domingo, 6 de agosto de 2023

Tu és o que comes. Odiador, tu comes hoje o que desejas para o futuro.

 

 

Ouvi várias vezes das pessoas que vendem suplementos alimentares: “você é o que você come”. Um tipo de slogan. Com isso afirmando que tua saúde futura depende do que tu ingeres hoje. Ora, se tu comes alimentos gordurosos, as consequências virão talvez na forma de um infarto. Por outro lado, se nada comes, anorexia, as consequências virão, talvez a morte. A premissa “você é o que você come”, traz implícito que quem se alimenta, pode escolher do que se alimenta. As pessoas, pressupõe estes vendedores, tem esta liberdade. 

 

Mais que isso. Se Jorginho quer ser um maratonista famoso, caberá a ele decidir como alimentará seu corpo na máxima medida do que sua mente idealiza. Se Mariazinha quer ser fisiculturista, caberá a ela buscar alimentos adequados. De certa forma a inteligência, a imaginação, vai à frente escolhendo o combustível adequado ao seu projeto de futuro.

 

Concluo que é o desejo que acontece primeiro. A alimentação é consequência dele.

 

Então eu mudaria a premissa já citada acima. Eu diria: “você é o que você deseja, e por consequência disto, o que você se alimenta”. Pois bem, e se tu não queres nada além do que já tens? Ou se teu sonho é passar despercebido pela existência? Nestes casos, comerás pelo prazer de degustar segundo os apetites corporais, nada além. Então, é provável que arrisques a saúde, ganhes peso, tenhas aquela barriguinha além da média. Mas, perguntarias a ti mesmo: Qual o problema? Como dizia minha avó: mais vale um gosto que um desgosto.

 

Estou falando realmente de alimentação e boa forma? Não!

 

De que alimento minha alma? Estou imaginando que as palavras do dia a dia que leio, ouço, repito e introjeto, são o meu arroz com feijão espiritual. Posso ingerir o mínimo, dando à minha alma apenas o básico. Faço dela, portanto, o mínimo que uma alma pode ser. Faço dela apenas uma alma sobrevivente, pois a mantenho com o mínimo. Isso é ruim? Não dá para dizer a priori. Ora, caso eu deseje uma alma mínima, alimentada com poucas palavras, o arroz com feijão léxico é o suficiente, faz-me feliz. É claro que com esta alma magérrima, não poderei ser o ganhador de um prêmio de oratória. Mas, se não quero ser ganhador, não desejo isso, então sou uma pessoa feliz. Entretanto, como regra geral, se quero ser um escritor, por exemplo, o arroz com feijão léxico não dará as condições para tal desempenho. É preciso bem mais!

 

Vamos refazer o slogan dos vendedores de suplementos alimentares. “Você é o alimento que dá à sua alma”. E mais: “na medida do que você planeja ser no futuro.” É uma questão de escolha (mais ou menos livre).

 

 Em relação aos desejos de futuro de cada um, podemos fazer as reflexões a seguir.

 

Almas alimentadas inadequadamente de palavras, não aguentarão a maratona que os palestrantes se impõem. Almas sem leituras densas, espiritualmente magérrimas, não aguentarão o fisiculturismo dos argumentos pesados! Não é possível à uma alma pobre de esforços de leitura diários, ser palestrante sobre literatura.  Mas, nem todos querem ser argumentadores ou palestrantes! Evidentemente que, para quem não quer atividades que exijam boa alimentação de palavras, na sequência não importará o alimento léxico que dão às suas almas.

 

Percebamos que nossos desejos futuros e nossas utopias, modelam nossa alimentação espiritual.

 

Desconsiderando as exceções, desejar no futuro ser uma pessoa esbelta comendo em demasia, ou desejar ser um poeta não se alimentando de palavras, é, no mínimo, uma insensatez!

 

Quando ouvimos alguém falando impropérios chulos, grosserias e palavrões, podemos imaginar o seu tipo de alimento espiritual. Similar a questão de quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha, podemos nos perguntar: este sujeito não tem vocabulário por que não tem ideias complexas, ou não tem ideias complexas por que não tem vocabulário?

 

O que nos lembra o “imbrochável” discurso de ódio que assola o país.

 

Os odiadores agem como quem quer ser um modelo fitness comendo hambúrgueres, ou como alguém que quer ser um Rui Barbosa, tendo aulas de oratória em botecos de má fama. 

 

Qual o desejo que motiva a (não)alimentação léxica dos odiadores? O que eles querem ser quando crescerem? Se são espíritos anoréxicos, sem boas palavras e parcos de inteligência, seria porque seus desejos de futuro são anoréxicos e pouco inteligentes?  

 

Por fim digo aos leitores: Cuidado com teus desejos de futuro. Eles podem hoje estar estragando tua alimentação léxica. Cuidado, as consequências podem ser espiritualmente fatais.

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Quêm lê muito não faz nada. Verdade?