Prof. Amilcar Bernardi
Estava num encontro de professores após uma breve fala com eles. No final, uma colega perguntou-me a queima roupa: Professor, o senhor é filósofo ou somente dá aulas? Fiquei sem resposta imediata. Preferi escrevê-la. Isso porque a pergunta deixou-me perplexo, pois é muito complexa. É maior do que eu posso responder.
A professora partiu do princípio de que sei o que sou, se sou isso ou aquilo. Confesso que estou longe de saber definir-me. Passei a refletir sobre quem somos. A imagem que surgiu em minha mente foi a de um ramalhete de flores coloridas. Não estou querendo ser poético. Eu acho que as pessoas são assim, buquês de flores. Quero dizer que ninguém é isso ou aquilo, somos um conjunto de “issos” e “aquilos”: como é um ramalhete. Se separarmos todas as flores, excluímos a ideia de ramalhete e falamos de cada flor. Então, somos muitas coisas e se separarmos cada uma, morreremos, pois somos conjuntos de coisas e não um somatório apenas de detalhes. Se algo é de nós retirado, perdemos nossa humanidade complexa.
Quando penso o que sou, vejo um conjunto infinito de contextos e relações. Não posso dizer que sou a flor do centro do ramalhete, ou a mais bonita, ou ainda a que está mais a direita. Sou todas as flores que me fazem. A pergunta da professora sacudiu-me. Quero crer que ela via em mim uma faceta do conjunto de facetas que sou e, ao questionar-me, obrigava-me a escolher alguma flor de mim e afirma-la como sendo o conjunto, o que sou. Para aclarar mais: caso eu afirmasse que sou filósofo, eu teria escolhido as flores da filosofia, ignorado as demais, e as escolhidas seriam apresentadas como um cartão de identificação. Porém, como posso escolher o que apresentar de mim? Se eu escolhesse, retiraria das demais pessoas a liberdade (e a responsabilidade) de escolherem que flores de mim querem apreciar.
Afinal, sou ou não sou filósofo? Ora, como vou saber? Essa resposta não pertence a mim. Pertence a quem escolhe do meu ramalhete as flores da filosofia. Mesmo que eu tivesse todas as garantias institucionais que sou um filósofo, quem vai confirmar é quem lê o que escrevo, quem ouve minha fala. É a história que decide. Melhor dizendo, são as pessoas que decidem quem eu sou na história. Insisto que se sou ou não filósofo, é uma pergunta cuja resposta não cabe a mim. Não tenho essa responsabilidade, nem tenho o poder de decretar se sou ou não. No ramalhete que sou tem muitas flores de estudos, outras tantas das escritas que faço. Também têm flores infantis e bobas. Quem pode dizer de uma pessoa que ela é essa flor ou aquela, escolhendo no ramalhete as flores que mais chamou sua atenção? Dá para perceber a responsabilidade disso, escolher o que a pessoa é?
Após estas reflexões, vou deixar a professora que me questionou em dúvida. Na verdade, vou dividir com ela a dúvida que também tenho.
Devido a enorme influência do idealismo alemão e o romantismo burguês, temos o condicionamento de mitificar as figuras dos artistas e filósofos. Se estamos pensando em termos de fundamento ou estruturas, nos quadros de uma ontologia ou no fundamento da linguagem, pelo menos, estamos filósofos; grandes ou pequenos. Abraços. [ http://www.edubraga.pro.br/ ]
ResponderExcluirAmilcar, o homem está em construção, em constantes mudanças e a cada dia surge algo novo para surpreender. Mas hoje posso dizer que conheço o escritor maravilhoso, o adorável poeta e o contador de histórias infantis que encanta. Preciso conhecer o palestrante e professor. Ah, como amigo eu também aprovo e indico. O filósofo está no poeta, no contador de histórias infantis, no professor, no palestrante, no homem... Com certeza, pois faz parte de sua formação.
ResponderExcluirAbraços poéticos!
Sonia Salim