Tive uma experiência interessante com um usuário da rede
social. Entramos em um brevíssimo diálogo sobre um tema de viés filosófico. A expressão “brevíssimo” é um fato. Meu interlocutor
não suportou argumentar além de breves linhas. Encerrou a discussão afirmando
que eu estava confuso sem ter as condições de sair da minha própria confusão. O que me chamou a atenção foi a arrogância.
Ficou claro nas falas que ele acreditava que sabia e que sabia muito. Sabia
tanto que decidiu em sua soberba que não valia a pena me ensinar seu saber.
Não precisamos ir ao Instituto Butantan (principal produtor
de imunobiológicos do Brasil) para sabermos que o antídoto para a arrogância é
a humildade.
Primeiro vou comentar o que a humildade não é. Ela não é
fragilidade ou covardia. Muito menos é submissão a alguma autoridade. Se acalmo
minha volúpia por dizer o que acho que sei, não significa que abster-me-ei de
dizer o que penso num tempo mais adequado. Quando abrando meu vocabulário para
não ser agressivo, quando não saliento meus saberes como se medalhas fossem, ou
ainda, quando não trago à luz do diálogo minha autoridade sobre o tema, estou
sendo apenas civilizado e cortês.
Agora passo ao que ela é. A humildade é uma virtude cortês.
É uma virtude por que é eticamente desejável e é cortês por ser uma atitude
polida. A humildade tende a não ofender ninguém. Ela é irmã da virtude da prudência. Assim
como a arrogância é irmã do desconhecimento de si mesmo. A arrogância é arrogar,
exigir para si uma preponderância sobre o outro. Arrogar para si sem saber se o
outro aceita esta arrogância. Quanta insensatez!
A arrogância é uma armadilha para os incautos. Ao olhar
para si mesmo não vê os perigos do caminho. Reconhecer nossos limites e estar
atento as qualidades da outra pessoa, é no mínimo, uma atitude que denota
inteligência.
A humildade é uma virtude adquirida no convívio com as
pessoas. Toda a cultura tem suas histórias sobre os arrogantes que se deram mal
na convivência social. O arrogante sofre muito. Sofre por que quer estar numa
altitude que não é real. Acredita estar numa montanha e os mortais lá em baixo.
Mesmo se Pedro em relação ao aspecto “X” tivesse uma tremenda
relevância, no aspecto “Y” poderia nada ser. E isto ao mesmo tempo! Exemplifico:
o proprietário do carro de luxo precisa
consertar a porta do veículo que, por defeito, não abre remotamente. Apesar de
todas as suas posses e delírios de poder, está totalmente dependente de outra
pessoa para realizar o conserto. No aspecto “Y” é apenas mais um cliente com
uma porta defeituosa.
O mundo é dialético! Para tudo que somos, outro tanto não
somos. Para tudo que sabemos, outro tanto nada sabemos.
Arrogar para si relevância, sem se importar com a pessoa
que será sobrecarregada com esta soberba, é quase uma psicose! A relação do arrogante
com o mundo exterior a si mesmo está falseada!
A humildade é uma força de caráter que é desenvolvida na
formação das pessoas, da infância até a morte. É uma virtude que deve ser
ensinada. Não só ensinada como um saber, mas entendida como uma qualidade que
deve sofrer manutenção diária. A humildade é uma decisão e um hábito saudável.
A humildade é uma inteligência emocional que só traz vantagens. É uma força
enorme, colossal, que remove montanhas. É uma força que não agride o
interlocutor nem diminui quem se expressa.
A humildade não é uma questão de religião, seita ou
moralidade. É uma questão de civilidade, de reconhecimento da dignidade da
pessoa humana. E, insisto, é uma questão de prudência.
Vou cair no chavão socrático: “Sei (certeza) que nada sei
(incerteza)” – o acréscimo nos parênteses é por minha conta.
O humilde tem certeza que há incertezas. Então, não pode arrogar
vaidosamente para si a arrogância. Ela não é permitida e é perigosa.
Arrogar para si é um ato grosseiro, petulante e uma aposta que somos algo ou
sabemos algo que nos afasta do sujeito que dialoga conosco. Quanta insensatez
grosseira e quanta grosseria civilizatória!
Sejamos humildes.