendê-las.  Sua intenção não é diretamente o cuidado com a planta.  Seu objetivo é o crescimento rápido para vender o mais rápido possível. Este plantador de árvores não deseja a árvore e sim a sua venda, a sua eliminação em troca de dinheiro que, por sua vez, comprará mais árvores para mais venda.
Também podemos imaginar uma pessoa que planta flores ornamentais. Alguém que não as venda. Que quer que sejam belas e saudáveis.  Quanto mais investe nelas, mais belas elas ficam. Quanto mais flores crescem, mais flores ele tem. Quando alguém pede alguma rosa, o plantador de rosas olha desconfiado.  Só dará uma rosa ser for por um bom motivo.
O plantador de árvores vive para o futuro. O presente para ele só existe na espera da futura venda. Este plantador não se interessa pelo organismo vivo que está se desenvolvendo, nada quer saber dele além daquilo que pode aumentar a produtividade. Esta pessoa é externa a vida do que planta. A morte (corte) da árvore é mais importante que a vida dela.
O plantador de flores com o perfil aqui apresentado, vive no presente. Quer a vida e a beleza da rosa. Cada dia é um cuidado especial. Não as vai vender. Não interessa o valor da planta no mercado (o mercado é algo exterior a relação dele com as rosas). O que interessa é a beleza das flores. Uma beleza que faz o plantador feliz. Mais feliz quanto mais vivaz for a planta. É provável que a morte de suas rosas o faça sofrer. Talvez até morrer. Podemos dizer que as plantas ornamentais do exemplo, respondem ao seu cuidador. A linguagem delas é a beleza. A pessoa que cuida sente-se recompensado pelo seu trabalho, pela resposta que recebe. Podemos dizer que se “comunicam”. As rosas são o espelho do trabalho do cuidador. Um elogio a elas também elogia por “espelhamento” o plantador.
O plantador de árvores não se espelha na beleza das árvores. Ele sente-se recompensado pelo valor que delas advém e que o capacita a comprar mais coisas. Sequer o dinheiro das vendas pode satisfazer esta pessoa. O que o satisfaz é compra de produtos e o status social que isso dá. Com certeza o plantador de árvores não quer cuidar delas. Se pudesse, teria muitos empregados que isso fariam. Esta pessoa gosta mais do que obtém da plantação do que o prazer de cuidar das árvores. O tempo presente, como já foi dito, quase não existe: ele quer o futuro. O futuro abate das árvores. Ele deseja o extermínio do que cuidou e plantou.
Quando um aluno pergunta o que é mesmo estudar, eu conto essa história.  Digo que estudar é como o cuidador de rosas. Quem estuda vive no presente. Sente e se orgulha do que faz. Quando eu estudo em casa “presentifico” o que foi dado na aula. Trago para o aqui e agora da minha consciência o que estudei na aula.  Quem verdadeiramente entendeu o que é estudar, planta seus estudos para ver quão belo isso é. Não irá vender o que aprendeu e pouco se importa com o que os outros pensam. Cuidar de rosas e estudar é um ato solitário.  Estudar é “hojeficar” o já visto nas aulas. Sempre é assim: eu aprendo agora. Sempre é agora para quem está em aprendizagem. Não há tempo futuro ou tempo passado! Cada segundo que passa é um segundo presente. Eu aprendo a cada segundo. Quando tenho o insight da compreensão do que eu não compreendia, o tempo parou presentificando o tempo psicológico por milésimos de segundos.
Quando eu ouço alguém dizendo que devemos estudar para ter um futuro melhor, lembro-me do plantador de árvores. Eu sinto que quando falamos em verdadeiramente aprender/estudar, falamos de rosas. Rosas que valem por si mesmas. Que são plantadas para o prazer imediato de produzir vida. O prazer de plantar flores, como no exemplo anterior, é imediato, atemporal, sempre presente.
Não podemos estudar profundamente se somos plantadores de árvores, se estudamos para nos descartarmos logo do que produzimos na colheita das avaliações. Não é possível aprender se queremos apenas ganhar algo no futuro no mercado de trabalho. Aprender é para hoje. Sempre é para hoje.


Um comentário:

  1. Belo texto. Fico a imaginar qual será o futuro que espera às novas gerações.

    ResponderExcluir

Livro Planeta dos macacos de 1963