Prof. Amilcar Bernardi
O sonho dele era ser livre. Não depender das pessoas. Ser independente, sair por aí sem lilmites. Admirava as aves porque eram livres e viajavam pelos ares sem depender de nada. Batiam as asas e pronto.
Ele ficava olhando os céus e suspirava. No solo tudo era dependência, tudo era cronometrado. Nos céus não, nunca uma nuvem teve horário para navegar pelos oceano do céu. Nunca um condor pediu permissão para voar.
Num dia estranho um sujeito mais estranho ainda, disse a ele que tinha poderes especiais e poderia conceder-lhe o desejo de ser livre, de voar sem pedir nada para ninguém. O sujeito estranhíssimo afirmou que poderia dar a liberdade plena. Só queria algo em troca.
Ele pensou: Este homem maluco é o demônio e quer minha alma. Todas os mitos são assim, alguém oferece algo e pede a alma da pessoa em troca. Então foi logo dizendo: Se na nossa negociação eu não perderei minha alma nem irei para o inferno, o negócio está feito. Achou-se muito prudente ao dizer isso.
O sujeito obscuro sorriu e disse nada ter a ver com almas, demônios ou infernos!
Então ele prontificou-se a ouvir a proposta da criatura nebulosa.
Porém, antes de ouvir a proposta, num passe de mágica, asas possantes e muito belas, douradas e fortes, surgiram em suas costas. Seus pulmões obtiveram novo vigor e quase sem querer alçou voo pelos ares. Quanto mais forte batia as asas, mais sentia a liberdade! Bastava seu querer e ia pelos espaços viajando nem nada temer pelos ares e montanhas. O sol no rosto, o vento nos cabelos e a visão do horizonte sempre a frente o fizeram sentir-se feliz. Sabia que seu sonho havia sido realizado.
O sujeito estranho esperou ele pousar quando quis, então disse-lhe: Eu quero apenas uma coisa de ti. E podes dizer não quando quiseres e tudo voltará como era antes. Eu preciso alertar que essas asas atrofiam se pararem. Tu deves estar sempre exercitando-as, sempre deves ficar curtindo tua liberdade plenamente. Se parares por mais que segundos, elas desaparecerão e voltarás a ser uma pessoa comum, pouco livre, sujeita ao trabalho, aos patrões e tudo mais. Portanto, só isso quero de ti: que não pares nunca!
Ele achou o pedido muito fácil, razoável, afinal, ia ao encontro do seu desejo de ser livre, cada vez mais livre. Foi só pensar nisso e o homem estranho sumiu e as asas permaneceram em suas costas, firmes. Imediatamente alçou voo novamente. Não havia limite algum, nem fome nem sede sentia. Era cem por cento livre. A sensação era indescritível porque podia tudo! Aos poucos percebeu que podia tudo se necessariamente não precisasse de nada!
Quando a solidão bateu e parou para pensar nisso, as asas enfraqueceram e ele voltou, enlouquecido de medo de perdê-las, a voar para curtir sem parar a liberdade plena. Quando deu-se um tempo para pensar se havia outra pessoa como ele, quase não consegue voar novamente. Ressurge o medo de perder tudo que tinha, ou perder o nada que tinha (pois qualquer coisa que tivesse o faria menos livre). Então alçou voos cada vez mais altos e mais rápidos. Desaprendeu a caminhar, esqueceu a fala, não sabia mais respeitar o outro pois... não havia necessidade de outras pessoas! Qualquer necessidade era contrária a liberdade plena.
Ainda em seus ouvidos ressoava: a qualquer momento podes dizer não e tudo será como antes! O terror de que a mágica acabasse fez com que abdicasse da reflexão sobre o que estava acontecendo.
Tão livre ele ficou que ele está preso. Está preso em si mesmo até hoje. Seu voo não tem rumo, não tem sentido. É um triste presidiário com asas. Seu voo só o faz levar suas grades por onde vai.
Ele tão livre está que não vê o que os outros veem quando percebem seu voo. Os olhos dos outros percebem um cubo gradeado com enormes asas musculosas, dentro um corpo cego. A força delas vem do exercício diário de levar aquelas grades enormes e pesadas pelos espaços. Todos ficam arrepiados de susto! Tremem ao ver tal horror. Não querem o mesmo fim. Não querem tal liberdade. Ela aprisiona demais.
É uma maldição tão terrível que agora ao entender o acontecido, viram o rosto para não comtemplarem tal sofrer.
É uma maldição tão terrível que agora ao entender o acontecido, viram o rosto para não comtemplarem tal sofrer.
Esse texto nos leva a uma reflexão profunda de nossas atitudes.
ResponderExcluirMuito bom.
O ser humano é mesmo sempre escravo dos seus desejos.
ResponderExcluirLiberdade é só um sonho.. que por mais que tentamos encontrá-la , é inatingível.
Estamos presos ao tempo.. ao espaço e aos dogmas.
Instigante teu texto. obrigada.