domingo, 20 de junho de 2021

19J – O que vi e o que não vi.

 

 

 



Em um vídeo anterior (ou artigo, não lembro) eu fiz uma distinção entre opinião de boa-fé e os desvarios. Quanto a opinião de boa-fé defendi que ela está próxima dos fatos, mas ainda não foi ratificada pela ciência. Contrario sensu, os desvarios (ou as opiniões de má-fé)  seriam as falas daqueles que opinam sem se importarem com a realidade objetiva. No extremo, podem até mentir.  

 

Hoje vou escrever minha opinião de boa-fé, ou seja, vou opinar rente aos fatos.

 

O que não vi nas manifestações do dia dezenove de junho? Violência. Nem dos manifestantes, nem das polícias. Não ouvi palavras de ordem contra as instituições. Muito menos discursos em desfavor da Democracia.  Não percebi discriminações em relação as diversas etnias, religiões e sexualidades. Não vi mamadeiras de piroca nem vi apelos a compras de armas.

 

Não vi isto ou aquilo: vi isso + aquilo convivendo harmoniosamente.

 

É claro que eu não estava (fisicamente) em todas as manifestações. Elas ocorreram em todo o Brasil e fora dele também. Mas, as mídias estavam em todos os lugares (e eu espiritualmente junto!). Elas foram meus olhos e ouvidos.

 

O que eu vi nas manifestações de 19 de junho? Vi muitas cores e gente cantando. Vi gente usando máscaras. Ouvi carros de som pedindo o afastamento entre as pessoas  e o uso de álcool nas mãos. Percebi muita organização e a alegria contrastando com a tristeza. De um lado a alegria de sair às ruas por um motivo nobre (a Democracia e a valorização da vida), e de outro, a tristeza de quinhentos mil mortos.  Observei gente jovem e não tão jovem. Ví mais pessoas comuns , músicos e artistas discursando que políticos!

 

Creio que todos que estão lendo este artigo acompanharam estas mesmas coisas.

 

As evidências falam por si. Não desfilou o ódio, nem a homofobia. Não compareceram os apelos contra a Democracia, nem os apelos a favor da liberação do uso de armas. Não estavam lá os terraplanistas, nem compareceram os anticientistas. Não desfilaram as motos caras. Mas vi em São Paulo (se não me falha a memória) ciclistas. Uma cicliciata!

 

Não vi cartazes pedindo o fechamento das instituições. Não vi cartazes dizendo minha bandeira nunca será vermelha. Não vi o Luciano Hang, o ex-juiz Moro, nem Olavo de Carvalho.   Vi gente comum como eu. Vi cartazes exigindo vacinas, auxilio emergial, educação e empregos.

 

Ah! Vi bandeiras vermelhas, muitas bandeiras vermelhas. Mas estavam lá também a bandeira do Brasil e a linda banderia com o arco-íres muito colorido. O que mais havia era bandeiras. Bandeiras de todas as cores. Afinal, ninguém é dono de cor alguma! A cor é do povo.  As cores são do povo como o céu é do arco-iris! (Parafraseando o Poetra Castro Alves que escreveu: A praça é do povo como o céu é do condor).

 

As cores são do povo? Serei eu um comunista?

 

Os povos indígenas, os Quilombolas, os sem-terra, os sem-teto, os sem-vacina, os sem-o-que-comer, os sem-trabalho também estavam lá.

 

De tudo que eu vi e de tudo que eu não vi concluo: não há como confundir quem se manifesta pela civilização e pela socialização de tudo que a sociedade tem de bom, com àqueles que se manifestam pelo ódio, pelas armas, pela segregação e pelo fascismo.

 

Quem ainda não sabe que tipo de manifestação apoia, é por que já decidiu por uma delas e tem vergonha de dizer.

 

Esta é a minha opinião de boa-fé.

 

 

 

 

 

quarta-feira, 26 de maio de 2021

CPI, gravitação universal e a gravitação lógica dos fatos

 


Desde Issac Newton podemos dizer que dois corpos possuindo massa, vão atraírem-se de maneira proporcional às suas massas. Evidentemente que quanto mais distantes entre si, menos ocorrerá esta atração. Newton afirmou ao imaginar a lei da Gravitação Universal:  todos os corpos do universo atraem-se mutuamente com força proporcional ao produto de suas massas e inversamente proporcional ao quadrado de sua distância.

 

Podemos resumir a Lei da atração universal dizendo que quanto maior e mais perto estiver um corpo do outro, maior a atração que ocorrerá entre eles. É isso que ocorre em relação ao sol e aos planetas na Via láctea.

 

A massa de um corpo é a expressão da quantidade de matéria nele contida. Ela é um dos fatores que determina quão intensa é a atração gravitacional existente entre os corpos com alguma proximidade.

 

Para fins de facilitar o entendimento deste artigo, imaginemos que fosse possível desligar esta atração.

 

Cada planeta do nosso sistema solar seria abandonado em um movimento linear afastando-se do Sol. Poderia até haver colisões a depender da trajetória que cada astro assumisse a partir do abandono. Podemos concluir isso por que a força gravitacional que segurava tudo numa ordem, desfez-se. 

 

E se comparássemos um fato testemunhado por alguém a um astro de grande massa? Um astro que com sua atração mantém tudo girando em sua órbita?

 

Imaginemos que um fato ocorrido é como um grande astro, denso e próximo do observador. Ora, por consequência, todos os argumentos sobre o fato orbitarão em torno dele. A força lógico-gravitacional fará com que todos os relatos se aproximem cada vez mais do fenômeno fático, até ficarem orbitando em volta dele sem poderem se afastar.  Em tese, cada observador trará detalhes ao ocorrido a partir do seu ponto de observação. O acontecimento fático tem tal massa de realidade, que todos os argumentos, observações e até as palavras usados nos relatos, tenderão “naturalmente” a não se afastarem do ocorrido. Seria uma espécie de teoria da gravitação universal da lógica dos argumentos fáticos.

 

O fenômeno fático terá tanto mais “massa” quanto maior for a possibilidade de ser observado, percebido pela consciência do(s) observador(es)

 

Resumindo: quanto mais evidente for o fato e mais próximo estiver o observador dele, mais o observador tenderá a referir-se ao evento de acordo com as evidências dele. O observador estará sob o efeito da atração gravitacional lógica, vinculando o relato do observador ao objeto observado.

 

O que ocorreria se a força gravitacional lógica atrativa fosse ignorada? Ora, o(s) observador(es) teria(m) maior liberdade para se afastar das evidências. Inclusive, vários observadores tenderiam a colidir entre si em suas observações, ou até perderem-se em argumentações vãs e distanciadas da realidade do evento ocorrido.  A distância entre observador/observado seria tanta que, após determinado afastamento, as descrições do evento careceriam de realidade, ou seja, não se assemelhariam mais ao evento ocorrido. Ao desgarrarem-se do fato, o referencial para a descrição dele seria apenas a imaginação do observador.

 

Posso dar um exemplo, ainda apelando para a imaginação.

 

O delegado de polícia pergunta: Professor Amilcar, tu estavas presente no momento em que o sujeito A assassinou o sujeito B? Não, não estava. - Respondo. Então a autoridade apresenta as imagens de uma câmera de segurança. Nelas apareço passando ao lado das pessoas envolvidas, ou seja, passo junto ao assassino e ao assassinado.  Sem abalar-me ao ver as imagens fáticas que me desmentem, respondo ao delegado: Sim, sou eu ali. Entretanto, não menti ao negar minha presença no crime. Veja que, senhor delegado, eu não estava ali, eu passava por ali. Perceba o senhor que o verbo estar dá ideia de imobilidade ao observar o crime. Contrário senso, eu estava passando, movimentando-me. Portanto, não menti. Eu não estava ali - imóvel... apenas passava por ali – cruzando o caminho. E passar pela calçada junto ao crime, entenda-me, não é mesmo que estar fixado observando o fenômeno criminoso... Portanto, eu não estava ali. Eu passava por ali.

 

A questão semântica inverossímil proposta no exemplo, tende a distanciar o interrogatório do que realmente aconteceu no crime de fato!

