Encíclica
Rerum Novarum
A encíclica é um documento feito pelo papa dirigido aos
religiosos e aos fiéis. De maneira geral tem cunho de fé, mas também pode se
referir ao mundo, aos problemas sociais e econômicos. O Papa Leão XIII
utilizou-se da Rerum Novarum para orientar o mundo cristão num momento de
grande sofrimento dos trabalhadores e trabalhadoras. O contexto era o da
Revolução Industrial, do liberalismo clássico e das péssimas condições de
trabalho e dos baixos salários. O pensamento de Karl Marx era já bastante
conhecido pelas classes mais esclarecidas.
O
Papa manifestou-se, pois, o contexto social assim o exigia. Leão XIII reconhece
que as pessoas que trabalham estão numa miséria imerecida, entregues a cobiça.
Entretanto, defende a propriedade privada e reage contra o comunismo. A riqueza
e seu acúmulo em excesso, assim como o comunismo e o socialismo, corrompem a alma
e o corpo. O corpo é exaurido pelas
horas extenuantes de trabalho, e alma corrompida pelo afrouxamento dos
costumes, pelo abando das mães trabalhadoras a seus filhos. O comunismo também
corrompe a alma insuflando o ódio e a inveja nos pobres, segundo o Papa.
A
propriedade, segundo Leão XII, estava já prevista por Deus na Bíblia: “Não
cobiçarás a mulher do teu próximo. Não desejarás para ti a casa do teu próximo,
nem o seu campo, nem o seu servo ou serva, nem seu boi, nem seu jumento, nem
bem algum que pertença a teu próximo”.
Apesar
dessa defesa da propriedade, a Igreja não pode deixar de ver a dolorosa
realidade social. A encíclica afirma que
somente o evangelho pode suavizar o conflito. Não é possível aceitar a ideia da
luta de classes, mas a concórdia entre elas.
A diferença social é natural, mas o conflito não. Adverte a
Rerum Novarum que a desigualdade social deve ser algo que venha a favor
de todos. As classes ao unirem-se, como fazem
os organismos complexos, proporcionarão o avanço social, a sinergia entre as
classes. A classe trabalhadora não deve lesar o patrão e deve ser fiel a ele. Por
outro lado, os patrões não podem ver o trabalhador como escravo, inumano, como
coisa, como instrumento do lucro. O patrão deve cuidar do pobre para que este
viva modestamente, mas com dignidade junto com sua família. Com isso o
empregador ajuda ao seu subordinado cuidar das coisas da alma, pois terá o
subalterno menos tempo de trabalho e o salário será o suficiente para a esposa
cuidar da família.
Ser
rico não é pecado, mas o cuidado com a esmola impõe-se. Jesus era o rico
supremo e fez-se pobre. O rico deve controlar seus impulsos ao enriquecimento e
aos prazeres. Para isso o estado é necessário. Leão XIII opõe-se ao liberalismo.
Afirma que o estado tem que propiciar com suas leis a prosperidade pública e o
progresso da indústria, do comércio e da agricultura. O governo observará a sorte do operário e a proteção
à sua dignidade. Pobres e ricos são cidadãos. O trabalho deve assegurar
habitação, vestuário e que as pessoas possam viver através dele. A riqueza do
rico vem do trabalho. O trabalho do pobre vem da riqueza. O trabalho
é a fonte da riqueza das nações. Portanto, uma classe nunca poderá oprimir outra.
O estado cuidará da harmonia entre elas.
A lei estatal reprimirá os abusos preocupando-se primeiramente dos
fracos.
A
greve é desarmonia. A desordem impede o desenvolvimento. É preciso antecipar os
motivos. Identificar a causa e saná-la com sabedoria. O papel dos sindicatos e
das corporações são muito importantes, úteis e necessários. Não é possível a
luta de classes. Por isso o estado deverá dar as garantias mínimas ao
trabalhador.
A
Rerum Novarum produziu uma corrente favorável às políticas sociais ao incentivar
as organizações dos trabalhadores e ao chamar a atenção do estado sobre as
condições dos trabalhadores. Aproximou a ordem econômica da moral cristã. O
cristianismo reconhece a má distribuição do poder e das riquezas. Portanto,
apregoa a encíclica que o salário seja digno e que todos possam encontrar
trabalho. O trabalho é mais que o lucro que traz, é a dignidade do trabalhador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário