Prof. Amilcar Bernardi
Um mouse e um PC conectado leva o adolescente ao mundo sem sair do conforto do seu quarto. A infinidade de informações apresenta-se como o horizonte, uma promessa sempre à frente, inalcançável em plenitude. Horizontal também pode ser entendido como ausência de profundidade, não verticalidade. O internauta afoito ganha em horizontalidade, perde em profundidade. É fato que não é possível aprofundar tudo o que a internet oferece em termos de informações.
A erudição pode ser uma boa escolha para os cibernautas. Afinal, nunca as pessoas tiveram tanto acesso às informações, nem nunca o acervo cultural foi tão amplo. Porém, tudo está muito raso, tão superficial que uma pessoa plugada, lincada a tudo, não pode ser chamada de erudita. Este paradoxo chega ser constrangedor.
Ter acesso a tudo que é produzido pela mente humana, não faz de mim um erudito. A amplitude do acesso pode impedir o foco em algo. Afinal, focar pressupõe algum critério de seleção. Hoje, cada critério elaborado é quebrado por uma tecnologia nova que amplia o leque de opções. A maioria das pessoas está vagando sem rumo pelo ciberespaço, da mesma forma que uma pessoa do interior na Avenida Paulista observa os enormes prédios. É um olhar sem critérios para ver.
Uso o termo erudição como uma antítese do que normalmente as pessoas fazem no ciberespaço, pela questão histórica que envolve a palavra. Quando penso em erudição, lembro-me das pessoas de séculos atrás, que liam muito, exercitavam a memória, gastavam horas absorvendo conhecimentos para expô-los com maestria. Os que não tinham tal erudição, ironizavam as pessoas que estudavam apenas para mostrar sabedoria decorada! No Brasil de outrora, poucos se dedicavam a falar bonito, a encantar ouvintes! Estes poucos eram os eruditos, os que estudavam numa concepção estética: era bonito falar, pensar e aparentar conhecimento! Por isso a crença de que os eruditos sabiam pouco (profundidade) e buscavam apenas a beleza da expressão. E hoje? Será que além de perdemos profundidade, também perdemos o senso estético da expressão?
Sou um esteta não por opção. Creio que a quantidade de livros que li retiram a minha liberdade de escolher ser feio ao expressar-me. Portanto, sou um erudito. Adoro falar bem, pensar bem. Leio e estudo muito para fazer bonito. É lindo saber, refletir, argumentar e falar. Uma modelo profissional, escolhe muito bem suas roupas para as fotos. Pode ser muito linda fisicamente, porém, a roupa bem escolhida, a maquiagem adequada fazem a diferença. Quando eu vou falar/escrever, visto minhas idéias com as palavras mais bonitas que posso escolher. Quando vou dizer o que quero, também quero causar prazer estético. Não basta ser inteligente, esperto e ter bom conteúdo, a forma conta muito. Seria hipócrita se dissesse o contrário!
Ao internauta fica esta minha preocupação: ter acesso a tudo faz do sujeito plugado um erudito? Saber muito pouco de muita coisa faz da pessoa plugada uma pessoa que aprende e se expressa de forma bonita? Hoje obtemos informações, na maioria das vezes, rasas de conteúdo, para que? Qual sentido da obtenção de tantas informações? O esquecimento da busca pelo belo faz muita diferença. Ao cidadão comum do ciberespaço, deixo estas perguntas.