 

Perceba o leitor que não neguei que presenciei o fato, o crime. Apenas deturpei as referências sobre ele. Estou, neste relato maluco, lutando contra a força gravitacional lógica que me atrai ao fato. Notemos que é um fato de grande massa: eu vi o crime, ouvi os gritos e os estampidos da arma de fogo! Apesar disso, tendo a me distanciar lutando contra a força atrativa linear que me liga aos eventos. Tento movimentar-me de forma ilógica ao não negar o fato totalmente, mas afastando-me dele no limite de quase nega-lo. Opto por uma narrativa quase absurda.

 

Lógico seria abandonar-me à força gravitacional do evento (aproximando-me dele) e relatar o que presenciei do ponto de onde eu estava.

 

O delegado do exemplo, caso seja inexperiente, poderá equivocadamente ficar discutindo a semântica dos verbos “estar” presente e “passar” pelo crime. Caso caia neste embuste, a força gravitacional lógica ficará menos poderosa, pois as falas se afastarão dos dois fatos de grande massa: do assassinato e da minha observação presencial dele. Quanto maior a distância permitida - por quem interroga - entre o observador e o observado, menor será a força gravitacional que manterá tracionadas as observações, palavras e interpretações. Caso o interrogatório não esteja orientado pela força gravitacional do evento, o trabalho do delegado será falho e irregular.

 

Nos interrogatórios da Comissão Parlamentar de Inquérito que trata das responsabilidades nas mortes relativas à pandemia (CPI da Covid), evidenciou-se a tentativa dos depoentes de lutar contra a força gravitacional lógica dos fatos.

 

A lógica semântica dos interrogados era mais ou menos a seguinte: Com todo o respeito senhor relator era isso, mas não bem isso... Na verdade era aproximadamente isso. Caso isso tenha acontecido como está sendo demonstrado pelo documento aqui apresentado por Vossa Excelência.

Quanta distância do fato ao discurso sobre ele! Enfraqueceu-se a força gravitacional lógica dos argumentos em relação aos documentos apresentados.

 

O relator da CPI apresenta o fato, o documento, o vídeo ou o testemunho anterior. Então o interrogado tergiversa, fala temas próximos, tangenciando os fatos sem negá-los totalmente. Algo como a Lua tentar negar a atração que sofre pela Terra, sem negar a realidade da grande massa do nosso planeta. Como sabemos, quanto mais massa maior a atração exercida. 

 

O interrogado tenta driblar a lei da gravidade lógica dos fatos.  Mas, a atratividade não pode ser negada. Ela sujeita o depoente (massa menor) à força centrípeta exercita pelos fatos (massa maior). Não há como escapar: havendo fatos, o máximo possível é circular em volta dele, mas nunca realizar trajetórias aleatórias.

 

Os depoentes de má-fé desejam trajetórias aleatórias em relação a força gravitacional exercida pelos fatos.

 

Há que se fazer a distinção entre uma Comissão Parlamentar de Inquérito e o impeachment. A CPI liga-se muito mais aos fatos documentados e aos depoimentos fundamentados. Portanto, a força gravitacional das provas é muito mais poderosa que no impeachment. Este é mais, bem mais, político. Na política, os argumentos seguem mais a lógica do tênis de mesa. Cada um deles espera a “raquetada” do argumento seguinte. Não vale a lógica da força gravitacional para definir trajetórias. O que prevalece é a força empregada no (contra)golpe argumentativo.

 

Chegando ao final deste artigo, quero salientar as tentativas de burlar a lógica dos fatos pelos interrogados. A tentativa de tergiversar quer interromper a força atrativa que liga os depoimentos aos fatos documentados. Os depoentes querem chamar a atenção e dar falsa massa gravitacional aos seus argumentos. Isso em detrimento do que está documentado em áudio, vídeo, mensagens e documentos físicos.  São sofistas no mau sentido do termo. Não merecem credibilidade.

 

No mau sentido porque, neste momento, quero enfatizar os sofistas como mestres da retórica e como pregadores de que a verdade é relativa e mutável.

 

Querem que suas palavras tenham mais massa atrativa que os fatos. Os tergiversadores são apenas asteroides de mínimo conteúdo. Nada atraem para si. Já os fatos são estrelas de enorme massa. Estrelas atraem asteroides... e os consomem com seu calor. É fato.

Quêm lê muito não faz nada. Verdade?