Os Cavaleiros da Távola Redonda, segundo a lenda, foram os homens premiados com a mais alta ordem da Cavalaria, na corte do Rei Artur, no Ciclo Arturiano. A Távola Redonda, ao redor da qual eles se reuniam, foi criada com este formato para que não tivesse cabeceira, representando a igualdade de todos os seus membros. (https://pt.wikipedia.org/wiki/Cavaleiros_da_T%C3%A1vola_Redonda)
O que é a política? Entre todos os conceitos possíveis, a
concepção de diálogo se faz presente e dominante. Não faltará nestes conceitos
a advertência de que o diálogo só acontece genuinamente entre iguais. Iguais no
direito de fala.
Acrescento: se a igualdade é determinante também a vontade
de ouvir é, na mesma medida, relevante.
Sem diálogo, há o monólogo. Neste caso, prevalece quem tem
mais poder fático para afirmar o que quer verbalmente impor. Os frágeis
desaparecerão enquanto dissonantes. Então não falarão, sucumbirão para o
diálogo. Por isto, não é possível existir a política no monocórdio das falas dos
que podem falar.
O silêncio dos que não podem falar faz barulho demais!
Quem não quer ouvir também não pode se dizer um político. Será
um ativista talvez; um ideologizado ao extremo, com certeza. A posição
infantilizada de não querer ouvir é cômoda para quem se faz de surdo. O
imobilismo é uma omissão ativa. O sujeito se omite da audição do outro para
poder continuar agindo como sempre agiu. Não evolui. Serve-se de um ativismo,
uma ação sem reflexão. No contexto da covardia em ouvir o que está sendo dito e
do narcisismo de só ouvir a si mesmo, nada pode ser construído de forma
cooperativada. Se não ouve, o sujeito quer
ser obedecido. Para ele a obediência é um valor acima da inteligência e da cidadania. Esquece que a obediência neste formato só se
mantém pelo medo ou pelas vantagens que traz a quem obedece. Esta obediência tem
preço: precisa da crescente violência para manter o medo e das crescentes
benesses para manter as vantagens.
É claro que a política não pode se basear nestes termos:
obediência, medo e vantagens pessoais.
A política virtuosa vive nas mesas redondas. A forma redonda não admite discrepâncias de poder. Não há extremos para alguém se sentar. Os sujeitos das mesas redondas podem circular a vontade entre os membros, mas sempre estarão em igualdade. São pessoas diferentes, mas a igualdade de direito à fala equaliza estas diferenças (aumenta ou diminui as intensidades). Prevalece a igualdade de poder estar ali e prevalece também o igual direito de poder falar. Os diferentes nesta igualdade brilham em suas singularidades.
É regra para a saudável política: ninguém pode deixar de
ouvir nem deixar de falar. Quantos séculos foram necessários para que as mesas
deixassem de ser retangulares e se transformassem em círculos? Posso afirmar: o
tempo de os poderosos aprenderem a falar entre iguais em direitos (de fala), regeu
o (longo) tempo da construção destas mesas redondas.
A política é uma mesa redonda criada pelo tempo das lutas
sociais.
Há quem queira desfazer a simbologia das mesas redondas. Há
quem queira criar extremos para se apoderar de um dos lados extremados. Há quem
queira a desigualdade de direito de fala.
O monopólio da dicção está sendo disputado pelo executivo
federal. Quer desfazer, com os tacapes dos extremos ideológicos e com arroubos
animalescos, os espaços dialógicos. Portanto, quer desfazer a política saudável.
O zoon politikon se torna um animal em extinção nos mais
altos cargos do executivo do nosso país.
Restringe-se os espaços para a política falada, ouvida,
negociada e cooperativada.
Ou assume-se a importância de mesas políticas sem ângulos
de noventa graus, sem quinas que machucam, sem extremidades para serem
dominadas, ou a política sucumbirá dando espaço para a selvageria da luta entre
os mais fortes e os mais fracos, entre os que pode mais e os que podem menos.
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