É uma relação de longa data. Sinto especial angústia porque não durará muito tempo. Já há consenso que esta relação está fadada ao desaparecimento, apesar de ser uma relação já longeva. A tecnologia digital está tornando obsoleto o papel para impressão de notícias.
Quando leio o jornal impresso, uma eletricidade quase sensual percorre meus dedos. Talvez porque quando eu era adolescente, quase criança ainda, adorava ler a biografia dos grandes poetas brasileiros, os clássicos, como Castro Alves, Fagundes Varela, Cruz e Souza. Percebi que na época desses poetas, os jornais alimentavam a vida deles. Os impressos davam vida pública aos escritos deles. Eu então, inspirado por tais biografias, sonhava em ser como eles. Para isso desejava escrever para jornais, ter uma coluna opinativa.
Pois é, meu primeiro emprego foi num jornal de Santa Maria! Estudante ainda, eu era humilde vigia nesse jornal. Não estudava jornalismo, mas sim Filosofia. Meu lugar de trabalho era bem longe da redação! Mas logo comecei a escrever, por gentileza do jornalista responsável, pequenos artigos nos espaços destinados ao leitor. Como eu disse, é uma relação antiga.
Sinto um chamado forte para a escrita. Como os antigos adolescentes com seus diários. Sinto que tenho que escrever. Inúmeras vezes nem sei o que escrever, mas o chamado é o mesmo: forte, profundo, obscuro, visceral. Invejo os escritos nas colunas opinativas dos jornais (ainda) impressos.
Infelizmente a qualidade está sofrível!
Assim como um maestro conduz os violinistas da orquestra, observado em êxtase pela plateia; ao ler o jornal imagino-me escrevendo, regendo palavras para o deleite intelectual dos leitores. Acredito que o enlevo provocado seria o mesmo, o provocado pelo maestro e o provocado pelo escritor que imagino ser.
Sei que minha visão é romântica. Mas se não houvesse um romance nessa relação, ela não seria encantadora e, portanto, não seria merecedora das palavras que estou amorosamente materializando aqui.
Amo as folhas grandes do jornal. Amo seu cheiro específico. Amo seus acertos e deslizes. A história moderna só foi possível pelos jornais, pelos jornalistas e pelos escritores, que despejaram tantas ideias nas pessoas através desse encantador meio de comunicação social. Tenho uma relação poética com o jornal. Entendo-o como algo além de um informativo: é uma manifestação artística.
Escrevo agora na certeza de que logo a tecnologia digital substituirá totalmente o jornal de papel. Talvez amanhã. Então, já declaro meu amor e saudades antecipadas.
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