sexta-feira, 7 de maio de 2021

O tirano, a extrema-direita, o outro e os apaniguados

 


 

Podemos dizer que o tirano é alguém egocentrado, injusto e que se mantém pela força. O governo de um tirano elimina a liberdade, que é a essência da democracia e da vida política saudável.

 

Quem quererá viver sob a égide de um déspota?

 

Quem quererá viver sem liberdade?

 

Parece que para ambas as perguntas a resposta óbvia seria: Ninguém!

 

Será? Veremos.

 

Podemos dizer que a tirania é nossa conhecida, afinal tivemos uma ditadura militar por muitos anos. Com este regime ditatorial, as liberdades desapareceram. Para todos? Não. Inúmeras pessoas enriqueceram e viajaram pelo mundo. Alguns Estados viveram em abundância. Empresas cresceram e uma grande emissora de televisão surgiu. Aos opositores dos tiranos o mal, aos apoiadores as benesses.

 

Os amigos do golpe viveram bem, obrigado.

 

A tirania é respeitosa com os apaniguados do tirano. Basta continuar – e enquanto continuar - um afilhado do poderoso e tudo é uma maravilha. Aos opositores, ao contrário, as liberdades individuais são esquecidas e a violência corre solta.

 

Segundo os apaniguados é moralmente exigível denunciar os divergentes. A tortura é viável se o tirano assim entender como tal. 

 

Os defensores do rei que são religiosos, após as sessões de tortura, irão às igrejas com suas famílias sem problema algum. Inclusive, o “deus” destas igrejas também é um tirano. Esse deus agride e destrói seus opositores. Ao invés de um campo de concentração nazista, há o inferno eterno. Para não habitar após a morte o inferno, basta se aliar em vida a este deus e pronto. Aí o inferno será sempre para o outro.

 

Eis as questões dos apaniguados: 

 

- Se o mal do tirano é sempre para o outro, qual o problema que eu tenho com sua existência? Nenhum! Ao contrário!

 

- Se o tirano causa o meu bem, por que eu não o apoiaria? Afinal, o tirano só é tirano para o outro. Para mim, é um amigo e protetor.  

 

- Que me importa se o rei é autoritário, quando o autoritarismo dele é bom para mim?

 

- Que me importa se ele cerceia a liberdade do outro se eu me sinto livre?

 

- Por que eu seria ingrato com o autoritário?

 

- Sabe-se que o tirano age em causa própria, em benefício de seus próprios interesses. Entretanto, se eu e os meus enriquecem ao satisfazerem o tirano, qual o problema se ele também enriquece e se empodera?

 

Percebe-se que a tirania contemporânea não tem muito a ver com a preocupação com o cerceamento da liberdade e da democracia. Sabe-se que mais livre serão alguns com o cerceamento das liberdades de muitos outros.  Para os livres não importa os cativos.

 

A democracia é para os livres. Atualmente ela existe para os apaniguados (únicos que são livres).

 

Há quem acredite que será beneficiado sempre pelo autoritário. Há quem creia que o mal do tirano será sempre para o outro. 

 

Sempre a tirania do tirano atingirá quem é bandido e pobre. O perseguido é o outro (não sou pobre nem bandido).

 

O tirano sabe da minha crença e promete: Contigo nada acontecerá. O meu desejo de mal é sempre para o outro, nunca para ti. Basta que continues comigo. Assim como teu “deus”, serei teu amigo enquanto me louvares e teu inimigo se não me obedeceres.

 

Leitores esta é minha tese:

 

- Tu Manténs um ditador para que a liberdade subsista em máximo grau para ti e para os teus. É por isso que no Brasil o liberalismo convive bem com a extrema direita. Os extremados são tiranos. Tiranos que garantem a liberdade e a “democracia” para quem aceita sua tirania e uma liberdade vigiada.

 

Para o amigo do rei todo o opositor é um traidor imoral que deve ser supliciado e morto.

 

O tirano rei usará de todo seu poder para destruir quem a ele se contrapõe. É como já disse Maquiavel: Se não dá para ser amado, melhor ser temido.

 

Portanto, aos amigos do Rei dá-se tudo. Ao inimigo do rei dá-se a forca.

 

Com esta breve reflexão quero afirmar que tu deves crer que a extrema direita só é burra, violenta e má para os outros. Que nunca será cruel para ti que a serve.  Deves crer que enquanto tu a servires, serás livre e próspero.

 

Saibas: é apenas crença!

 

Mas, percebam os amigos do Rei, acima dele nada há. Portanto, não há nenhuma garantia de que cumpra sua palavra de tirano. Desconfies, portanto.

 

O mal sempre será para o outro, ele diz repetidamente. Será?

 

Quem define quem é “o outro” é o tirano. O próprio Rei é a espada de Dâmocles sobre tua cabeça.

 

Tenhas certeza, um dia a espada pontiaguda vai cair e os apaniguados da hora rirão. Pois será tua vez de ser “o outro”. Tua cabeça trespassada pela lâmina será objeto de “memes” nas redes sociais. Os amigos do rei tirarão fotos com seus caros celulares para ilustrarem o fim dos que devem sofrer. Tu serás o exemplo aos que devem temer a fúria do rei.

 

Espera que tua vez chegará. É apenas questão de tempo.

 

 

 

 

 

 

sexta-feira, 30 de abril de 2021

A estratégia da terra arrasada e os extremistas

 


 Uma estratégia muito eficiente utilizada em grandes conflitos com grandes exércitos, é a chamada terra arrasada. Esta tática foi usada contra Napoleão Bonaparte e contra os exércitos alemães na segunda Guerra Mundial. Ambas no território Russo.

 

Quando um exército avança no território e é muito poderoso, uma boa técnica é destruir a infraestrutura que vai ficando para trás. Destrói-se as plantações, o gado, as estradas e as telecomunicações. Com isso, o invasor não poderá receber auxílios (que se tornam cada vez mais imprescindíveis na medida em que avança em território inimigo).

 

Também, quando mais avança, menos poderá voltar pelo mesmo caminho, agora destruído. Sem alimentos, comunicações e combustíveis, o exército tão poderoso enfraquece e é derrotado. Quanto maior o exército, maior a necessidade de mantimentos e material para manutenção dos equipamentos. Eis a fragilidade dos grandes: sua manutenção.

 

É uma atitude, a estratégia da terra arrasada, extremada e muito sofrida, pois atinge não só os agressores: também a própria nação invadida.

 

Tanto Napoleão quanto o exército alemão sucumbiram a esta estratégia terrível.

 

Ao conversar hoje com uma pessoa politicamente extremista, adepta de golpes de Estado, percebi claramente o uso da técnica da terra arrasada na argumentação maluca que ela desenvolveu.

 

A partir desta conversa refleti sobre as falas dos extremistas que invadem as mídias sociais.

 

Todas de alguma forma usam esta estratégia extremada. Usam falácias que devastam tudo por onde circulam.

 

Em geral percebi que apostam no velho “Todo o político é ladrão”. Caso o interlocutor aceite este argumento, terá a terra atrás de si arrasada. Como isso?

 

Ora, se todo o político é ladrão, todos os demais argumentos que se referirem ao congresso, às câmaras de vereadores, aos senadores, deputados, governadores, prefeitos e aos vereadores serão deslegitimados. Efeito em cascata. Devastador. Portanto, falar em política ficará muito empobrecido, talvez impossível. Tudo foi arrasado!

 

Outro argumento perigoso. Caso aceitemos que os ministros do STF são tendenciosos (suspeitos) porque são indicados pelos Presidentes da República, tudo que for ratificado pela corte será desqualificado. Então, com o mesmo efeito de terra arrasada, tudo que arguirmos, e que foi ratificado pelo STF, não terá força de argumento válido. Afinal, dirá o extremista, vem de uma instituição prostituída. Como consequência desta devastação argumentativa, será mais fácil arguir o fechamento do STF que defender uma decisão dos Ministros da Suprema corte. Então, os argumentos dos interlocutores que se basearem nas decisões da suprema corte serão invalidados. Isso será tão catastrófico que impedirá o diálogo produtivo sobre a justiça. Vitória do extremista!

 

Ainda mais um exemplo das investidas que querem terra arrasada: "Toda a ciência erra inúmeras vezes, então ela é falha. Como é falha, não dá respostas que mereçam confiança". Já perceberam onde isto vai dar? Percebem como este argumento arrasa a terra por onde os dialogantes caminham? Ora, como a ciência falha, conclui o extremista, por que devemos evitar a Cloroquina e similares?  O extremista vibra!

 

Se quem argumenta for imprudente, aceitará inadvertidamente as premissas que terminam em terra arrasada. A partir daí terá dificuldades em sair do caos que se seguirá.

 

Não resisto e vou dar ainda mais um exemplo desta estratégia. Hoje eu ouvi mais ou menos o seguinte (falso) silogismo:

 

"Toda democracia aceita opiniões.

O STF não aceita inúmeras opiniões.,

Logo, o STF não é democrata nem respeita a democracia".

 

Percebem que esta técnica dos extremistas tende a confundir, a arrasar, a nos levar a sofismas sequenciais?

 

É perturbador! Vai arrasando a lucidez, desviando o foco e sempre nos afastando do tema central.  Quanto mais a conversa avança, tanto mais o terreno dos argumentos vai sendo arrasado.

 

O que quer o cidadão extremado? Ele quer destruir o adversário e tudo fará para defenestrá-lo. Mesmo que a destruição dos argumentos se volte contra ele logo ali adiante!

 

O extremista acabará por impor a si mesmo a impossível missão de defender que o fechamento do STF não é um golpe. Terá que fatalmente fugir da evidência da vantagem de seguir a ciência. Terá que gastar muita energia para defender que toda e qualquer opinião é permitida numa democracia, mesmo a ilegal e a antidemocrática!

 

Todo o extremista não quererá voltar sobre seus passos. Ele sabe que destruiu tudo por onde argumentativamente passou. Todo o extremista opta pela terra arrasada.

 

Alerto! O incauto que cair na terra arrasada ficará sem norte. Cercado pela devastação não terá socorro. Sem argumentos, ficará desarmado. Confuso, vai capitular. Inexperiente neste tipo de artimanha de guerra, corre o risco de perder a batalha.

 

Há que se pensar se vale a pena entrar em tal conflito.

 

Caso sejas corajoso para tal embate, aviso: não cede a argumentos do senso comum. Guarda tua lucidez para os embates que se seguirão. Evita por cansaço aceitar argumentos que te farão falta no futuro. Os diálogos com extremistas costumam ser longos, irritantes, frustrantes e, não raro, inúteis.

 

Fica a dica.

Pauta dos costumes. Vamos falar sobre ela?